O EURO NÃO NOS BASTA
Defendi algumas vezes
neste espaço a oportunidade de regressar parcialmente à nossa moeda nacional
sem abandonar o euro. Quanto mais penso no assunto, mais me convenço de ter
razão.
Espreita no horizonte a probabilidade
de termos de sair da zona euro num futuro mais ou menos próximo. Essa decisão,
que nos poderá vir a ser imposta, implicará danos consideráveis à nossa frágil
economia, com uma inflação que rondaria os trinta por cento no espaço de um
ano. Os números não são meus. Foram adiantados há semanas, na televisão, por
Pedro Passos Coelho.
Volto a propor a emissão
anual uma moeda paralela, datada e válida por períodos de três anos, num
montante idêntico ao défice público calculado para o ano em causa. Isso
implicaria substituir os empréstimos externos, que cada ano nos fazem mais
dependentes de terceiros e levam a um serviço de dívida provavelmente
impossível de honrar, pelo recurso coercivo ao crédito interno. Parte dos
pagamentos do Estado Português – por exemplo, os subsídios de férias e de Natal
dos funcionários públicos e pensionistas e uma fração dos subsídios de
desemprego seria paga na moeda nova, que até poderia ter até o nome do velho
escudo.
Obrigando-se o Estado a
convertê-lo em euros a um juro equivalente à inflação ao fim de três anos, as finanças públicas teriam conseguido dinheiro emprestado a juro zero. O
mercado encarregar-se-ia de restabelecer o equilíbrio financeiro. Quem não
quisesse ou não pudesse manter em seu poder os títulos de dívida pública até à
“maturação” poderia transacioná-los. Com a garantia do Estado Português,
dificilmente a desvalorização da nova moeda chegaria aos 5 ou 6 por cento, o
equivalente aos juros apetecíveis de uma obrigação a três anos com retorno assegurado.
Poderei não ter razão, mas
gostaria que alguém me desse ouvidos. Há quem diga que estamos a caminhar para
o abismo. Parece haver solução. É parar, de imediato, de pedir dinheiro
emprestado lá fora. Já pensaram que, poucos meses depois de pormos em prática
esta medida, poderíamos acenar à troika com lenços brancos?
Seria possível fazer às
indispensáveis reformas do Estado a um ritmo menos violento. A nossa pesada carga
fiscal poderia começar a ser aligeirada a partir do orçamento seguinte.
Deixaria de ser fantasia esperar a retoma da economia e a consequente redução
do desemprego.
É mais que tempo de
recuperamos a nossa soberania plena.
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