DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014






   A HISTÓRIA PERTO DE NÓS      


       LEMBRANDO AMÍLCAR E LUÍS CABRAL


               NOTAS RETIRADAS DA CONVERSA COM JUVELINA ROCHA, 
                        IRMÃ DE LUÍS E MEIA-IRMÃ DE AMÍLCAR, 
                        E COM O SEU MARIDO ANTÓNIO ROCHA

                                                 III

Quando Nino Vieira apeou Luís Cabral da Presidência da República, Juvelina encontrava-se em S. Paulo, no Brasil, integrada na Delegação da Guiné-Bissau ao 1º Simposium Afro-Brasileiro de Comércio Externo. Logo que a notícia da deposição e prisão do seu irmão Luís chegou, a postura de um dos elementos da delegação modificou-se radicalmente, passando das mesuras da véspera à falta de respeito.



Juvelina achou prudente não regressar a Bissau. Viajou para Lisboa, onde tinha casa, e ficou a aguardar o desenvolvimento da situação.  O marido e o filho mais velho permaneceram na Guiné, enquanto o mais novo estudava em Portugal. 
     O marido, Abel Ventura, regressou três anos mais tarde. Gerira mal o património, deixando a família em situação económica periclitante.



Quando foi posto em liberdade, Luís Cabral acolheu-se em Cuba, onde viveu de 1981 a 1983. Tentou regressar a Cabo Verde, mas as várias cartas que escreveu a Aristides Pereira a manifestar essa intenção ficaram sem resposta. O governo português, com o apoio do Presidente Ramalho Eanes, ofereceu-lhe asilo político em Lisboa.



Juvelina ainda pensou em regressar a Cabo Verde, onde nascera e vivera os primeiros quinze anos da sua vida. Aristides Pereira, o presidente da República, não a quis de volta. Argumentou que ela não tinha família em Cabo Verde. Aristides era um homem cauteloso. Recearia a sombra do prestígio aliado ao nome “Cabral”.



Luís Cabral chegou a Portugal no início de 1984. A princípio, instalou-se com a mulher e os filhos em casa da irmã.
No ano seguinte, pressionada pelas dificuldades financeiras, Juvelina Cabral voltou à Guiné. Pretendia reaver os seus bens e renegociar o aluguer do prédio da família onde se instalara a Embaixada da China, pagando uma renda que seria vinte vezes inferior ao valor de mercado.  Foi ali que conheceu o que viria a ser o seu segundo marido.



António Rocha é licenciado em Economia pela Universidade do Porto. Ainda adolescente, atreveu-se a emigrar sozinho para Moçambique, onde trabalhou. Voltou três anos depois e retomou os estudos. Ingressou na SACOR (depois PETROGAL) a meio do curso. Em 1985, foi contratado como assessor da Direção Geral da DICOL, empresa monopolista de combustíveis da Guiné-Bissau, então dirigida pelo futuro primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior.
Waldemar Oliveira, ligado às empresas de petróleo em Portugal e na Guiné e casado com Armanda Cabral, constituiu o elo entre António e Juvelina. António passou a estar presente em todos os eventos da família Cabral. Ele e Juvelina acabaram por se apaixonar. Trataram dos divórcios e, em junho de 1990, formalizaram o casamento na Embaixada de Portugal em Bissau.
António Rocha deixou de vez a PETROGAL e passou a trabalhar para organismos internacionais que prestavam ajuda à Guiné. Em 1996, o casal vivia de novo em Bissau. Tornaram-se ambos sócios duma empresa agrícola que acabaram por deter na totalidade, e geriram um restaurante e uma piscina.
Curiosamente, Nino Vieira respeitava a irmã de Luís Cabral e parecia estimá-la. O casal vivia bem. António chegou a ser Assessor Económico da Presidência da República (na dependência direta do Ministro de Estado da Presidência, Fidelis Cabral de Almada) e, durante dois mandatos, Presidente da Escola Portuguesa em Bissau.
Luís Cabral, após a queda de Nino Vieira, ainda esteve na Guiné por um curto período de tempo.
A Guiné-Bissau era um país instável e, a dada altura, o Dr. António Rocha passou a ser mal visto pelos responsáveis pelo poder político.
 Em 2010, mudou-se para Angola, onde trabalhou como consultor e assessor do Governo da Província de Luanda. O casal vive agora em Nova Oeiras.



