DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

domingo, 9 de junho de 2013


                                                    AMÍLCAR CABRAL

                                                                     LI

                  OS MILICIANOS


O número de oficiais licenciados anualmente pela Academia Militar era insuficiente para as necessidades da guerra colonial e a falta de capitães começou a sentir-se muito cedo.
A maioria dos oficiais subalternos (alferes e tenentes) provinha das universidades. Era a Arma de Infantaria quem mais precisava deles. Licenciados ou não, milhares de jovens frequentaram em Mafra a Escola Prática de Infantaria que, em cursos de seis meses de duração, os preparava para comandar combatentes. 
     Com o arrastar do conflito, os subalternos passaram também a escassear. As autoridades militares recorreram a expedientes variados para garantirem os comandos de pelotões e companhias. 
A partir de 1965, foram sendo mobilizados os tenentes milicianos com menos de 45 anos que, tendo cumprido o serviço militar obrigatório, haviam passado à disponibilidade sem irem à guerra. Faziam um curso de comandante de companhia, eram graduados em capitães e enviados para as colónias. Como, depois de 1961, quase todos os oficiais milicianos cumpriam comissões no ultramar, os tenentes disponíveis eram poucos. 
Foram sendo introduzidos outros mecanismos para "fabricar" capitães ou para acelerar a sua formação. Os oficiais subalternos com boas provas dadas no teatro de guerra eram convidados a frequentar o Curso de Promoção a Capitão. "Meter o Xico” era a expressão usada no tempo da guerra colonial para designar quem, depois de cumprir o serviço militar obrigatório, escolhia esse caminho. O curso durava um ano letivo. Seguia-se nova comissão, agora no comando de uma companhia. Posteriormente, era possível o ingresso no Quadro Permanente.
As motivações para tal empenhamento pessoal na guerra eram diversas. Não as conheço todas. Uma parte dos oficiais subalternos desiludira-se com os cursos universitários interrompidos pela chamada às fileiras. Outros estariam em vias de constituir família e pretendiam receber pontualmente um ordenado no fim de cada mês. Havia também quem se sentisse realizado com a experiência militar e assumisse a vocação castrense como a realização da sua vida.
Com o arrastar da guerra, acentuou-se a falta de capitães e a preparação dos futuros comandantes de companhia foi sendo facilitada. A partir de 1971, alguns cadetes que terminavam a primeira parte dos Cursos de Oficiais Milicianos eram deslocados para uma companhia operacional onde cumpriam um estágio de três meses. Regressavam a Mafra já graduados em tenentes milicianos e frequentavam durante outro trimestre um curso de Comandantes de Companhia. No final, eram graduados em capitães milicianos e enviados para a guerra. Nem eram voluntários nem tinham acesso ao quadro permanente. Independentemente do valor de cada um, a insuficiência do treino de comando notava-se no campo de batalha. Eram depreciativamente designados de “capitães-proveta” pelos seus colegas de armas.
A falta progressiva de oficiais subalternos levou a facilitar o acesso ao Curso de Oficiais Milicianos a uma parte dos jovens que frequentavam os cursos de sargentos. Como escasseavam também sargentos e praças, aumentou-se o recrutamento local, com a consequente "africanização dos efetivos". Nasceram assim os Comandos Africanos, os Grupos Especiais (GE), as Tropas Especiais (TE) e as Milícias Africanas, vocacionadas para a segurança dos aldeamentos estratégicos. 


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