DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

POETAS DE QUEM EU GOSTO

FEDERICO GARCIA lORCA
Lorca nasceu em Fuente Vaqueros (Granada) em 1898. Estudou Direito em Madrid e foi amigo de Luís Buñuel e de Salvador Dali. Após a licenciatura, viveu nos Estados Unidos da América e em Cuba. De regresso a Espanha, criou o grupo de teatro La Barraca. Socialista e homossexual assumido, foi ameaçado pelos conservadores espanhóis após a rebelião de Franco. Refugiou-se em Granada, mas foi preso pouco tempo depois. Segundo um político católico da época, era mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver. No Verão de 1936 foi executado pelos nacionalistas, com um tiro na nuca. Não houve julgamento prévio. O seu corpo foi abandonado na Serra Nevada.
Hoje é considerado por muitos o maior autor espanhol desde Cervantes.
Os dois primeiros poemas que apresento datam de 1921 e o terceiro foi escrito antes de 1924. Federico tinha então vinte e poucos anos anos e ganhava balanço para a produção do assombroso Romancero Gitano que havia de publicar em 1928. A fotografia em que figuram Dali e Federico foi tirada nesse ano. Lorca é o da esquerda.
Os quadros que apresento são de Salvador Dalí (Edição TASCHEN). O pintor e o poeta foram amigos e talvez mais. Dali nega a relação: “Quando Garcia Lorca me quis possuir, recusei, horrorizado”. Aliás, Dalí afirmou sempre que ainda era virgem quando conheceu Gala, musa e mulher da sua vida, roubada ao seu amigo Paul Éluard. A candidez do mestre catalão pode muito bem ser surrealista.



SE HA PUESTO EL SOL

Se ha puesto el sol. Los árboles
meditan como estatuas.
Ya está el trigo segado.
Qué tristeza
de las norias paradas!

Um perro campesino
quiere comerse a Venus y le ladra.
Brilla sobre su campo de pre-beso,
como una grande manzana.

– Los mosquitos – pegasos del rocío –
vuelan, el aire en calma.
La Penélope imensa de la luz
teje uma noche clara.

“Hijas mias, dormid, que viene el lobo”,
las ovejitas balan.
“Ha llegado el otoño, compañeras?”,
dice una flor ajada.

Ya vendrán los pastores con sus nidos
por la sierra lejana!
Ya jugarán los niños en la puerta
de la vieja posada,
y habrá coplas de amor
que ya se saben
de memoria las casas.


HAY ALMAS QUE TIENEN...

Hay almas que tienen
azules luceros,
mañanas marchitas
entre hojas del tiempo,
y castos rincones
que guardan um viejo
rumor de nostalgias
y sueños.

Otras almas tienen
dolientes espectros
de pasiones. Frutas
con gusanos. Ecos
de una voz quemada
que viene de lejos
como una corriente
de sombra. Recuerdos
vacíos de llanto
e migajas de besos.

Mi alma está madura
hace mucho tiempo,
y se desmorona
turbia de misterio.
Piedras juveniles
roídas de ensueño
caen sobre las aguas
de mis pensamientos
Cada piedra dice:
“Dios está muy lejos!”


CAPRICHO

Detrás de cada espejo
hay una estrella muerta
y un arco iris niño
que duerme.

Detrás de cada espejo
hay una calma eterna
y un nido de silencios
que no han volado.

El espejo es la momia
del manantial, se cierra,
como la concha de luz,
por la noche.

El espejo
es la madre-rocío,
el libro que diseca
los crepúsculos, el eco hecho carne.

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