DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

                                                   

                                                  AMÍLCAR CABRAL  

                                                                XVI                            
   

                     O LADO PORTUGUÊS

                            A OPERAÇÃO "TRIDENTE"



                                                 
Ao contrário de Angola e de Moçambique, a Guiné era pequena, pobre e insalubre. Quando a CUF se viu forçada a suspender a sua atividade, a colónia deixou de ter qualquer valor económico. No entanto, os responsáveis políticos portugueses acreditavam que uma independência abrira as portas às restantes. Era a teoria do dominó. Para manter a Guiné dominada, o estado português obrigou-se a um esforço militar claramente desproporcionado à dimensão do território.
Em 1963, Portugal dispunha de sete batalhões para defender os seus interesses na Guiné. A preocupação de ocupar militarmente todo o território levou a dividi-lo em quadrículas ocupadas por destacamentos relativamente pequenos que constituíam alvos fáceis para os ataques da guerrilha.
A partir de 1964, Lisboa reforçou o seu contingente militar com dois novos batalhões e com grupos de paraquedistas e fuzileiros navais. Logo no começo desse ano, o comando português desencadeou a operação “Tridente”, destinada a recuperar as ilhas de Como, Catar e Catungo, situadas a sul de Catió e limitadas a sul e leste pelo rio Cumbija, que tinham sido ocupadas pelos militares do PAIGC. Situam-se a sul de Catió e são limitadas a sudeste pelo rio Cumbija.  Chegou a falar-se da “República Independente de Como”. Apenas um terço daquele território é constituído por terra firme. A costa guineense modifica-se durante o dia, conforme os favores da maré. Quando enche, as águas isolam uma grande quantidade de pequenas ilhas. Ao vazar, deixam uma área extensa de lama. É o “tarrafo”.
Teve início a primeira grande confrontação entre as tropas portuguesas e os guerrilheiros. Mil e cem militares, apoiados por importantes meios navais e aéreos, desembarcaram nas ilhas para desalojarem menos de três centenas de rebeldes. A operação durou setenta dias. A artilharia naval e os aviões de combate apoiavam constantemente as tropas de infantaria e os fuzileiros. O inimigo pouco podia fazer. Escondia-se no tarrafo ou escavava túneis onde se meter.
Nino Vieira comandava os guerrilheiros de Como e esteve várias vezes à beira do desespero. Enviou a Amílcar Cabral uma carta que nunca seria recebida: “Camaradas, tenham paciência. Não tenho outra safa a não ser o seu auxílio, estou numa situação muito grave, as tropas estão a aumentar em cada dia. Somente posso dizer-vos que de um dia para o outro vamos ficar sem guerrilheiros e sem população”.
Cabral acabou por ordenar a retirada.
Do lado português, as coisas também não correram bem. Os mortos em combate não terão passado da dúzia, mas a malária e as perturbações gastrointestinais provocadas pela má qualidade da água incapacitaram um grande número de militares. A 20 de Março de 64, a ilha foi considerada “limpa de terroristas” e as nossas tropas abandonaram a região.
Pouco tempo depois, os guerrilheiros voltaram e proclamaram ao mundo uma vitória que não aconteceu. Chegaram a ser anunciados mais de meio milhar de mortos portugueses e nos textos publicados pelos nacionalistas guineenses e cabo-verdianos continua a falar-se da “vitória de Como”. 


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