Luís Cabral o primeiro Presidente da República da Guiné-Bissau, morreu em Torres Vedras, em maio de 2009. Repousa no cemitério do Alto de S. João, em Lisboa. Teria preferido descansar em África.



Ana Maria Cabral, a viúva de Amílcar, vive em Cabo Verde.
Iva, a filha mais velha de Amílcar Cabral e de Maria Helena, nascida na Guiné, é hoje reitora da Universidade Lusófona de Cabo Verde, em S. Vicente.




Amílcar e o seu irmão Luís, tanto quanto sei, sempre se deram bem. Curiosamente, não fui capaz de encontrar uma fotografia em que figurassem juntos.


FOTOGRAFIAS: JUVELINA ROCHA, INTERNET.

AGRADECIMENTOS: A JUVELINA E ANTÓNIO ROCHA, PELA GENTILEZA COM QUE SE DISPUSERAM A PARTILHAR AS SUAS MEMÓRIAS.



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014




  A HISTÓRIA PERTO DE NÓS      


       LEMBRANDO AMÍLCAR E LUÍS CABRAL


               NOTAS RETIRADAS DA CONVERSA COM JUVELINA ROCHA, 
                        IRMÃ DE LUÍS E MEIA-IRMÃ DE AMÍLCAR, 
                        E COM O SEU MARIDO ANTÓNIO ROCHA

                                                  II


Durante a guerra da independência, a presença das mães dos dois líderes revolucionários era tolerada pelo regime português, embora a PIDE se lembrasse ocasionalmente de incomodar a família. Adelina chegou a ser interrogada durante várias horas seguidas. Levavam fotografias ao local de trabalho de Juvelina e pediam-lhe que identificasse as pessoas que conhecia. Um dia, um oficial perguntou-lhe se ela não gostaria de estar antes a secretariar os irmãos. Juvelina disse logo que sim.

LUÍS CABRAL, NO TEMPO DA GUERRA DA INDEPENDÊNCIA

Apesar de viverem relativamente perto uma da outra,Iva e Adelina não se falavam. Conta António Rocha: «A Juvelina diz que se lembra apenas de as duas falarem, após a independência, com o Luís já Presidente, mas só quando eram obrigadas a encontrarem-se.» Faleceram ambas em Bissau.


                         AMÍLCAR NUMA EMBARCAÇÃO ARTESANAL

   No dia da morte de Amílcar Cabral, a mãe encontrava-se em Moçambique (Xai-Xai), de visita ao filho Toy. Adelina Rodrigues Correia estava na Guiné. Para além de chocada, encheu-se de medo de que matassem também o seu Luís. Luís Cabral encontrava-se em Zinguinchor. Viajou nesse dia para Dakar para coordenar a receção de doações, sobretudo de arroz. Soube da morte do irmão na tarde do dia 21. Ao aproximar-se das instalações do partido, deparou com um aglomerado de militantes do PAIGC. Havia muita gente a chorar.
Juvelina viveu na Guiné até ao golpe de estado de João Bernardo Vieira, ocorrido a 14 de novembro de 1980. Fez o Curso Comercial e começou por trabalhar, durante perto de dois anos, como funcionária das Obras Públicas do governo da colónia. Empregou-se depois na Casa Gouveia, pertencente ao grupo CUF. Passou a seguir por várias empresas e acabou por se fixar na Farquímica, do ramo farmacêutico.
  Após o 25 de abril e o reconhecimento formal da independência da Guiné por parte de Portugal, Luís Cabral tornou-se o primeiro presidente da República da Guiné-Bissau.

