domingo, 22 de maio de 2022
segunda-feira, 16 de maio de 2022
UM LEITOR INCOMUM
A 19 de junho do ano
passado, decorreu em Bragança a apresentação do meu livro «O dia em que Deus
começou a desmontar o Mundo», vencedor da primeira edição do Prémio da
Lusofonia Professor Adriano Moreira.
A cerimónia decorreu com
pompa e circunstância. Além do presidente de Câmara e de vereadores, estiveram
presentes as “forças-vivas” da cidade, incluindo os chefes da Polícia de
Segurança Pública e da Guarda Nacional Republicana, ambos em trajes de gala.
O Doutor Bárbolo Alves, do
Centro de Estudos em Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, fez
uma apresentação magnífica.
Quando procedia à assinatura de livros, aproximou-se de mim um senhor ainda jovem cujo cabelo começava a ficar grisalho. Vestia de forma comum, mas ostentava uma cruz ao peito.
Não sabia como tratá-lo,
nem que escrever na dedicatória. Assumi a minha ignorância e perguntei-lhe quem
era.
- Sou o bispo de Bragança
e de Miranda do Douro – declarou com simplicidade.
Lá inventei uma curta
dedicatória, tratando-o por «Dom».
Ao almoço, ficámos
próximos na mesma mesa. O bispo era cortês, inteligente e bom conversador.
Trabalhara durante vários anos em Roma, junto do Cardeal D. Tolentino de
Mendonça, o único português que junta à púrpura a reputação de excelente poeta.
Eu e a minha mulher não
somos crentes, mas respeitamos os modos diferentes de pensar. Comentámos mais tarde:
- Um bispo tão jovem…
- E tão esperto…
- Os bispos são todos
espertos…
- Mas eu acho que este vai
longe – rematou a minha mulher.
- Já foi…
O Professor Adriano
Moreira encontrava-se doente e não pôde deslocar-se a Bragança para assistir à
cerimónia. Teve a gentileza de me telefonar mais tarde para casa, para me
felicitar pela qualidade da obra a cujo prémio emprestara o nome.
Augurámos a D. José
Cordeiro uma progressão segura na carreira eclesiástica, mas não pensámos que
fosse tão fulgurante. Identificámo-lo recentemente na televisão como Arcebispo
de Braga.
Desejamos uma longa vida
ao novo Arcebispo e não nos admirávamos se ele viesse a subir ainda mais alto.
Fica-me uma dúvida que, provavelmente, nunca será esclarecida: será que chegou a
ler o meu livro?