DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

domingo, 7 de julho de 2013

Os rapazes de Spínola

                       
                   AMILCAR CABRAL

                            LI

              OS RAPAZES DE SPÍNOLA


As academias proporcionam a informação essencial, mas os verdadeiros chefes militares revelam-se em combate. Muitos não frequentaram qualquer academia. 
Comissões sucessivas nos diversos teatros de operações contribuíram para formar nas Forças Armadas Portuguesas um escol de oficiais. Alguns combateram na Guiné, às ordens do general António de Spínola. Chamavam-lhe “os rapazes de Spínola” e havia quem os apelidasse de “os sete magníficos”.
Carlos Fabião foi um deles. Foi promovido por distinção e muitas vezes louvado e condecorado. Tratava-se de um homem completo: comandante militar, cidadão, político e chefe de família. O facto de gostar de escrever e de ter deixado muitos artigos publicados facilita as referências que lhe fazemos. Ouçamo-lo falar dos outros centuriões:
Eram o Ricardo Durão, o tenente-coronel Firmino Miguel, o major Pereira da Costa, o major Bruno, o major Carlos Azeredo e o major Carlos Morais. Posteriormente, o major Dias de Lima substituiu o Carlos Morais e o tenente-coronel Artur Baptista veio a substituir o Firmino Miguel. Juntou-se também a este grupo o capitão António Ramos. Era este o núcleo duro do "staff" do general. Otelo esteve também na Guiné, mas colocado numa repartição.
Marcelino da Mata também os conheceu bem:
O comandante-chefe era o general Spínola, de quem eu tinha tudo o que queria: eu dizia que havia qualquer coisa em qualquer lado e ele dizia para eu ir e fazer o que entendesse melhor. Durante essa época, quem fez muitas operações comigo foi o capitão paraquedista António Ramos, que era um grande guerreiro – fizemos mais de 200 operações juntos. Os outros bons guerreiros que conheci foram: no Exército, o major de cavalaria Carlos Azeredo e o major de infantaria Carlos Fabião; na Marinha, o primeiro-tenente fuzileiro Rebordão de Brito e o Alpoim Calvão. Na Força Aérea, o major piloto-aviador Zuquete, o tenente-coronel piloto-aviador Almeida Brito que foi abatido junto à fronteira sul da Guiné por um míssil “Strella” e o major piloto-aviador Fernando Vasquez que hoje é general. Dos que foram graduados em generais depois do 25 de Abril, o Fabião era o único que merecia: foi um homem muito corajoso no mato, que nunca virou as costas ao inimigo e limpou a zona sul toda em 4 anos. Já o capitão de artilharia Otelo Saraiva de Carvalho nunca participou numa operação.”
Voltemos a Carlos Fabião:
Quando me mandaram para a Guiné, tinha duas coisas a meu favor. Tinha seis anos de Guiné em tempo de paz - conhecia toda a Guiné - e os conhecimentos da guerra subversiva em Angola devido à comissão de 27 meses que tinha feito e que correu muito bem. A minha companhia em Angola era conhecida como «a companhia dos camelos». Na Guiné, comandei uma companhia de caçadores, entre 1965 e 1967. Na altura, era a companhia mais prestigiada da Guiné e isso fez com que eu fosse condecorado com a medalha de Valor Militar de Prata e fosse promovido a major, por distinção. Foi aqui que começou a ser conhecido, digamos assim, o nome de Fabião.        
Há muita gente que diz que houve grandes diferenças entre a guerra em Angola e a guerra na Guiné, mas eu não notei nenhuma. A guerra subversiva era igual em qualquer sítio. Para mim, que era uma máquina que subia mal mas andava bem na planície, a guerra na Guiné foi melhor, porque o terreno era plano. Apesar de na época das chuvas o terreno ser pantanoso, eu deslocava-me melhor na Guiné do que em Angola. Em Angola, na zona do Cuanza Norte, onde estive, os terrenos eram altos, muito altos, mas fazia-se quase tudo de carro porque as distâncias não permitiam andar a pé. Quando estive na Guiné, antes da guerra, caçava muito e, portanto, estava habituado ao terreno. A minha companhia era de intervenção. Havia um batalhão que cobria uma área, tinha duas ou três companhias em quadrícula e uma companhia liberta que fazia as operações. Era a minha. Fazíamos todo o tipo de operações imagináveis: operações, golpes de mão, emboscadas, patrulhamentos, rusgas. O comandante de batalhão fazia as operações, nomeava, pedia os reforços, entregava-me e eu estudava aquilo no terreno. Gostava muito de funcionar com africanos. Já vinha do tempo de paz. Tinha sempre negros de confiança que trabalhavam comigo e que planeavam as operações comigo e me informavam. A princípio, a maioria deles, estavam nos caçadores nativos ou  nas milícias. Mais tarde, quando fiz a minha última comissão na Guiné, Spínola resolveu rendibilizar ao máximo esses africanos e convidou-me para ir para lá e organizar um corpo especial com esses indivíduos. Criei assim o Comando Geral das Milícias.

