DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

POETAS DE QUEM EU GOSTO


Alguns dos Vencidos da Vida. Guerra Junqueiro, sem barba, está à direita



GUERRA JUNQUEIRO – UM POETA MENOR?


Abílio Guerra Junqueiro faz parte do grupo relativamente restrito dos poetas que conheceram a glória em vida.
Nasceu em Freixo de Espada à Cinta em 1850 e morreu em Lisboa em 1923. Entre uma data e outra, frequentou a Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra e acabou por se formar em Direito. Foi secretário dos governos civis de Angra do Heroísmo e de Viana do Castelo. Fez-se eleger deputado pelo monárquico Partido Progressista. Participou nas reuniões dos Vencidos da Vida. Após o Ultimatum, cortou relações com Oliveira Martins e dedicou-se à causa da República. Foi Ministro de Portugal na Suíça entre 1911 e 1914. Escreveu muitos livros de versos. Teve ainda tempo de se dedicar à lavoura nas suas terras da Barca de Alva.
Os restos mortais do poeta estão depositados no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
Homem impulsivo, de rima fácil e de frases afiadas, poeta satírico e panfletário, ficou conhecido como profeta da República, de quem esperava a cura de todos os males que afligiam Portugal. No entanto, a sua militância política, enquanto poeta, terminou cedo, por volta de 1896, com o livro Pátria. Hoje, acodem-nos mais facilmente à memória os versos intimistas em que combina o panteísmo com uma espécie de cristianismo.
Ainda em vida de Guerra Junqueiro se levantaram contra ele as primeiras vozes críticas. António Sérgio, em 1920, chamou-lhe “grande versejador e pequeno espírito”.
Será um poeta menor? Fernando Pessoa elogiou-o. Muitos admiram nele, como Jacinto do Prado Coelho, “o modo cativante como exprime sentimentos comuns”.
Guerra Junqueiro tratou com ternura e musicalidade a língua portuguesa. As crianças entendem-no. Quantas gerações de adolescentes o terão seguido ao escrevinhar os primeiros versos?






Referências: Dicionário da Literatura, Figueirinhas, Porto, 1992.
Fotografias: várias fontes.









REGRESSO AO LAR

Ai, há quantos anos que eu parti chorando
Deste meu saudoso, carinhoso lar!
Foi há vinte? Há trinta? Nem eu sei já quando...
Minha velha ama que me estás fitando,
Canta-me cantigas para me eu lembrar!

Dei a volta ao mundo, dei a volta à Vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh! A ingénua alma tão desiludida!
Minha velha ama, com a voz dorida,
Canta-me cantigas de me adormentar!

Trago d`amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!
Minha velha ama que me deste o peito,
Canta-me cantigas para me embalar!

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
Pedrarias d`astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!

Como antigamente, no regaço amado,
(Venho morto, morto!) deixa-me deitar!
Ai, o teu menino, como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!

Canta-me cantigas, manso, muito manso...
Tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
Que a minh`alma durma, tenha paz, descanso,
Quanto a Morte, em breve, me vier buscar!

1 comentário:

  1. Trabulo:

    Escolheste bem quanto ao Guerra Junqueiro. Haja quem saia do estribo de alguns eleitos (com muito mérito, é certo!), para outros menos badalados por questão de modas.
    Continua, que o blog está a suplantar.
    Um Abraço

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