DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quinta-feira, 16 de maio de 2013



                              AMÍLCAR CABRAL
                 
                                    XXXI

            AS ORIGENS. JUVENTUDE EM CABO VERDE




      O pai de Amílcar Cabral reassumiu, em maio de 1932, as funções de professor, tendo sido colocado em Mansoa. A situação profissional instável e as pressões da madrinha puxavam-no para Cabo Verde. Quando foi punido, por razões que se desconhecem, com uma pena de suspensão de quinze dias de vencimento, Juvenal pediu a aposentação por invalidez e, em Novembro desse ano, instalou-se com a família nova e os três filhos trazidos da Guiné (Amílcar, Armanda e Arminda) em Achada Falcão, no município de Santa Catarina, ilha de Santiago. Assumiu as funções de administrador das propriedades de Simoa, com a herança à vista.
Amílcar Cabral acompanhou o pai.
A mãe ficou mais um ano na Guiné. No regresso, depois de algumas disputas, conseguiu a custódia dos filhos.
       Em data que não ficou registada, Juvenal herdou os bens da madrinha. A crise que assolou as ilhas e as questões com a hipoteca depressa o devolveram à pobreza.
       Não se sabe onde fez Amílcar Cabral a instrução primária. Poderá ter começado a estudar em Bissau. É possível que o pai lhe tenha dados explicações. O miúdo passou cerca de um ano em Achada Falcão. Tanto ali como na vizinha Santa Catarina existiam, à data, escolas primárias. Terá estudado na cidade da Praia em 1933 e 34, não se sabe se no ensino oficial, doméstico ou particular. Terá concluído o ensino primário em 1936/37. Entrou para o liceu no ano seguinte (1937/1938), com os 13 anos exigidos por lei. A partir dessa altura, as informações registadas permitem seguir regularmente o seu percurso escolar.
       O Liceu Gil Eannes era o único existente em Cabo Verde. Quem ia das outras ilhas estudar para S. Vicente, alojava-se em casa de familiares ou em pensões mais ou menos improvisadas. Iva não tinha lá família que pudesse albergar o filho, nem dinheiro para pagar o alojamento. Mudou-se para o Mindelo, com as crianças.
        Curiosamente, dias depois do começo das aulas, o liceu foi extinto por Decreto-Lei e chegou a estar fechado durante algum tempo. A intenção do governo da Metrópole era transformá-lo numa escola prática de agricultura, pesca, artes e ofícios. A pressão dos pais dos alunos fez recuar as autoridades coloniais.
    O currículo escolar da altura girava em redor da Portugalidade. O objectivo era levar os miúdos cabo-verdianos a acreditarem que eram tão portugueses quanto os da Metrópole. 
       Alguns anos mais tarde, Amílcar Cabral iria escrever: Nunca fui português. Gosto muito de Portugal e do povo português. Houve um tempo na minha vida em que eu estava convencido que era português, porque assim é que me ensinaram, eu era menino. Mas depois aprendi que não.
      A influência do pai e da mãe na formação intelectual do futuro líder do PAIGC terá sido limitada. Amílcar era mais chegado à mãe. “Marcou a sua maneira de estar no mundo e a sua conduta social”. Do pai terá herdado a tendência para as letras e o hábito de pensar pela própria cabeça.
       Foi sempre bom aluno e começou cedo a escrever poesia. Em 1942, um poema seu intitulado “1º de dezembro” foi classificado em primeiro lugar num concurso liceal. As suas qualidades de liderança deram cedo nas vistas. Amílcar foi sempre chefe de turma. Em 1940 – 41 foi presidente da Associação Desportiva do Liceu do Mindelo. Ajudou ainda a organizar o teatro do liceu.
       O pai foi-se distanciando. Mudou-se para a Praia, por volta de 1943. Em Abril de 1954, regressou à Guiné, na companhia do filho Ermelindo. 

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