No final do século XXIX, os portugueses fundaram a povoação de Lourenço Marques (Maputo) numa língua de areia da baía que alguns chamavam da Lagoa e outros da Boa Morte, situada no ponto em que desaguam no Oceano Índico as águas dos rios Lagoa, Manhiça e Maputo. Os povos moçambicanos opunham-se à ocupação estrangeira, e a feitoria teve de ser muralhada.
Há cento e trinta anos, Lourenço Marques ocupava a área abrangida pelas ruas depois chamadas Consigliére Pedroso e Araújo, e era limitada pelas muralhas de uma fortificação. Os terrenos conhecidos pelo Cântano, e os ocupados pela Avenida da República eram cobertos de água, pelo menos durante as marés cheias.
A população da cidade não parava de crescer. Em 1882, o major de engenharia Joaquim José Machado foi encarregado de proceder aos primeiros estudos da linha de caminho de ferro. A área que Lourenço Marques ocupava não podia comportar o desenvolvimento que a construção da via férrea iria trazer à cidade.
Na altura, o governo geral da Colónia sediava-se na ilha de Moçambique. Em Lourenço Marques, mandava o governo do distrito, que se opunha ao derrube da fortificação. A população branca receava os ataques dos indígenas que viviam nos domínios da rainha de Marracuene.
O major Joaquim Machado considerava os receios infundados e assumiu sozinho, em 1885, a responsabilidade de extinguir as fortificações. As fundações assentavam em areia solta e o trabalho fez-se durante a noite, com rapidez e sem ruído. Uma grande extensão das muralhas foi escavada pelo lado de fora e derrubada. Ao amanhecer, os habitantes da cidade deram com boa parte da fortaleza deitada abaixo.
Deste modo, um acto de indisciplina de um militar português contribuiu para a expansão da cidade.
A gravura que apresentamos data de cerca de 1890 e mostra o aspecto do Maputo pouco tempo depois do derrube das muralhas.
Referências:
Duarte Veiga, O Mundo Português nº 9 e 10, Setembro e Outubro de 1934.
Joel Serrão, Dicionário da História de Portugal.
Fotografia: O Mundo Português, nº 62, Fevereiro de 1939.
Publicado anteriormente no blogue Nova Águia
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