João de Almeida Bruno, oficial de cavalaria com a especialidade de Comando, foi o primeiro Comandante do Batalhão de Comandos Africanos. Desempenhou essas funções entre maio de 1968 e julho de 1970. O batalhão tinha como principal missão atacar as bases do PAIGC instaladas nas regiões fronteiriças da Guiné-Conakry e do Senegal. Para dificultar a identificação formal dos autores das incursões, que todos conheciam, eram equipados com armamento soviético capturado ao inimigo (Kalashinikov, Degtyarev, RPG2 e RPG79).
Almeida Bruno foi ajudante de campo do general Spínola. Gostou sempre de dar o nome de pedras preciosas às operações que dirigia. Em maio de 1973, planeou e comandou uma arriscada ação militar no interior do território do Senegal. Objetivo: atacar e destruir a base do PAIGC instalada na zona de Kumbamory. Era a partir daqui que as forças da guerrilha flagelavam a nossa posição em Guidaje, no norte da Guiné mesmo em cima da fronteira.
Após o 25 de abril, desempenhou vários altos cargos militares. Reformou-se como general.

 Mário Firmino Miguel era natural de Sintra. Oficial notável, de feitio conciliador, foi Chefe do Estado-Maior do Exército entre 1987 e 1991. Viria aintegrar, como ministro da Defesa os três primeiros governos constitucionais. Faleceu aos 59 anos num acidente de automóvel.

Carlos Manuel de Azeredo Pinto Melo e Leme nasceu perto do Marco de Canaveses. Oficial de cavalaria, cumpriu cinco comissões no Ultramar: duas na Índia, uma em Cabinda e duas na Guiné. No antigo Estado Português da Índia, foi aprisionado pelas tropas indianas.
Dirigiu o Planeamento e comandou a execução do movimento militar do 25 de abril no norte de Portugal.
Foi o último governador civil da Madeira. Mais tarde, foi assessor militar do Primeiro Ministro Francisco Sá Carneiro, 2º comandante da Região Militar Norte e Inspetor para a Arma de Cavalaria. Depois de promovido a general, dirigiu a Arma de Cavalaria e a Região Militar Norte.
       Apesar de ser monárquico, foi o chefe da Casa Militar do Presidente da República Mário Soares. Nas eleições autárquicas de 1997, candidatou-se à presidência da Câmara Municipal do Porto, chefiando uma coligação do PSD com o CDS. Derrotado por Fernando Gomes, cumpriu o mandato de vereador durante os quatro que lhe competiam.
O seu feitio peculiar dificultou-lhe as relações com alguns superiores hierárquicos, tendo sido punido algumas vezes. Não foram tantas como as ocasiões em que foi condecorado. Recebeu a Cruz de Guerra de 1ª Classe, duas medalhas de Serviços Distintos - Ouro e Prata com Palma - as Grãs- Cruzes das Ordens de Cristo e de Avis, do Império Britânico e outras de menor importância.
      É autor de vários livros, entre os quais se contam: “Trabalhos e Dias de um Soldado do Império”, de cariz autobiográfico, e “Invasão do norte: 1809 - A Campanha do General Silveira contra o Marechal Soult”.

