DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

 


UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES / RIO DE JANEIRO


           A publicação não é de agora, mas calhou dar com ela outra vez. Em 2019, a UBE concedeu-me duas distinções. Já me honrara em anos anteriores. Entretanto, deixou de promover  concursos internacionais. Seria interessante que os retomasse. 
           A minha análise não foi exaustiva, mas julgo que fui o único português a integrar esta lista.

União Brasileira de Escritores - Ube-RJ

10 de Setembro de 2019  · 

Resultado do Concurso Internacional de Literatura 2019

para livros inéditos

1 – Crônicas – Prêmio Alejandro Cabassa

1o lugar – André Kondo – “ Imortais” – Taubaté – SP

2o lugar – Edweine Loureiro da Silva – “ Crônicas de um latino sol nascente” – Saitama – Japão

3o lugar – Rômulo César Lapenda Rodrigues de Melo – “Tigres domesticados” – Recife – PE

2 – Literatura Infantil (adultos) – Prêmio Stella Leonardos

1o lugar – Ana Cristina Mendes Gomes – “ Um conto do Rio Amazonas”- São Paulo – SP

2o lugar – André Kondo – “ O menino sem nome” – Taubaté – SP

3o lugar – Lilian Deise de Andrade Guinski – “ O avental da confeiteira” – Curitiba – PR

Menções Honrosas :

1 -Monize Luiz Santos – “ Arthur, o bruxo aprendiz” – São Paulo – SP

2 -Evaldo Balbino da Silva – “ Lições de cigarra” – Belo – Horizonte – MG

3 – Luiz Cláudio Machado de Santana – “ Marina e o mar” – Rio de Janeiro/RJ

4 – Roque Aloísio Weschenfelder – “ O espelho de Rita”- Santa Rosa/RS

5 – Maria Teresa Hellmeister Fornaciari – “ A história fugiu”- São Paulo/SP

3 – Literatura Juvenil (adulto) - Prêmio Prof. Maria Antonia da Costa Lobo

1o lugar – Airton Souza – “ Quem tem medo de Matinta?” – Marabá/PA

2o lugar – João Paulo Lopes de Meira Hergesel – “ Petrix ”- Alumínio/SP

3o lugar – Maria Teresa Hellmeister Fornaciari – “ O sumiço da sombra” – São Paulo/SP

Menções Honrosas:

1 – Gisela de Castro – “ Um voo sobre as capitais brasileiras”- Rio de Janeiro/RJ

2 – Luiz Fernando Abreu Araújo – “ O maior amor do mundo” – Rio de Janeiro/RJ

3 – Francisco Hélio de Sousa – “ João Pedro e a esfera inteligente”- Brasília/DF

Poesia – Prêmio Álvares de Azevedo

1o lugar – Marcus Vinicius Quiroga – “ Manual para montar um homem ((ou talvez não) – Rio de Janeiro/RJ

2o lugar – Paulo Rodrigues dos Santos Filho – “ Uma interpretação para São Gregório” – Santa Inês /MA

3o lugar – Celi Barros da Luz – “ Travessia”- Rio de Janeiro/RJ

Menções Honrosas:

1 – Andrea Madeira Boaventura – “ Meu pé- de- verso”- Rio de Janeiro/RJ

2 – Rômulo César Lapenda Rodrigues de Melo – “ Delicatessen”- Recife/PE

3 – Luiza Cantanhêde – “ Pequeno ensaio amoroso” – Santa Inês/MA

Ensaio – Prêmio Moacir Scliar

1o lugar – Mario Luis Grangeia Ramos – “ Pão nosso: portugueses renascidos no Brasil” – Rio de Janeiro/RJ

2o lugar – Airton Souza – “ Rasura no “chão dos lobos” – uma poética de fronteira”- Marabá/PA

Romance – Prêmio Aluízio Azevedo

1o lugar – Jorge Plá Cid – “ Fruto proibido”- Florianópolis/SC

2o lugar – Jorge Cláudio Ribeiro Júnior –“ O assassinato do jornalista suicida”- São Paulo/SP

3o lugar – Jenny Alexandra Rugeroni – “ O ano em que não choveu” – São João da boa Vista/SP

Menções Honrosas:

