PABLO NERUDA
Pablo Neruda é pseudónimo. Ricardo Basoalto nasceu em 1904 em Parral, no Chile. Seguiu a carreira diplomática e foi cônsul em Rangun. Conheceu, em Buenos Aires, Garcia Lorca e, em Barcelona, Rafael Alberti. Em 1953 fez construir, em Santiago do Chile, a sua casa depois chamada “La Chascona”, para se encontrar com a sua amante Matilde, a quem dedicou “Os versos do Capitão”.
Marxista e amigo de Salvatore Allende, Neruda faleceu em Santiago em 1973, de cancro da próstata, pouco depois da queda e morte de Allende. Segundo Isabel Allende, terá antes morrido de tristeza. Tinha-lhe sido atribuído, dois anos antes, o Prémio Nobel de Literatura.
OS VERSOS DO CAPITÃO
Este amor nasceu num agosto dum ano qualquer, durante as temporadas que eu fazia, como artista, pelas localidades da fronteira franco-espanhola.
Ele chegava da guerra de Espanha. Não vinha vencido. Era do partido da Pasionaria, alimentava grandes ilusões e esperanças para o seu pequeno e distante país, na América.
Nunca soube se o seu verdadeiro nome era Martínez, Ramírez ou Sánchez. Eu chamava-lhe simplesmente Capitão.
Havia em mim um passado que ele não conhecia. Tinha ciúmes e acessos de fúria incontíveis. Não era capaz de amar de outra maneira.
Escrevia versos que me faziam subir ao céu e baixar ao próprio inferno, com a crueza das suas palavras, que me queimavam como brasas.
Rosario de la Cerda
O VENTO NA ILHA
O vento é um cavalo:
ouve como ele corre
pelo mar, pelo céu.
Quer levar-me: escuta
como percorre o mundo
para levar-me para longe.
por esta noite apenas,
enquanto a chuva abre
contra o mar e contra a terra
a sua boca inumerável.
Escuta como o vento
me chama galopando
para levar-me para longe.
Com tua fronte na minha
e na minha a tua boca,
atados os nossos corpos
ao amor que nos abrasa,
deixa que o vento passe
sem que possa levar-me.
O TEU RISO
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobre ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Referências:
Os versos do capitão
Campo das letras, Porto, 2001.
Tradução de Albano Martins.
Fotos: 5 e 7: do autor
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