  JUVELINA COM JOÃO PAULO II (Castel Gandolfo, verão de 1979)

Algum tempo depois, Juvelina foi convidada a integrar a equipa fundadora da empresa estatal destinada a regular a importação e a distribuição de medicamentos, a Central Farmedi. Apoiada por um conselheiro técnico sueco, por um técnico de contas português e por alguns quadros nacionais, criou uma rede de farmácias e ajudou fazer crescer a Farmedi, que se tornou uma das maiores empresas públicas guineenses. O seu trabalho foi reconhecido e Juvelina ascendeu ao cargo de Diretora-geral adjunta.

REENCONTRO COM O PAPA. 
ANTÓNIO ROCHA ESTÁ À DIREITA DA ESPOSA
             Palácio presidencial de Bissau, 28/1/1990

Juvelina casou em 1959 com Abel Ventura e teve 2 filhos, ambos já falecidos (Luís Abel e João Carlos). O mais velho deixou-lhe um neto Chama-se João Carlos Gonçalves Cabral Ventura Rocha e vai nos 21 anos. Foi adotado por António José e criado pelo casal desde os quatro de idade. Queixa-se com ternura e ironia: «é chato ter de explicar que o meu pai é o marido da minha avó!»
  António Rocha tem uma filha do primeiro casamento, agora com 37 anos.

     LUÍS CABRAL, O MARECHAL TITO DA JUGOSLÁVIA E JUVELINA

O pós-guerra foi difícil no jovem país. Uma plêiade de combatentes magníficos nada sabia fazer sem as armas na mão. O conflito armado reduzira a pouco a já frágil estrutura económica do território. Os quadros disponíveis eram maioritariamente cabo-verdianos, mal aceites pela população local. Apesar da ajuda internacional, a incompetência e a corrupção iam tomando parte do País. A verdade é que os colonos faziam alguma falta.
A utopia da ligação fraterna entre a Guiné e Cabo Verde chegou ao fim com certa naturalidade. Em novembro de 1980, Luís Cabral foi deposto, num golpe de estado quase sem derramamento de sangue, pelo seu primeiro-ministro e antigo chefe das forças armadas, João Bernardo (Nino) Vieira.

JOÃO BERNARDO VIEIRA

O ex-presidente foi acusado de abuso do poder e condenado à morte. Uma das acusações era a corresponsabilidade pela execução, em dezembro de 1978, de centenas de militares africanos (quase todos guineenses) que tinham lutado ao lado de Portugal. 


                  COMANDOS AFRICANOS AO SERVIÇO DE PORTUGAL

     Os fuzilamentos foram decididos por um grupo de dirigentes do PAIGC liderados por António Buscardini, chefe da polícia política. Os corpos foram enterrados, em valas comuns, nas matas de Cumeré, Portogole, Cuntima, Farm, Bafatá, Cacheu, Canchungo, Pirada, Bambadinca, Biombo e Bissorã. As razões para justificar estas execuções sumárias, prendem-se com o facto das autoridades instituídas temerem um golpe de estado, liderado por Malam Sanhá, ex-comando da tropa colonial. Buscardini era o todo-poderoso diretor nacional da Segurança do Estado. Suicidou-se, ou foi morto, no dia do levantamento de Nino Vieira.
Luís Cabral acabou por ficar 13 meses em regime de prisão domiciliária, antes de ser autorizado a deixar a Guiné.

LUÍS CABRAL COM GUERRILHEIROS DO PAIGC

     António Rocha conta que Luís Cabral chegara a recear o chefe da sua polícia política. Segundo a família, Luís era um homem romântico, sensível e generoso, sem «queda» para ser um Presidente à moda Africana. No entanto, é bem sabido que, por vezes, o hábito faz o monge. 



FOTOGRAFIAS: ARQUIVO PESSOAL DE JUVELINA ROCHA, INTERNET.





terça-feira, 18 de fevereiro de 2014



   A HISTÓRIA PERTO DE NÓS      


        LEMBRANDO AMÍLCAR E LUÍS CABRAL


   NOTAS RETIRADAS DA CONVERSA COM JUVELINA ROCHA, 
   IRMÃ DE LUÍS E MEIA-IRMÃ DE AMÍLCAR, 
   E COM O SEU MARIDO ANTÓNIO ROCHA


