DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

terça-feira, 16 de abril de 2013



                 AMÍLCAR CABRAL  

                              VII



        O P.A.I.G.C. E A UNIDADE


       (Excerto de um texto de Amílcar Cabral)

  No nosso Partido ninguém dividiu, pelo contrário, cada dia nos unimos mais. Aqui não há papel, nem fula, nem mandinga, nem filhos de cabo-verdianos, nada disso. O que há é P.A.I.G.C. e vamos para diante.
  Os tugas estão desesperados. Então são eles mesmo, por exemplo, que hoje nas suas revistas, como esta, que se chama «Ultramar», têm grandes artigos, estudando a questão da Guiné e Cabo Verde, e escrevem: «A Guiné e as Ilhas de Cabo Verde —a sua unidade histórica e populacional». E sabem quem fez este artigo? António Carreira. Porque ele conhece de facto muitos problemas de história. E neste artigo ele reuniu todos os documentos que há nos arquivos dos tugas e estudou para onde é que os filhos da Guiné foram, quando foram enviados para Cabo Verde. Para S. Tiago ? Balantas, mandingas, beafadas - Para S. Vicente? Foram fulas. Com relatórios, sobre a chegada destes, etc. Eles sabiam que nós somos a mesma gente, na Guiné e Cabo Verde. Quer dizer, tanto do conhecimento da História, da realidade da nossa vida do passado, como do conhecimento dos interesses do nosso povo e da África, tanto na questão de estratégia de luta (porque qualquer pessoa que pensa na luta a sério, sabe que não há independência da Guiné sem a independência de Cabo Verde nem há independência da República da Guiné, nem do Senegal nem da Mauritânia, se eles querem ser países a sério, sem Cabo Verde ser independente, ouvem bem? Não há. Só quem não entende nada de estratégia é que pode pensar que esta África pode ser independente, com Cabo Verde ocupado pelos colonialistas. É impossível. Assim como, vice-versa, não pode haver independência de Cabo Verde a sério, sem a independência da Guiné, e sem a África ser independente a sério) qualquer um que põe o interesse do seu povo acima dos seus próprios interesses − a análise séria dos problemas acima de quaisquer manias ou ambições − só pode chegar a uma conclusão que é a seguinte: a coisa melhor que o P.A.I.G.C. fez, que o grupo daqueles que criaram o P.A.I.G.C. fez, foi estabelecer como base fundamental − Unidade e Luta − Unidade da Guiné, Unidade em Cabo Verde e Unidade da Guiné e Cabo Verde. Quem ainda não vir isso, verá mais tarde. Mas muitos africanos já começaram a vê-lo. Muitas forças amigas nossas começaram a ver, mas também os nossos inimigos já começaram a vê-lo. A preocupação dos imperialistas hoje, é a seguinte: «Cabral aceita ou não, a independência da Guiné, sem Cabo Verde?».
 Essa é que é a grande preocupação. «O P.A.I.G.C. aceita ou não a independência da Guiné sem Cabo Verde?». Isto é que o imperialista quer saber e perguntaram-no mesmo. Eu disse-lhe: «Ponha os tugas a perguntar, você não é tuga». Porque eles sabem muito bem qual é a importância que têm o nosso conjunto. Um dia um dirigente africano disse-nos: vocês são inteligentes (djiro). Perguntamos-lhe porquê e ele disse: Eu conheço a vossa gente na Guiné e a vossa gente em Cabo Verde. Se vocês conseguirem de facto o que estão a fazer, apesar de uma terra pequenina, vocês hão de ser um país forte dentro da África. Vamos a ver, dissemos. Camaradas, vamos pois para a frente, reforçados pela certeza da nossa razão: a criação do P.A.I.G.C., nas bases que acabo de expor, foi a maior realização do nosso povo, para a conquista da liberdade e a construção do seu progresso e felicidade na Guiné e Cabo Verde.

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