DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

domingo, 28 de abril de 2013


                   AMÍLCAR CABRAL                      

                             XVII

             ACÇÃO E REACÇÃO


A guerra de libertação desenvolveu-se com certa rapidez. A 19 de julho de 1963, seis meses após o ataque ao quartel de Tite, o ministro da Defesa português, Gomes Araújo, admitiu publicamente que a guerrilha do PAIGC controlava perto de 15 por cento do território da Guiné.
Os chefes militares que se confrontavam na guerra procuravam seguir a evolução dos acontecimentos de modo a poderem tirar a maior vantagem possível das próprias forças e dos defeitos do inimigo.
 Durante algum tempo, os efetivos portugueses cresceram em número e em poder de fogo.
    Em 1964, o governo português achou conveniente concentrar os poderes civil e militar da Guiné na mesma pessoa. Arnaldo Schultz foi o primeiro comandante militar da Guiné a acumular as funções com as de governador.


Schultz supunha que podia bater a guerrilha aumentado o esforço militar. Durante o seu período de comando, cresceu o contingente de soldados e aumentou significativamente o nível de violência, com recurso a bombardeamentos e a operações por tropas helitransportadas.
O PAIGC não tinha capacidade de enfrentar o Exército português numa guerra convencional. Teve de se adaptar às circunstâncias. Os seus agrupamentos militares foram divididos por unidades menores, os chamados bi-grupos, e a atividade militar deslocou-se para lugares mais próximos das fronteiras, como Quitafine e Cantanhez.
A dispersão dos combatentes conduziu a certo isolamento e afastou os comandantes locais da estrutura central da organização revolucionária. Cometeram-se alguns abusos capazes de fazer voltar as populações contra os guerrilheiros.
Era importante submeter os militares à orientação política do partido. A conquista das populações era quase tão importante para os desígnios de Cabral como as vitórias na luta armada. Amílcar Cabral convocou para Cassacá, em fevereiro de 1964, o I Congresso do PAIGC, num esforço por alargar a tutela dos dirigentes sobre os senhores locais da guerra. “Somos militantes armados e não militaristas”, proclamava.
Havia líderes militares que se comportavam como chefes tribais, reunindo haréns de adolescentes e reinando despoticamente nas tabancas. Alguns elementos acusados de atitudes impopulares e de abuso do poder foram punidos. Ocorreram, pelo menos, dois fuzilamentos.
A natureza dos homens não se altera facilmente e alguns dos tipos de crime condenados em Cassacá tornaram-se recorrentes ao longo da guerra de libertação. Segundo Vasco Cabral, teriam sido necessários mais congressos do mesmo teor e mais julgamentos.
A guerrilha implantara-se e passara a controlar frações crescentes do território da Guiné. Foi em Cassacá que começou a organização das “zonas libertadas”, destinadas a ocupar o vazio deixado pela administração portuguesa em fuga. Nasceram os “Armazéns do Povo”, que praticavam preços mais baixos que os tabelados. Paralelamente, foram criadas escolas básicas onde o ensino assentava em livros de texto redigidos por elementos da direção do PAIGC e impressos em países amigos, como a Suécia. A rádio, sediada na Guiné-Conakry, promoveu o crioulo como língua franca, contribuindo para esbater as diferenças éticas e culturais dos povos da Guiné.   

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