    ANTÓNIO E JUVELINA ROCHA

                                    I

     Foi a minha filha mais velha que me falou da Senhora Dona Juvelina. Sabia que eu estava a escrever sobre a guerra da Guiné e uma das suas doentes era irmã de Luís e Amílcar Cabral. Achei que poderia ser interessante conversar com ela. A Marisa obteve o consentimento da senhora para me comunicar o seu contacto.
Telefonei-lhe. Atendeu-me o marido, que já esperava que eu ligasse. Combinámos encontrar-nos na residência do casal, em Nova Oeiras.
Fui entrevistado umas tantas vezes, ao longo da última década, mas nunca tinha entrevistado ninguém. Armei-me de gravador e máquina fotográfica, antes de me meter no carro.
Dei umas voltas a mais, como é costume, mas lá atinei com a direção.
Fui recebido com extrema gentileza.


                                    JUVELINA ROCHA

Juvelina Maria de Almeida Cabral Rocha e o seu marido António José da Silva Rocha habitam num apartamento confortável decorado com motivos africanos. São ambos casados em segundas núpcias e já passaram dos setenta anos. Estão lúcidos e evidenciam excelentes memórias.
António Rocha é extrovertido e tem uma personalidade dominadora. Juvelina é doce e reservada. Foi necessário algum esforço para não entrevistar apenas o marido…
As informações que me prestaram permitiram corrigir algumas inexatidões no livro que estou a ultimar (A Guerra da Guiné – de Amílcar Cabral ao 24 de abril).


                            JUVENAL CABRAL NA JUVENTUDE

      Falámos da família. O pai de Juvelina, Juvenal António Lopes da Costa (Cabral), foi um povoador. Teve 18 filhos das três mulheres mais importantes da sua vida: nove de Ernestina Soares Andrade, quatro de Iva Pinhel Évora, cinco de Adelina Rodrigues Correia (a única mulher com quem casou oficialmente) e mais uns tantos de relações casuais. 

IVA PINHEL ÉVORA, MÃE DE AMÍLCAR CABRAL





     Enquanto Amílcar Cabral era filho de Iva, Juvelina e Luís Cabral eram filhos de Adelina. 

                   
                 ADELINA E OS QUATRO PRIMEIROS FILHOS
   Juvelina é a menina em frente e à esquerda. Luís, o mais velho, está à direita

    Não consegui saber com exatidão o número dos filhos de Juvenal Cabral. António Rocha fez contas há cerca de 20 anos e terá chegado aos 27. Há também quem fale em 23.


                             ADELINA RODRIGUES CORREIA

Será interessante referir as circunstâncias do único casamento de Juvenal. A fonte é uma entrevista de Pedro Matos a Ana Maria Cabral (viúva de Amílcar), publicada na Internet em 2013. «A madrinha de Juvenal Cabral, D. Simoa, natural de Santa Catarina, tinha uma família com grandes posses, mas não tinha filhos. Assim, resolveu contemplar o afilhado no seu testamento. No entanto, impôs uma condição. Uma família portuguesa de quem era muito amiga veio cá passar umas férias com as suas duas filhas gémeas. Uma delas, Adelina, gostou tanto de Cabo Verde que não quis voltar a Portugal com os pais e ficou em casa da D. Simoa. A condição que a madrinha impôs era que Juvenal casasse com Adelina. Assim, Juvenal teve de deixar a mãe de Amílcar para casar com a portuguesa, levando-a para Bissau. Desse casamento, nasceu Luís, o meio-irmão de Amílcar Cabral.»
Juvelina Cabral Rocha lembra-se bem dos tempos da mocidade, em Cabo Verde. O pai, Juvenal, era bondoso, mas introvertido. Falava pouco e passava muito tempo a escrever.



Amílcar e Toy (filho mais novo de Iva) eram quem mais frequentava a casa de Adelina, em Achada Falcão. Amílcar passava as férias com o pai e com o Luís. Aconselhava Juvelina a estudar. Era simpático, extrovertido e “charmoso”, no dizer da irmã. Já no Liceu, era um conquistador. De acordo com as más-línguas, continuou a sê-lo em Conacri.


