DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

terça-feira, 7 de março de 2017


CARLOS NUNES PINTO

TAMEGÃO

XXIII




 “ A luz que te iluminou fui eu que roubei do Sol “


− Luana, quando você ontem estava ali sentada naquele banco, sua cara estava cheia de luz.
− Luz, como?! Tinha Sol que batia?
− Não, era luz do coração. Sua luz parecia com a luz daquela senhora que o Menino falou para nós. Mas você estava ainda mais bonita!
− Não diz isso no Menino, ele não vai se gostar.
− O Menino também me disse que tem uma santa lá longe que é negrita como você.
− Conta isso, Tamegão, conta!
− Ele disse que o Deus dele, ou parece o filho dele, foi pregado numa cruz de pau pelos homens de outra raça. Que ele levou alguns dias para morrer; lhe enterraram lá num sítio que tinha uma casa de pedra e taparam a porta com uma pedra muito grande para ele não fugir.
− Oh!, os mortos também fogem?!
− Parece que sim porque esse homem fugiu mesmo, só ficou lá três dias.
 O Menino me disse que ele, antes de subir para cima, chamou uns homens que trabalhavam para ele, todos tinham o mesmo nome – Apóstolos – e lhes pediu: todos têm que vir nesse mundo dizer que eu voltou a acordar, passado três dias, e que todos me viram subir. Um deles parece que se chamava Pedro Apóstolo, pegou numa senhora de madeira e levou com ele.
Que numa terra que se chama Espanha quiseram matar o tal de Pedro. Ele fugiu para uma serra e escondeu a tal senhora num buraco fundo. Ficou lá muitos anos, muitos, muitos, até que um pastor encontrou ela.
Tal senhora de madeira apanhou tanta chuva naqueles anos todos que ficou moreninha como você, Luana.
− E ficou sempre bonita?
− Como você, Luana, como você!



Sem comentários:

Enviar um comentário