1 – António Trabulo – “ Ocidental praia lusitana” – Setúbal / Portugal

2 – Vitor Coelho Camargo de Melo – “ Embaixo das unhas”- Brasília/DF

3 – Eury Pacheco Motta Júnior – “ Fiados na esquina do céu com o inferno”- Recife/PE

4 – Leonardo Ferreira Matoso Couto – “Zeo” – Rio de Janeiro/RJ

5 – Gláucia Maria Vasconcellos Vale - “ A ópera da floresta” – Belo Horizonte/MG

Teatro – Prêmio Maria Clara Machado

1o lugar – Luiz Eduardo de Carvalho – “ Evoé, 22!”- Tatuapé/SP

2o lugar – Nathan Sousa – “ O que te escrevo é puro corpo inteiro” – São Gonçalo do Piauí / PI

3o lugar – Álvaro Luiz Cardoso dos Santos – “ A secretária prestimosa” – Amparo/SP

Trova – Prêmio Vicente de Carvalho

1o lugar – Abílio Kac – “ Trovejando” – Rio de Janeiro/RJ

2o lugar – Tito de Abreu Fialho – “ Trovas” – Rio de Janeiro/RJ

Literatura Infanto – Juvenil (criança de 12/18 anos) – Aldravia – Prêmio José Sebastião Ferreira

1o lugar – Júlia Rocha Pereira Lucas – “Aldravia”- Ipatinga/MG

2o lugar - Adrielle Eduanny Bento Fernandes Inácio – “ Do cotidiano nasceram aldravias” - Minas Gerais

Aldravia – Prêmio Gabriel Bicalho

1o lugar – Marcus Vinicius Quiroga – “ Aldravias de sete faces” – Rio de Janeiro/RJ

2o lugar – André Kondo – “ humana flora” – Taubaté/SP

3o lugar – João Batista Gimenez Gomes – “ o céu, a lua e as estrelas”- Belo – Horizonte/MG

Contos – Prêmio João do Rio

1o lugar – João Paulo Lopes de Meira Hergesel – “ Aquele aroma de algodão doce”- Alumínio/SP

2o lugar – Rômulo César Lapenda rodrigues de Melo – “ Ninguém nos olhos” – Recife/PE

3o lugar – António Trabulo – “ Contos com anjos” – Setúbal/Portugal

Menção Honrosa: União Brasileira de Escritores - Ube-RJ

10 de Setembro de 2019  ·

Resultado do Concurso Internacional de Literatura 2019

para livros inéditos:

1 – Crônicas – Prêmio Alejandro Cabassa

1o lugar – André Kondo – “ Imortais” – Taubaté – SP

2o lugar – Edweine Loureiro da Silva – “ Crônicas de um latino sol nascente” – Saitama – Japão

3o lugar – Rômulo César Lapenda Rodrigues de Melo – “Tigres domesticados” – Recife – PE

2 – Literatura Infantil (adultos) – Prêmio Stella Leonardos

1o lugar – Ana Cristina Mendes Gomes – “ Um conto do Rio Amazonas”- São Paulo – SP

2o lugar – André Kondo – “ O menino sem nome” – Taubaté – SP

3o lugar – Lilian Deise de Andrade Guinski – “ O avental da confeiteira” – Curitiba – PR

Menções Honrosas :

1 -Monize Luiz Santos – “ Arthur, o bruxo aprendiz” – São Paulo – SP

2 -Evaldo Balbino da Silva – “ Lições de cigarra” – Belo – Horizonte – MG

3 – Luiz Cláudio Machado de Santana – “ Marina e o mar” – Rio de Janeiro/RJ

4 – Roque Aloísio Weschenfelder – “ O espelho de Rita”- Santa Rosa/RS

5 – Maria Teresa Hellmeister Fornaciari – “ A história fugiu”- São Paulo/SP

3 – Literatura Juvenil (adulto) - Prêmio Prof. Maria Antonia da Costa Lobo

1o lugar – Airton Souza – “ Quem tem medo de Matinta?” – Marabá/PA

2o lugar – João Paulo Lopes de Meira Hergesel – “ Petrix ”- Alumínio/SP

3o lugar – Maria Teresa Hellmeister Fornaciari – “ O sumiço da sombra” – São Paulo/SP

Menções Honrosas:

1 – Gisela de Castro – “ Um voo sobre as capitais brasileiras”- Rio de Janeiro/RJ