                                                               AMÍLCAR CABRAL
No que se refere ao relacionamento entre as mulheres de Juvenal, passo a citar citar António Rocha:
 «Ernestina e a Iva chegaram a viver a poucos metros uma da outra, em Geba. Aí, o Juvenal vivia sozinho numa casa atribuída pelo Governo, pelo seu cargo de professor. A Adelina tinha boas relações com a Ernestina, com quem conviveu em Cabo Verde.»
Com a Iva, as relações foram mais difíceis, apesar de terem sido vizinhas durante bastante tempo.

                 UMA DAS ÚLTIMAS FOTOGRAFIAS DE JUVENAL CABRAL

Quando Juvenal Cabral morreu, em março de 1951, o Luís, que era o mais velho dos filhos de Adelina, interrompeu os estudos e arranjou dois empregos para ajudar a sustentar a família, que vivia pobremente.
Juvelina conheceu bem as duas esposas de Amílcar. Quando veio estudar para Portugal, instalou-se em casa do irmão e tornou-se amiga íntima de Maria Helena.

AMÍLCAR E MARIA HELENA
     Com Ana Maria, deu-se sempre bem, mas nunca foi tão chegada a ela.

FOTOGRAFIA RECENTE DE ANA MARIA CABRAL

     Juvelina recorda que a mãe entristeceu nos últimos de vida, apesar de ver o filho Luís a presidir aos destinos da Guiné. Chorava a morte de Fernando, o filho mais novo, falecido num acidente de viação. Fernando era médico. Estudou na União Soviética e especializou-se na Suécia.
Amílcar Cabral protegeu a família, na medida das suas possibilidades. Ao ser colocado na Guiné, como engenheiro, foi chamando os familiares para junto dele. Veio primeiro Luís Cabral, a quem arranjou emprego na Casa Gouveia. Chegou depois António, o irmão mais novo, e a seguir a mãe, acompanhada pelas filhas gémeas. Juntou-se-lhes, pouco tempo, Adelina Rodrigues Correia com os outros filhos, incluindo Juvelina, que tinha 15 anos. Estava-se em 1953.
Tanto Iva como Adelina ficaram na Guiné após o regresso de Amílcar a Portugal. Ali permaneceram durante toda a guerra. Quando os irmãos partiram para a luta, Amílcar disse-lhes que a missão das irmãs era, sobretudo, cuidar das respetivas mães.
                                                                       (Continua)


     
FOTOGRAFIAS: ARQUIVO PESSOAL DE JUVELINA ROCHA, INTERNET



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014


É com orgulho que publico hoje no decaedela a parte final do Assassínio em Notre Dame, o trabalho literário mais longo que a minha neta Leonor se atreveu até hoje a produzir. Terá tempo para muitos escritos: irá comemorar daqui a algumas semanas o seu décimo quarto aniversário. 

