DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

                        
               AMÍLCAR CABRAL

                        XIII

                    OPERAÇÃO MAR VERDE


                          A RESSACA


                Lancha de fiscalização "Orion"

A operação Mar Verde constituiu uma pequena vitória militar e uma enorme derrota diplomática. O ataque a um país soberano com o qual Portugal não estava em guerra acentuou ainda mais o isolamento internacional do governo de Lisboa.
Sekou Touré queixou-se a várias organizações internacionais e o Conselho de Segurança das Nações Unidas condenou Portugal por duas vezes.
A solidariedade dos amigos da República da Guiné recebeu um fôlego novo. A Nigéria ofereceu-se para enviar um contingente de tropas para o território guineense e a União Soviética fez seguir para Conakry três navios de guerra. O PAIGC saiu reforçado do escândalo internacional e beneficiou de significativas ofertas de armamento soviéticas e chinesas. As seis embarcações Komar destruídas pelos fuzileiros portugueses foram substituídas por doze modernas lanchas de combate.
Kissinger enfureceu-se com os seus amigos portugueses e as relações entre os EUA e o governo de Lisboa deterioram-se. 
Quanto a Spínola, descarregou a ira em Alpoim Calvão. Escreveu o comandante da Defesa Marítima da Guiné, comodoro Luciano Bastos, relatando uma conversa com o general:

Disse-me então, por vezes com grande excitação, que o Calvão, embora tivesse planeado tudo muito bem e que, sem ele, a operação não se realizaria, havia falhado redondamente no campo da execução, havia desembarcado as equipas e nada mais fizera, que não atuara, que não empregara em pleno os meios ao seu dispor, pois sabia de equipas que após meia hora haviam regressado a bordo sem mais nada para fazer, chegando mesmo a haver outra gente que nem sequer chegara a desembarcar, que procedera como um simples guarda-marinha e que já estava arrependido de não ter mandado outro oficial mais graduado como o Robin para controlar a operação.
Acrescentou ainda que o Calvão atuara como para realizar um golpe de mão sem ter percebido que o fundamental ali era o golpe de estado. Que o Calvão se tinha embebedado com o tal sargento preto Marcelino da Mata, que o trouxera com ele para Bissau e que ele, agora, anda para aí a exibir pistolas capturadas e a falar dos acontecimentos de Conakry.

O general pediu a Luciano Bastos para ter uma conversa com Alpoim Calvão. O comodoro relatou o encontro.

O Calvão, conservando sempre a maior calma, respondeu que estaria absolutamente seguro da justeza da forma como procedera em Conakry, que não temia os juízos de ninguém, que mais não fizera porque, fundamentalmente, não encontrara os MIG`s no aeródromo de Conakry, que logo que o capitão Morais o informou que não encontrara os MIG`s no aeródromo, o Calvão, de acordo com o plano previamente estudado em todas as hipóteses, se preparara para reembarcar e regressar pois tinha de salvar os seis navios de guerra que, de um momento para o outro poderiam atacar e afundá-los facilmente. De nada serviria tomar a emissora e outros pontos da cidade para virem os MIG`s atacar os navios e a cidade. Que não temia o general e que se este lhe levantasse a voz, ele a levantaria também, pois para o general dá resultado falar duro.

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