DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

                         

WINSLOW HOMER


Aqui há tempos, a minha neta telefonou-me a dar conta de um facto curioso.

- Avô! Hoje vi no cinema um dos teus quadros.

Quando se fala dos “meus” ou dos “teus” quadros pode levantar-se alguma confusão. Neste caso, o quadro é meu porque o comprei e não porque o pintei. Não saberia fazê-lo.

Creio que o filme se chamava The Forger (O falsificador). O quadro era A Corrente do Golfo, de Winslow Homer. 

Eu possuo uma cópia assinada por Ann Waterschoot.






Passaram anos. Há poucas semanas, o meu neto mais velho deslocou-se a Nova Iorque e visitou o MOMA (Museum of Modern Art). Não precisou procurar muito para encontrar o Gulf Stream. O cinema incrementou lhe a notoriedade e a pintura estava em grande destaque. O Francisco enviou-me um SMS brincalhão.


- Acho que a pintura original é a tua. A do MOMA não passa de uma imitação.

Claro que não é… Homer nasceu em 1836 e faleceu em 1910, enquanto Ann van Waterschoot ainda não foi honrada com uma página na Wikipedia e parece bastante viva nas redes sociais.

Não tenho conhecimentos que me permitam formular uma opinião minimamente abalizada sobre a qualidade da cópia. Exponho-a aqui, abaixo do original. Não fui capaz de reproduzir as cores com exatidão.  Poderei apenas dizer que a tela me agrada, o que é uma redundância, pois não a compraria se não gostasse dela.

A pintura está cheia de simbolismos aparentemente fáceis de interpretar.

A figura central é um pequeno barco de madeira em que se vê, semideitado, um pobre pescador negro. Parecem ter-lhe calhado quase todos os infortúnios que o demónio se diverte a espalhar no caminho dos navegantes. A embarcação está à deriva, pois tem o mastro e o leme quebrados. Está cercada por tubarões que aguardam por uma refeição fácil. Um deles quase se roça no casco e parece ronronar. A curta distância, desenvolve-se um furacão. Mais longe, uma escuna afasta-se sem dar conta da desdita que parece estar prestes a enlutar outra vez as ondas do mar das Caraíbas. São demasiados azares para um único negro.

Homer terá produzido esta pintura dramática a partir de esboços que foi traçando durante as viagens que fazia periodicamente às Bahamas. Ilustra a ideia da fragilidade do ser humano face à força incomensurável da Natureza. 

Há dias, desloquei-me a Madrid na companhia de familiares próximos e instalei-me num hotel barato junto às Puertas del Sol.  Visitei novamente o Museu do Prado, que tivera ocasião de conhecer anos atrás, quando da grande exposição dedicada a Jerónimo Bosch (a que os espanhóis chamam El Bosco). A mostra incluía As Tentações de Santo Antão, que residem habitualmente no Museu das Janelas Verdes, em Lisboa.

No dia seguinte fomos travar conhecimento com o Museu Thyssen. Trata-se duma instituição recente (tem apenas 30 anos) de que eu apenas ouvira falar nos jornais e na televisão.

Curiosamente, encontrei ali alguns quadros de Winslow Homer, quase todos de pequenas dimensões. Fotografei cinco com o tele móvel, mas posso ter deixado escapar alguns. Dada a baixa qualidade das imagens que obtive, substituí-as por outras retiradas da Internet.  


Waverly Oaks (1864)

 

Duas mulheres passeiam entre carvalhos frondosos. 
Nos quadros da época figuram poucos homens. Tinham sido enviados para a guerra.  

         

Retrato de Helena de Kay (1872)