                                                     António Trabulo




                                      CAPÍTULO VI - FINAL


Saiu do quarto e chamou a sua irmã. Disse-lhe para ser verdadeira e não mentisse em nenhum pormenor. Dito isto foi ter com Mitch, que estava naquele momento a brincar com Guillermo.
Após Margaret falar com Mellie, esta foi chamada por Fréderique. Dirigiu-se à sala escura e Lasone começou a falar.
─ As perguntas já muitos lhe fizeram, hoje quero que seja a Mellie a contar-me o que aconteceu e quem acha que foi.
─ Eu quero contar-lhe algo, antes de qualquer outra coisa. Eu tive a falar com Nicole e ela contou-me que se não fosse Joshua a ter o “dom” seria ela. Após isto, disse-me que ela gostaria muito de o possuir. – Disse, mentindo.
─ Vou ter de confirmar esses factos. – Afirmou, já levantado.
Voltou quinze minutos depois e disse:
─ Confirmei o que me disse. Mas se Nicole fosse a culpada, porque lhe diria ela isso?
─ Ela disse-me, para parecer que não é a culpada. Foi tudo um truque. Fingir que queria trabalhar como segurança de Joshua, fingir que era nossa amiga. Além disso, ela trabalha numa AFCC, portanto poderia ter imprimido com as impressoras de lá.
Fréderique pensou em todas as palavras que Mellie lhe havia dito. Ele achava que Nicole não era capaz de tudo aquilo, mas todas as provas apontavam para ela. Levantou-se, chamou Jean e dirigiu-se à sala, onde se encontrava a agente.
─ Nicole, ─ Disse Jean ─ está presa pelo homicídio de Marc MacLarens. Tem o direito de permanecer calada. Tudo o que disser pode e será utilizado contra si no tribunal…
Nicole estava estupefacta. Ela não era culpada. Alguém tinha de ter mentido a Fréderique sobre ela. Pensativa, interrogava-se quem poderia ter sido até que chegou a uma conclusão. A única pessoa de que ninguém suspeitava. O motivo para Joshua estar tão perturbado. A pessoa em que todos confiavam. A pessoa que podia ter alterado todas as provas: Mellie.
Na sala onde estava, Joshua ouviu a confusão, dirigiu-se à grande sala e gritou. Gritou como se não houvesse amanhã.
Todos o contemplaram fixamente.
─ A verdadeira culpada não é Nicole. Quem matou o meu irmão foi a pessoa que eu achava que mais me amava. E essa pessoa foi….
─ Mellie. – Disse Nicole, terminando a frase de Joshua.
Fréderique apenas disse, sem a mirar defronte:
─ Porquê?
─ Marc era uma excelente pessoa. Mas se ele e a minha irmã se casassem, quando tivessem um filho, a criança seria infeliz para sempre. Nunca conseguiria viver uma vida normal. Teria de passar os seus dias num laboratório escuro, tal como Marc e Joshua passaram. Ninguém merecia isso. Quando descobri que o “dom” existia, já o vosso pai tinha morrido. E não precisou de ser assassinado. Ele matou-se, pois possuir tal responsabilidade não beneficia ninguém. O teu pai – disse virando-se para Joshua - pensou que se se matasse o “dom” desapareceria para sempre e nenhum de vocês teria de sofrer o que ele havia sofrido.
Joshua estava naquele momento a pensar que seu pai se tinha matado por ele e por Marc. E isso era mais doloroso do que tudo o resto.
─ Leva-a para longe de mim. – Disse Joshua a Jean.
Após soltar Nicole, prendeu Mellie e saiu juntamente com Fréderique.
Naquele momento, MacLarens não conseguia pensar em nada exceto no seu pai e no seu irmão. Duas pessoas que fizeram tanto por ele a que ele nunca teve tempo de agradecer por tudo. Porque ao tempo só se dá valor quando se nota a sua falta.
Vendo-o assim, Nicole aproximou-se dele e abraçou-o com todo o seu amor.
  Passados seis meses, Joshua e Nicole casaram-se na cerimónia mais bela das suas vidas. Além disso, mudaram-se para o centro de Paris e adotaram Mitch.
  Dois anos depois, a próxima possuidora do “dom” nasceu e o seu nome era Sophie.
  Nesse ano, Joshua abriu uma loja de relógios e Nicole começou a trabalhar na AFCC de Paris.
  Margaret e Francis casaram-se finalmente cinco anos depois da morte de Marc e uns meses depois tiveram gémeos: Marc e Francis Jr.

  Por fim, tudo na vida de Joshua corria bem e assim permaneceu até ao dia da sua morte. E nesse dia, Sophie recebeu o “dom” e ajudou a resolver muitos casos no mundo, sendo hoje conhecida como Sta. Sophie. E depois dela, o “dom” continuou a passar de geração em geração até ao dia em que o mundo não necessitou mais do “dom”, pois aí todos os problemas e preocupações acabaram e tudo devido à coragem e bravura de Joshua MacLarens.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014





