DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

domingo, 22 de maio de 2022

 

   PRÉMIO ALDÓNIO GOMES


                  DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO




António Trabulo, que deixou recentemente o cargo de  presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos, voltou a ser distinguido pela Universidade de Aveiro com o Prémio Aldónio Gomes. 
A obra premiada foi o conjunto de contos «O Anjo Enredado e outras histórias».
O autor conquistara, em 2014, a III edição do mesmo  Prémio, com o livro «Ofício de contar»
António Trabulo nasceu em Almendra (Foz Coa) e cresceu em Sá da Bandeira (Lubango), em Angola.
Estudou Medicina com uma bolsa de estudos do governo geral de Angola. 
Cumpriu o serviço  militar a bordo do navio hospital Gil Eannes, nos mares da Terra Nova e da Gronelândia. Especializou-se em Neurocirurgia.
A seguir, e graças a uma bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian, treinou microcirurgia durante seis meses em Barcelona e em Bruxelas.
Ocupou diversos cargos nos órgãos diretivos da Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia.
Foi presidente do Colégio da Especialidade de Neurocirurgia da Ordem dos Médicos e da Assembleia Geral do Distrito Médico de Setúbal.
Foi Chefe de Serviço de Neurocirurgia do Hospital dos Capuchos, em Lisboa. Aposentou-se há uma dúzia de anos.
Tem 25 livros publicados. Em concursos literários, ganhou 6 primeiros prémios (romance (2), conto (2), novela e ensaio) e oito menções honrosas, cinco das quais no Brasil e uma na Argentina.


segunda-feira, 16 de maio de 2022

 

       UM LEITOR INCOMUM




A 19 de junho do ano passado, decorreu em Bragança a apresentação do meu livro «O dia em que Deus começou a desmontar o Mundo», vencedor da primeira edição do Prémio da Lusofonia Professor Adriano Moreira.

A cerimónia decorreu com pompa e circunstância. Além do presidente de Câmara e de vereadores, estiveram presentes as “forças-vivas” da cidade, incluindo os chefes da Polícia de Segurança Pública e da Guarda Nacional Republicana, ambos em trajes de gala.

O Doutor Bárbolo Alves, do Centro de Estudos em Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, fez uma apresentação magnífica.

Quando procedia à assinatura de livros, aproximou-se de mim um senhor ainda jovem cujo cabelo começava a ficar grisalho. Vestia de forma comum, mas ostentava uma cruz ao peito.



Não sabia como tratá-lo, nem que escrever na dedicatória. Assumi a minha ignorância e perguntei-lhe quem era.

- Sou o bispo de Bragança e de Miranda do Douro – declarou com simplicidade.

Lá inventei uma curta dedicatória, tratando-o por «Dom».

Ao almoço, ficámos próximos na mesma mesa. O bispo era cortês, inteligente e bom conversador. Trabalhara durante vários anos em Roma, junto do Cardeal D. Tolentino de Mendonça, o único português que junta à púrpura a reputação de excelente poeta.

Eu e a minha mulher não somos crentes, mas respeitamos os modos diferentes de pensar. Comentámos mais tarde:

- Um bispo tão jovem…

- E tão esperto…

- Os bispos são todos espertos…

- Mas eu acho que este vai longe – rematou a minha mulher.

- Já foi…

O Professor Adriano Moreira encontrava-se doente e não pôde deslocar-se a Bragança para assistir à cerimónia. Teve a gentileza de me telefonar mais tarde para casa, para me felicitar pela qualidade da obra a cujo prémio emprestara o nome.

Augurámos a D. José Cordeiro uma progressão segura na carreira eclesiástica, mas não pensámos que fosse tão fulgurante. Identificámo-lo recentemente na televisão como Arcebispo de Braga.

Desejamos uma longa vida ao novo Arcebispo e não nos admirávamos se ele viesse a subir ainda mais alto. Fica-me uma dúvida que, provavelmente, nunca será esclarecida: será que chegou a ler o meu livro?