DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

    
    AVÔ! VI NO CINEMA UM DOS TEUS QUADROS!



Invento histórias. Publiquei dois volumes de contos e estou a preparar outro.
Curiosamente, dão-se na vida acontecimentos que chegam a suplantar a imaginação. 
Há dias, a minha neta Leonor chegou a casa e disse:
- Avô! Vi no cinema um dos teus quadros!
Não sei pintar. Os poucos quadros que possuo foram comprados. Aguardei as explicações.
- É o dos tubarões!
Adquiri aquela tela há uma dúzia de anos num antiquário da Rua de S. José, em Lisboa. Espreitei-a antes, com dias de intervalo. Com as obras de arte, acontece o mesmo que com algumas mulheres: engraçamos com elas mas não o suficiente para as trazermos para casa. Acabam por cansar a vista.
Aquela está na parede da sala e divide as opiniões da família. Eu gosto dela. A São e as nossas filhas não a apreciam muito. Figura um homem negro deitado na coberta dum barco pequeno. Não há terra à vista. O leme quebrou-se e o mastro também. O mar está agitado e, ao fundo, nasce um tornado. Um navio à vela perde-se no horizonte. Em primeiro plano, assomam os tubarões. Não têm ar feroz. Lembram gatos a ronronar. O quadro poderia chamar-se “Rodeado de perigos” mas Winslow Homer, que o pintou em 1889, deu-lhe o nome de Gulf stream (A corrente do golfo). Encontra-se no Museu Metropolitano de Arte, em Nova York.
O filme em que a minha neta o reconheceu intitula-se “The Forger” e trata da falsificação de obras de arte. A pintura que tenho em casa não é uma falsificação. Trata-se duma obra assinada por A. Waterschoot.


Alfons Waterschoot nasceu em 1931 em Turnout, na Bélgica, e faleceu em 2008. Fiz uma busca na Internet para saber se tinha em casa uma assinatura de valor. A conclusão a que cheguei foi que o quadro valia aproximadamente o preço baixo que dei por ele.
Ficou a história, que não deixa de ser interessante. E a pintura lá está, na parede da minha sala…