Ricardo Ferreira Durão realizou quatro missões em África: uma em  Angola, duas na Guiné (entre 1965 e1970) e uma em São Tomé.
Falou do período em que esteve na Guiné.
“Fui para a Guiné como oficial de operações do batalhão, para o leste, uma área fula, que era uma etnia favorável aos portugueses. Era uma área muito extensa, com uma população razoável. Nós andávamos no meio da população com à vontade. Havia amizade. O leste não era tão florestal como o resto do território, era savana aberta, onde era muito difícil eles terem esconderijos. De maneira que atravessavam a fronteira com grupos muito fortes que dizimavam aldeias e povoações e pegavam fogo a tudo. Nós tínhamos de intervir e quando o fazíamos deparávamos com grupos militarmente muito fortes que depois saíam. Havia situações em que as forças inimigas eram na ordem dos duzentos homens bem armados. Tinham tudo quanto havia de armamento moderno na altura, ido da União Soviética, da Checoslováquia, etc. Estavam bem organizados, fardados, com aspeto militar, orientação e força. Na Guiné eles transitavam livremente ali perto, no Senegal, na República da Guiné, com grupos bem constituídos, entravam e saíam com grande capacidade de combate. Mao Tsé Tung dizia que um guerrilheiro devia estar entre a população como um peixe na água e o P.A.I.G.C. seguia isso. Eles tinham o apoio dos comunistas porque tinham que ter um apoio qualquer, mas se nós lhes déssemos apoio para o futuro da Guiné, eles ficariam do nosso lado”.
 Segundo Ricardo Durão, era frequente haver um alferes branco a dirigir um grupo de trinta homens africanos. Os soldados que serviam Portugal eram de etnia maioritariamente fula.
Durão acompanhou as negociações com elementos do PAIGC que levou à morte dos majores Passos Ramos, Pereira da Silva e Osório.
Reformou-se como general.

Carlos Alexandre de Morais, nascido em 1931 na vila de Valpoi, distrito de Goa, foi oficial de cavalaria do Exército Português.
No 25 de abril estava já na reserva, como major. Serviu de intermediário entre Otelo Saraiva de Carvalho e Spínola. Foi promovido a coronel.
 Escreveu "A Queda da Índia Portuguesa. Crónica da Invasão e do Cativeiro”. Os acontecimentos reportam-se a 1962 e ao campo de concentração de Pondá, onde estiveram presos durante largos meses cerca de 1750 militares e civis, na sequência da invasão de Goa, Damão e Diu pela União Indiana.
Faleceu em abril de 2007.

Não consegui reunir muita informação sobre o major Jorge Viana Pereira da Costa. Chefiou o Serviço de Informações Militares na Guiné, onde era conhecido pela alcunha de «Astérix». Desempenhou um papel importante na preparação do livro «Portugal e o futuro».

Como vemos, António de Spínola soube rodear-se de oficiais que, para além de terem demonstrado o seu valor em combate, possuíam uma craveira intelectual acima da média.
Seria tarefa árdua contabilizar as condecorações com que foram agraciados, ao longo da vida, os “sete magníficos” oficiais do general do monóculo. Curiosamente, esses militares de elite eram também homens de cultura. Para o comprovar, bastará dar uma vista de olhos à lista de livros e artigos que deixaram escritos.



10 comentários:

  1. Caro Antonio Trabulo, o major Pereira da Costa que menciona no seu artigo tem como nome completo Jorge Viana Pereira da Costa. Do Coronel Antonio José Pereira da Costa, não tenho referência de ter sido um dos "rapazes de Spinola". Basta ler o artigo que saiu no Jornal Expresso no dia 22 de Fevereiro

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    1. Agradeço a correcção. Irei introduzi-la no blogue e texto do livro a publicar.

      Cordialmente

      António Trabulo

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  2. Um pouco ridiculo falar desses homens que faziam uma guerra criminosa contra povo quase primitivo.. Mas sim foram uns heróis do caraças..Na guiné até havia muita população portuguesa para defender.. não era assim caro amigo !? Já o Otelo de Carvalho não era muito bom a matar pretos terroristas não é assim ??
    Spinola o cavaleiro da triste figura e seu séquito...lutavam pelo regime que oprimia a maioria dos Portugueses, parabens.

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  3. Um pouco ridiculo falar desses homens que faziam uma guerra criminosa contra povo quase primitivo.. Mas sim foram uns heróis do caraças..Na guiné até havia muita população portuguesa para defender.. não era assim caro amigo !? Já o Otelo de Carvalho não era muito bom a matar pretos terroristas não é assim ??
    Spinola o cavaleiro da triste figura e seu séquito...lutavam pelo regime que oprimia a maioria dos Portugueses, parabens.

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  4. Este palerma não merece ser comentado, merecia sim perder a nacionalidade

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    1. Vasco Montez, Completamente de acordo! Mas este Portugal está pleno de IGNORANTES, COBARDES E TRAIDORES. Endividaram isto em 250 biliões de euroSHITS e o PIA ascendeu a 132%. 90% da merda da juventude não quer trabalhar nem estudar. É uma geração Choka Picks & Coca-Cola a quem tudo damos e ainda cagam postas de pescada acomunadas e acéfalas.

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Este palerma não merece ser comentado, merecia sim perder a nacionalidade

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  6. Este palerma não merece ser comentado, merecia sim perder a nacionalidade

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  7. Este palerma não merece ser comentado, merecia sim perder a nacionalidade

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