2 – Luiz Fernando Abreu Araújo – “ O maior amor do mundo” – Rio de Janeiro/RJ

3 – Francisco Hélio de Sousa – “ João Pedro e a esfera inteligente”- Brasília/DF

Poesia – Prêmio Álvares de Azevedo

1o lugar – Marcus Vinicius Quiroga – “ Manual para montar um homem ((ou talvez não) – Rio de Janeiro/RJ

2o lugar – Paulo Rodrigues dos Santos Filho – “ Uma interpretação para São Gregório” – Santa Inês /MA

3o lugar – Celi Barros da Luz – “ Travessia”- Rio de Janeiro/RJ

Menções Honrosas:

1 – Andrea Madeira Boaventura – “ Meu pé- de- verso”- Rio de Janeiro/RJ

2 – Rômulo César Lapenda Rodrigues de Melo – “ Delicatessen”- Recife/PE

3 – Luiza Cantanhêde – “ Pequeno ensaio amoroso” – Santa Inês/MA

Ensaio – Prêmio Moacir Scliar

1o lugar – Mario Luis Grangeia Ramos – “ Pão nosso: portugueses renascidos no Brasil” – Rio de Janeiro/RJ

2o lugar – Airton Souza – “ Rasura no “chão dos lobos” – uma poética de fronteira”- Marabá/PA

Romance – Prêmio Aluízio Azevedo

1o lugar – Jorge Plá Cid – “ Fruto proibido”- Florianópolis/SC

2o lugar – Jorge Cláudio Ribeiro Júnior –“ O assassinato do jornalista suicida”- São Paulo/SP

3o lugar – Jenny Alexandra Rugeroni – “ O ano em que não choveu” – São João da boa Vista/SP

Menções Honrosas:

1 – António Trabulo – “ Ocidental praia lusitana” – Setúbal / Portugal

2 – Vitor Coelho Camargo de Melo – “ Embaixo das unhas”- Brasília/DF

3 – Eury Pacheco Motta Júnior – “ Fiados na esquina do céu com o inferno”- Recife/PE

4 – Leonardo Ferreira Matoso Couto – “Zeo” – Rio de Janeiro/RJ

5 – Gláucia Maria Vasconcellos Vale - “ A ópera da floresta” – Belo Horizonte/MG

Teatro – Prêmio Maria Clara Machado

1o lugar – Luiz Eduardo de Carvalho – “ Evoé, 22!”- Tatuapé/SP

2o lugar – Nathan Sousa – “ O que te escrevo é puro corpo inteiro” – São Gonçalo do Piauí / PI

3o lugar – Álvaro Luiz Cardoso dos Santos – “ A secretária prestimosa” – Amparo/SP

Trova – Prêmio Vicente de Carvalho

1o lugar – Abílio Kac – “ Trovejando” – Rio de Janeiro/RJ

2o lugar – Tito de Abreu Fialho – “ Trovas” – Rio de Janeiro/RJ

Literatura Infanto – Juvenil (criança de 12/18 anos) – Aldravia – Prêmio José Sebastião Ferreira

1o lugar – Júlia Rocha Pereira Lucas – “Aldravia”- Ipatinga/MG

2o lugar - Adrielle Eduanny Bento Fernandes Inácio – “ Do cotidiano nasceram aldravias” - Minas Gerais

Aldravia – Prêmio Gabriel Bicalho

1o lugar – Marcus Vinicius Quiroga – “ Aldravias de sete faces” – Rio de Janeiro/RJ

2o lugar – André Kondo – “ humana flora” – Taubaté/SP

3o lugar – João Batista Gimenez Gomes – “ o céu, a lua e as estrelas”- Belo – Horizonte/MG

Contos – Prêmio João do Rio

1o lugar – João Paulo Lopes de Meira Hergesel – “ Aquele aroma de algodão doce”- Alumínio/SP

2o lugar – Rômulo César Lapenda rodrigues de Melo – “ Ninguém nos olhos” – Recife/PE

3o lugar – António Trabulo – “ Contos com anjos” – Setúbal/Portugal

Menção Honrosa:

1 – André Kondo – “ Mundo cão” – Taubaté/SP

1 – André Kondo – “ Mundo cão” – Taubaté/SP

 

quarta-feira, 9 de novembro de 2022



ENTREVISTA 

https://www.ua.pt/pt/noticias/12/78347

João Correia

Distinguido com Prémio Aldónio 

Gomes e inspirado por Eça, 

Camilo, Hemingway e Borges

08 novembro 2022
  • O mais recente galardoado com o Prémio Literário Aldónio Gomes – iniciativa da Universidade de Aveiro , na verdade, distinguido pela segunda vez com este Prémio, terminou recentemente o seu mandato à frente da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos. António Trabulo publicou 26 livros. Atualmente é um autor sem editora e critica a evolução do mercado livreiro.