Capítulo VI

   Doze dias passados e o ambiente na casa estava igual. Mitchell não referia Joshua e os outros também não falavam dele à sua frente. Mellie e Nicole continuavam sem entender o que se passava naquela casa. Era como se todos tivessem esquecido Joshua, à exceção delas as duas. Até Lasone, quando os ia visitar, não falava de MacLarens. Mas mesmo assim, as duas mulheres não conseguiam parar de pensar nele.
  Até que, no décimo terceiro dia, algo aconteceu. Enquanto todos almoçavam, ouviram-se berros. Seguiram o barulho até alcançarem de onde vinha. Quando chegaram à sala escura, viram Joshua a um canto, acordado e mais pálido do que nunca.
  ─ Joshua, o que aconteceu? – Perguntou Mellie, abraçando-o.
  O homem não respondeu. Apenas virou as costas para Mellie. Algo de mal tinha acontecido e todos naquela casa sabiam disso. Naquele momento, Fréderique estava a mexer nos seus muitos computadores. Ele tinha de encontrar algo para explicar o porquê de MacLarens ter acordado daquela maneira. Até que finalmente, Lasone percebeu que a resposta não estaria nos ecrãs dispostos à sua frente, mas sim no cérebro de Joshua. Ele tinha descoberto o assassino de seu irmão.
  Após esta conclusão, Lasone aproximou-se de MacLarens e expulsou todos os outros na pequena sala apenas com um grito. .
  ─ Joshua ─ Sussurrou ─ o senhor descobriu o causador de todos os problemas?
  Joshua permaneceu calado. Não conseguia falar, nem que fosse apenas uma palavra.
  Lasone estava pensativo. Sabia que MacLarens queria falar, mas também sabia que ele não iria esconder o nome do verdadeiro assassino de todos.              
Repentinamente, Fréderique teve uma ideia. Saiu do laboratório e dez minutos depois voltou, trazendo na mão folhas e canetas.
─ Escreva aqui o nome da pessoa. Assim será mais fácil para ambos. Joshua pegou na caneta e começou a desenhar. Passado um minuto devolveu a folha a Fréderique.
Como a letra estava tremida, Fréderique demorou tempo a examinar e a perceber que aquilo não era uma palavra. Era o desenho de uma mulher. Saiu do laboratório e dirigiu-se à sala. Tinha de falar com toda a gente que ali se encontrava.
─ Para Joshua estar assim tão perturbado, suponho que seja alguém que ele conheça bem. Todas as pessoas que Joshua conhecia bem estão neste preciso momento nesta casa. – Explicou Lasone.
Todos ficaram espantados e começaram a falar desordenadamente. Alguma das pessoas com quem todos eles tinham estado nos últimos tempos era um assassino.
─ Todos os rapazes e homens desta casa saiam imediatamente. Incluindo seguranças e crianças. Hoje só quero falar com as mulheres. – Disse com um tom sério.
Todos obedeceram sem hesitar, pois apesar do seu tamanho, Fréderique inspirava respeito quando falava.              
─ Uma de vocês matou Marc e ameaçou Joshua. - Disse para as três mulheres na sala: Margaret, Nicole e Mellie. Estas olhavam admiradas umas para as outras, quase que em choque. – Quero falar individualmente com cada uma de vocês.
Lasone movimentou-se para uma pequena sala e chamou consigo Margaret.
─ Margaret, você e Marc tinham uma relação das mais belas que vi na minha longa vida. A senhora foi quem mais afetada ficou com a sua morte. E, por isso, estar a fazer-lhe estas perguntas vai custar-me mais do que parece, mas mesmo assim tenho de as fazer.
─ Eu prefiro que faça o procedimento correto. Não quero que haja nenhum tipo de provas contra mim. – Disse, deixando escorrer uma lágrima pela cara.
─ Onde esteve no dia da morte de Marc?
─ Já me fizeram esta pergunta várias vezes desde que Marc morreu e eu hei de sempre responder o mesmo: tive numa viagem de trabalho. E como isto não me retira da lista de suspeitos, não sei o que lhe posso dizer mais.
─ Vá-se embora. Acompanhe os rapazes. Eu sei que a Margaret não seria capaz de matar ninguém, principalmente alguém que ama.

Margaret sentiu-se melhor que nunca. Agora a sua única preocupação era se Lasone culpasse a sua irmã. Mas ela sabia que isso nunca aconteceria, pois Mellie sempre fora uma grande pessoa e nunca mataria ninguém. Mesmo assim, Margaret sentia-se agora mais nervosa.