ENTREVISTA
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João Correia
Distinguido com Prémio Aldónio
Gomes e inspirado por Eça,
Camilo, Hemingway e Borges
08 novembro 2022
Que significado tem para si esta segunda distinção com o Prémio Aldónio Gomes?
Naturalmente, estou grato à Universidade de Aveiro e sinto-me orgulhoso. Eu comecei a escrever tarde, perto dos 60 anos… Já tive seis primeiros prémios, dois segundos prémios e um terceiro no Brasil, mais umas tantas menções honrosas e não tenho editora! Tenho diversos livros por publicar. É essa a razão que leva um velho como eu a concorrer a prémios.
Tem sido uma opção sua não ter editora?
Não… Ainda, há dias, enviei um conjunto de ensaios para duas editoras. Estou à espera de resposta. É natural que nem sequer me respondam!...
Não é estranho um autor tão premiado não ter editora?
Não é estranho… é uma questão de mercado. Nos últimos anos, foram acabando as mercearias de bairro e foram, também, acabando as pequenas editoras, ocorrendo a concentração em grandes grupos económicos. Os autores sem grande projeção dificilmente podem ver as suas obras editadas.
O mercado livreiro evoluiu, portanto, de modo negativo…
Foi péssimo! Muitas distribuidoras também fecharam. Em tempos, cheguei a criar uma editora… mas falhei por causa da distribuição.
A experiência como médico e neurocirurgião transpira para a sua obra literária?
Como dizia um amigo meu, quando trato doentes sou médico; quando escrevo sou escritor. Mas é impossível não haver alguma influência da minha experiência como médico na minha escrita. Talvez uma influência mais notória seja a capacidade síntese devido ao treino adquirido na apresentação de muitos trabalhos científicos – de pouco valor, certamente… mas em número considerável. Outro amigo meu dizia que eu tenho “uma escrita anopiana”, ou seja, sintética.
Os médicos acabam por ter uma experiência bastante rica… mas não só os médicos. Assim acontece, também, com os advogados, os padres… No entanto, em Portugal, há muitos escritores médicos.
Quais são as suas referências na literatura? Escreveu um diário ficcionado e romanceado de Camilo Castelo Branco. Este nome maior da literatura portuguesa é uma referência sua?
Sim, Camilo é seguramente uma referência! Quando pensei escrever a sério, voltei a ler, entre outros portugueses, Camilo, Eça de Queirós e Aquilino Ribeiro. Entre os autores estrangeiros que me influenciaram estarão certamente, Tchekov, Hemingway, Caldwell, Steinbeck e Jorge Luís Borges.
Foi, também presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos (SOPEAM)…
Deixei o cargo há quatro meses. A razão é simples: fiz 79 anos e não é altura para começar novos mandatos.
…A partir dessa experiência que teve como presidente da SOPEAM, como vê a evolução da literatura e da arte feita por médicos em Portugal?
Bem, temos o António Lobo Antunes, que nunca se aproximou da SOPEAM. Talvez seja de ir fixando o nome do Miguel Miranda. Fernando Namora integrou durante vários anos as direções da SOPEAM.
Curiosamente, ocupei, uma dúzia de anos mais tarde, no navio hospital Gil Eannes, o mesmo camarote em que estivera Bernardo Santareno.
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