    António Trabulo fotografado no início da Sessão de Abertura do Ano Letivo na UA 2022-2023



    Que significado tem para si esta segunda distinção com o Prémio Aldónio Gomes?

    Naturalmente, estou grato à Universidade de Aveiro e sinto-me orgulhoso. Eu comecei a escrever tarde, perto dos 60 anos… Já tive seis primeiros prémios, dois segundos prémios e um terceiro no Brasil, mais umas tantas menções honrosas e não tenho editora! Tenho diversos livros por publicar. É essa a razão que leva um velho como eu a concorrer a prémios.

    Tem sido uma opção sua não ter editora?

    Não… Ainda, há dias, enviei um conjunto de ensaios para duas editoras. Estou à espera de resposta. É natural que nem sequer me respondam!...

    Não é estranho um autor tão premiado não ter editora?

    Não é estranho… é uma questão de mercado. Nos últimos anos, foram acabando as mercearias de bairro e foram, também, acabando as pequenas editoras, ocorrendo a concentração em grandes grupos económicos. Os autores sem grande projeção dificilmente podem ver as suas obras editadas.

    O mercado livreiro evoluiu, portanto, de modo negativo…

    Foi péssimo! Muitas distribuidoras também fecharam. Em tempos, cheguei a criar uma editora… mas falhei por causa da distribuição.

    A experiência como médico e neurocirurgião transpira para a sua obra literária?

    Como dizia um amigo meu, quando trato doentes sou médico; quando escrevo sou escritor. Mas é impossível não haver alguma influência da minha experiência como médico na minha escrita. Talvez uma influência mais notória seja a capacidade síntese devido ao treino adquirido na apresentação de muitos trabalhos científicos – de pouco valor, certamente… mas em número considerável. Outro amigo meu dizia que eu tenho “uma escrita anopiana”, ou seja, sintética.

    Os médicos acabam por ter uma experiência bastante rica… mas não só os médicos. Assim acontece, também, com os advogados, os padres… No entanto, em Portugal, há muitos escritores médicos.

    Quais são as suas referências na literatura? Escreveu um diário ficcionado e romanceado de Camilo Castelo Branco. Este nome maior da literatura portuguesa é uma referência sua?

    Sim, Camilo é seguramente uma referência! Quando pensei escrever a sério, voltei a ler, entre outros portugueses, Camilo, Eça de Queirós e Aquilino Ribeiro. Entre os autores estrangeiros que me influenciaram estarão certamente, Tchekov, Hemingway, Caldwell, Steinbeck e Jorge Luís Borges.

    Foi, também presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos (SOPEAM)…

    Deixei o cargo há quatro meses. A razão é simples: fiz 79 anos e não é altura para começar novos mandatos.

    …A partir dessa experiência que teve como presidente da SOPEAM, como vê a evolução da literatura e da arte feita por médicos em Portugal?

    Bem, temos o António Lobo Antunes, que nunca se aproximou da SOPEAM. Talvez seja de ir fixando o nome do Miguel Miranda. Fernando Namora integrou durante vários anos as direções da SOPEAM.

    Curiosamente, ocupei, uma dúzia de anos mais tarde, no navio hospital Gil Eannes, o mesmo camarote em que estivera Bernardo Santareno.



    quinta-feira, 15 de setembro de 2022

     

                                         

       CROMELEQUE DOS ALMENDRES

    Nas minhas deslocações para o sul do país, pouco antes de passar por Évora, avistei repetidamente a placa com a indicação “Cromeleque dos Almendres”.

    Havia duas palavras que me atraíam: “cromeleque”, pelo gosto que sempre tive por história e arqueologia e “Almendres”, por ter nascido em Almendra, no Alto Douro. Os termos são quase idênticos e pouco comuns. Existe (pelo menos) uma aldeia chamada Almendra em Espanha.

