WINSLOW HOMER
Aqui há tempos, a minha neta telefonou-me a
dar conta de um facto curioso.
- Avô! Hoje vi no cinema um dos teus quadros.
Quando se fala dos “meus” ou dos “teus”
quadros pode levantar-se alguma confusão. Neste caso, o quadro é meu porque o comprei
e não porque o pintei. Não saberia fazê-lo.
Creio que o filme se chamava The Forger (O falsificador). O quadro era A Corrente do Golfo, de Winslow Homer.
Eu
possuo uma cópia assinada por Ann Waterschoot.
Passaram anos. Há poucas semanas, o meu neto mais velho deslocou-se a Nova Iorque e visitou o MOMA (Museum of Modern Art). Não precisou procurar muito para encontrar o Gulf Stream. O cinema incrementou lhe a notoriedade e a pintura estava em grande destaque. O Francisco enviou-me um SMS brincalhão.
- Acho que a pintura original é a tua. A do
MOMA não passa de uma imitação.
Claro que não é… Homer nasceu em 1836 e
faleceu em 1910, enquanto Ann van Waterschoot ainda não foi honrada com uma
página na Wikipedia e parece bastante viva nas redes sociais.
Não tenho conhecimentos que me permitam formular uma opinião minimamente abalizada sobre a qualidade da cópia. Exponho-a aqui, abaixo do original. Não fui capaz de reproduzir as cores com exatidão. Poderei apenas dizer que a tela me agrada, o que é uma redundância, pois não a compraria se não gostasse dela.
A pintura está cheia de simbolismos
aparentemente fáceis de interpretar.
A figura central é um pequeno barco de madeira em que se vê, semideitado, um pobre pescador negro. Parecem ter-lhe calhado quase todos os infortúnios que o demónio se diverte a espalhar no caminho dos navegantes. A embarcação está à deriva, pois tem o mastro e o leme quebrados. Está cercada por tubarões que aguardam por uma refeição fácil. Um deles quase se roça no casco e parece ronronar. A curta distância, desenvolve-se um furacão. Mais longe, uma escuna afasta-se sem dar conta da desdita que parece estar prestes a enlutar outra vez as ondas do mar das Caraíbas. São demasiados azares para um único negro.
Homer terá produzido esta pintura dramática a partir de esboços que foi traçando durante as viagens que fazia periodicamente às Bahamas. Ilustra a ideia da fragilidade do ser humano face à força incomensurável da Natureza.
Há dias, desloquei-me a Madrid na companhia
de familiares próximos e instalei-me num hotel barato junto às Puertas del
Sol. Visitei novamente o Museu do
Prado, que tivera ocasião de conhecer anos atrás, quando da grande exposição dedicada
a Jerónimo Bosch (a que os espanhóis chamam El Bosco). A mostra incluía As Tentações de Santo Antão, que residem habitualmente no Museu das Janelas
Verdes, em Lisboa.
No dia seguinte fomos travar conhecimento com
o Museu Thyssen. Trata-se duma instituição recente (tem apenas 30 anos) de que eu
apenas ouvira falar nos jornais e na televisão.
Curiosamente, encontrei ali alguns quadros de Winslow Homer, quase todos de pequenas dimensões. Fotografei cinco com o tele móvel, mas posso ter deixado escapar alguns. Dada a baixa qualidade das imagens que obtive, substituí-as por outras retiradas da Internet.
Waverly Oaks (1864)
Duas mulheres passeiam entre carvalhos frondosos.Nos quadros da época figuram poucos homens. Tinham sido enviados para a guerra.
Retrato de Helena de Kay (1872)