    Ou por ter pressa, ou por me dar a preguiça, segui sempre adiante, sem tomar a decisão de conhecer o sítio arqueológico. Calhou este ano, por altura da confraternização anual da família Trabulo, realizada habitualmente pela Páscoa e interrompida durante dois anos por causa da pandemia.


    Calhou desta vez. No regresso de Évora, eu, a minha mulher, a minha irmã Mariazinha e o meu cunhado Sindulfo deixámos o itinerário principal e entrámos na freguesia de Guadalupe. Seguimos por uma estrada com troços a pedir melhoramento e lá chegámos ao cromeleque. Dista cerca de uma dúzia de quilómetros de Évora e está classificado como Monumento Nacional.


    Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa, cromeleque é um monumento megalítico constituído por vários menires dispostos em círculo. Presto aqui homenagem a Uderzo e a Goscinni, por supor que ninguém terá feito tanto pela divulgação da cultura megalítica como as imagens de Obelix transportando os seus menires.

    Não contei os menires. A Wikipedia fê-lo por mim. São 95 e “constituem o mais importante monumento megalítico da Península Ibérica e um dos mais relevantes da Europa”.   

    De acordo com a National Geographic (Portugal), o conjunto começou a ser montado no sétimo milénio a.C, sendo (pelo menos) 2.000 anos mais antigo que o de Stonehenge.


    Curiosamente, o nosso pequeno Portugal é invulgarmente rico em sítios arqueológicos importantes. Muitos deles localizam-se no Alentejo. A região de Évora, em particular, conta com diversos vestígios arqueológicos construídos entre o início do Período Neolítico e a Idade do Ferro. Existem na mesma zona outros círculos de menires, como o cromeleque da Portela de Magos, em Montemor-o-Novo. Ainda não tive ocasião de o conhecer.

    Terá sido a obediência a crenças profundas que levou o povo a transportar os pesadíssimos menires e a alinhá-los segundo os pontos cardeais, tendo na devida atenção os equinócios e os solstícios. A religião estava associada à astronomia e esta fornecia indicações para os trabalhos agrícolas. Os cromeleques foram lugares de culto pré-cristão.

    Nas sociedades de agricultores, as atividades que exigiam grande concentração pessoas (como as guerras e as construções religiosas de maior envergadura) decorriam geralmente nos intervalos que mediavam entre as sementeiras e as colheitas, ou entre estas e as sementeiras posteriores.

     

                         Vista aérea. Fotografia de João Ferreira, National Geographic Portugal

    O Cromeleque dos Almendres é de conhecimento recente e foi descoberto quase por acaso. Quando, em 1964, o investigador Henrique Leonor de Pina se ocupava a traçar a Carta Geológica de Portugal, foi informado por um trabalhador da existência de um local onde existiam diversas pedras estranhas. A desmatação de uma encosta pôs à vista um conjunto monumental de menires, pelos quais ninguém se interessara durante milénios. Encontrou-se na vizinhança um número reduzido de pequenas peças arqueológicas. 

    O cromeleque situa-se no interior de uma propriedade privada. Os donos cederam o espaço do monumento à Câmara Municipal de Évora, para visita livre.

    Os estudos que se seguiram mostraram que os menires foram sendo reunidos ao longo de três milénios. A construção terá decorrido em três etapas. Os grandes blocos de rocha eram colocados em escavações que iam até solo fixe e amparados por pedras pequenas.

    No final do Período Neolítico Antigo (no VI milénio a.C.) foi construído o cromeleque inicial. Era formado por três círculos concêntricos de monólitos de pequenas dimensões.

    Ao longo dos dois milénios seguintes (Período Neolítico Médio) nasceu, a oeste da construção original, um novo monumento, constituído por menires dispostos em duas elipses também concêntricas.


                                          Gravura retirada da Wikipedia

    O termo da construção remonta ao Período Neolítico Final, no III milénio a. C. Alguns menires foram decorados com relevos ou gravuras.

    O período extraordinariamente prolongado em que prosseguiu a construção e o alargamento do santuário (suponho que será legítimo denominá-lo deste modo) permite supor que terão acontecido numa época de relativa estabilidade política, religiosa e social.

    Não é certo que tenham existido na proximidade do monumento povoações mais ou menos satélites, como aconteceu em Stonehenge. Os arqueólogos continuam a procurá-las.


    Em anos recentes, Mário Varela Gomes organizou no local diversas campanhas arqueológicas que permitiram elevar alguns dos monólitos tombados e recolocá-los nas suas posições de origem. Os investigadores esforçaram-se por determinar a localização primitiva de cada um. Uns tantos menires desapareceram. Alguns foram aplanados e transformados em estelas.

    O conjunto deixou de ser utilizado no Período Calcolítico. O homem aprendia a trabalhar os metais, começando pelo cobre. As grandes inovações técnicas acompanham-se de mudanças culturais significativas. Algumas divindades terão sido abandonadas. Chegava ao fim a cultura megalítica atlântica.

    As comparações com Stonehenge são inevitáveis.


                                    Stonehenge(Internet)

    O monumento pré-histórico do condado de Wiltshire, na  Inglaterra, é bastante mais recente, tendo sido edificado entre os anos 3.000 e 2.000 a.C. quando o Cromeleque dos Almendres deixara já de ser utilizado.

    Os menires de Stonehenge são maiores que os de Guadalupe e dão-lhe um aspeto mais impressionante. Uns tantos sustentam rochas aplanadas que esboçam a configuração de mesas. Alguns pesarão 50 toneladas. Diversos blocos de rocha pesando 4.000 quilos cada foram arrastados da região montanhosa de Gales, que dista 24 quilómetros. Tratou-se dum esforço extraordinário.

    Na vizinhança de Stonehenge encontraram-se sepulturas com restos humanos cremados. Não há indícios que apontem para que o Cromeleque dos Almendres tenha sido usado como necrotério. No entanto, os milhares de anos decorridos sobre a sua fundação e o seu abandono poderão ter apagado qualquer vestígio de enterramento.

     


    O Cromeleque dos Almendres é o maior conjunto megalítico estruturado conhecido na Península Ibérica. É também um dos mais relevantes da Europa. A sua existência demonstra a importância do papel dos nossos antepassados na criação da cultura europeia.

    O tempo apaga quase tudo. No entanto, eu, que não sou crente, senti, ao entrar no perímetro do cromeleque, a mesma carga emotiva que nos faz vibrar a alma ao transpor as portas de algumas catedrais.

     

     

    Apoio bibliográfico:

    Morato Gomes, Filipe. Cromeleque dos Almendres, menires megalíticos às portas de Évora. https://www.almadeviajante.com » Alentejo» Évora. Atualizado em 1/9/2022. 

    https:// www. natgeo.pt » História. Cromeleque dos Almendres: o Stonehenge português. 2019/09.

    https://www.cm-evora.pt » Cromeleque dos Almendres.

    Wikipedia

     


    terça-feira, 23 de agosto de 2022

                             

    WINSLOW HOMER


    Aqui há tempos, a minha neta telefonou-me a dar conta de um facto curioso.

    - Avô! Hoje vi no cinema um dos teus quadros.

    Quando se fala dos “meus” ou dos “teus” quadros pode levantar-se alguma confusão. Neste caso, o quadro é meu porque o comprei e não porque o pintei. Não saberia fazê-lo.

    Creio que o filme se chamava The Forger (O falsificador). O quadro era A Corrente do Golfo, de Winslow Homer. 

    Eu possuo uma cópia assinada por Ann Waterschoot.






    Passaram anos. Há poucas semanas, o meu neto mais velho deslocou-se a Nova Iorque e visitou o MOMA (Museum of Modern Art). Não precisou procurar muito para encontrar o Gulf Stream. O cinema incrementou lhe a notoriedade e a pintura estava em grande destaque. O Francisco enviou-me um SMS brincalhão.


    - Acho que a pintura original é a tua. A do MOMA não passa de uma imitação.

    Claro que não é… Homer nasceu em 1836 e faleceu em 1910, enquanto Ann van Waterschoot ainda não foi honrada com uma página na Wikipedia e parece bastante viva nas redes sociais.

    Não tenho conhecimentos que me permitam formular uma opinião minimamente abalizada sobre a qualidade da cópia. Exponho-a aqui, abaixo do original. Não fui capaz de reproduzir as cores com exatidão.  Poderei apenas dizer que a tela me agrada, o que é uma redundância, pois não a compraria se não gostasse dela.

    A pintura está cheia de simbolismos aparentemente fáceis de interpretar.

    A figura central é um pequeno barco de madeira em que se vê, semideitado, um pobre pescador negro. Parecem ter-lhe calhado quase todos os infortúnios que o demónio se diverte a espalhar no caminho dos navegantes. A embarcação está à deriva, pois tem o mastro e o leme quebrados. Está cercada por tubarões que aguardam por uma refeição fácil. Um deles quase se roça no casco e parece ronronar. A curta distância, desenvolve-se um furacão. Mais longe, uma escuna afasta-se sem dar conta da desdita que parece estar prestes a enlutar outra vez as ondas do mar das Caraíbas. São demasiados azares para um único negro.

    Homer terá produzido esta pintura dramática a partir de esboços que foi traçando durante as viagens que fazia periodicamente às Bahamas. Ilustra a ideia da fragilidade do ser humano face à força incomensurável da Natureza. 

    Há dias, desloquei-me a Madrid na companhia de familiares próximos e instalei-me num hotel barato junto às Puertas del Sol.  Visitei novamente o Museu do Prado, que tivera ocasião de conhecer anos atrás, quando da grande exposição dedicada a Jerónimo Bosch (a que os espanhóis chamam El Bosco). A mostra incluía As Tentações de Santo Antão, que residem habitualmente no Museu das Janelas Verdes, em Lisboa.

    No dia seguinte fomos travar conhecimento com o Museu Thyssen. Trata-se duma instituição recente (tem apenas 30 anos) de que eu apenas ouvira falar nos jornais e na televisão.

    Curiosamente, encontrei ali alguns quadros de Winslow Homer, quase todos de pequenas dimensões. Fotografei cinco com o tele móvel, mas posso ter deixado escapar alguns. Dada a baixa qualidade das imagens que obtive, substituí-as por outras retiradas da Internet.  


    Waverly Oaks (1864)

     

    Duas mulheres passeiam entre carvalhos frondosos. 
    Nos quadros da época figuram poucos homens. Tinham sido enviados para a guerra.  

             

    Retrato de Helena de Kay (1872)

    quarta-feira, 8 de junho de 2022

     

           MORREU PAULA REGO


    Não sou entendido em Arte e conheço há muito a relatividade do valor dos gostos pessoais. Tenho, contudo, opiniões.

    No meu imaginário, Paula Rego e Amadeo de Souza Cardoso figuram entre os maiores  artistas plásticos portugueses de todos os tempos. 

    Sobre alguns quadros da Paula, lembro-me de ter escrito, já não sei em que livro, frases que serão parecidas com estas: 

    “Nenhum pintor despiu as mulheres tão completamente como Paula Rego. É que não se limita a retirar-lhes a roupa. Despe-as ainda da capacidade de produzir ilusão e de seduzir. No limite, rouba-lhes também a esperança".

    Paula Rego morreu. Teve uma vida longa e extraordinariamente produtiva.

    Fica a sua obra.

    Assim, não perdemos tudo.  

                  

    domingo, 22 de maio de 2022

     

       PRÉMIO ALDÓNIO GOMES


                      DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO




    António Trabulo, que deixou recentemente o cargo de  presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos, voltou a ser distinguido pela Universidade de Aveiro com o Prémio Aldónio Gomes. 
    A obra premiada foi o conjunto de contos «O Anjo Enredado e outras histórias».
    O autor conquistara, em 2014, a III edição do mesmo  Prémio, com o livro «Ofício de contar»
    António Trabulo nasceu em Almendra (Foz Coa) e cresceu em Sá da Bandeira (Lubango), em Angola.
    Estudou Medicina com uma bolsa de estudos do governo geral de Angola. 
    Cumpriu o serviço  militar a bordo do navio hospital Gil Eannes, nos mares da Terra Nova e da Gronelândia. Especializou-se em Neurocirurgia.
    A seguir, e graças a uma bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian, treinou microcirurgia durante seis meses em Barcelona e em Bruxelas.
    Ocupou diversos cargos nos órgãos diretivos da Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia.
    Foi presidente do Colégio da Especialidade de Neurocirurgia da Ordem dos Médicos e da Assembleia Geral do Distrito Médico de Setúbal.
    Foi Chefe de Serviço de Neurocirurgia do Hospital dos Capuchos, em Lisboa. Aposentou-se há uma dúzia de anos.
    Tem 25 livros publicados. Em concursos literários, ganhou 6 primeiros prémios (romance (2), conto (2), novela e ensaio) e oito menções honrosas, cinco das quais no Brasil e uma na Argentina.