OS "BRASILEIROS DA REPÚBLICA"
Miguel Bombarda e Bernardino Machado nasceram na mesma cidade, no mesmo ano e no mesmo mês: Rio de Janeiro, 1851, Março. Ambos vieram cedo para Portugal e desenvolveram percursos profissionais assinaláveis antes de se deixarem tentar pela política.
Bernardino era filho de emigrantes portugueses bem sucedidos. O pai fora agraciado com o título de barão de Joanes.
Veio novo para Lisboa e mudou-se para o Porto. Após um percurso escolar brilhante, tornou-se lente de Filosofia na Universidade de Coimbra.
Filiou-se no Partido Regenerador e, em 1882, foi eleito deputado pelo círculo de Lamego. Em 1886, voltou a ser eleito, mas por Coimbra. Em 1890, foi feito Par do Reino. No longo período em que integrou o Parlamento, interessou-se especialmente pelo Ensino.
Foi, durante algum tempo, grão-mestre da Maçonaria Portuguesa. Fez parte do governo monárquico de Hintze Ribeiro, como Ministro das Obras Públicas.
Mudou-se depois para o lado da República. A sua opção contribuiu para dar aos republicanos o ar de respeitabilidade que lhes faltava. Em 1902, foi nomeado presidente do Directório do Partido Democrata.
Bernardino Machado foi um diplomata notável. Como ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo Provisório da I República, contribuiu de forma decisiva para o reconhecimento internacional do novo Regime.
Os seus inimigos políticos insinuavam que ele conservara a nacionalidade brasileira. Aliás, inimigos não faltavam a Bernardino. Muitos consideravam-no demasiado simpático e mesureiro. Dirigia um “Meu querido amigo!” até aos seus adversários mais virulentos.
Miguel Bombarda era filho de um miguelista exilado que regressou a Portugal em 1858. Naturalizou-se português em 1877, ano em que terminou, em Lisboa, o Curso da Escola Médico-Cirúrgica.
Era mação também, e fazia parte da Loja José Estêvão. Professor da Escola Médico-Cirúrgica, contribuiu para a sua renovação. Deu também um contributo decisivo para a fundação da Liga Nacional contra a Tuberculose. Dirigia o Hospital de Rilhafolhes (actual Hospital Miguel Bombarda) na data em que morreu. Apesar da sua notável craveira intelectual, dizia-se que perdia as estribeiras cada vez que ouvia falar em jesuítas.
Inscreveu-se relativamente tarde no Partido Republicano. Assumiu a chefia da Junta Liberal, que defendia a expulsão das congregações religiosas.
Foi eleito deputado, numa lista monárquica, e voltou a ser eleito, pelos republicanos, em Agosto de 1910. Dois meses antes, numa reunião do Grande Oriente Lusitano, foi nomeado, juntamente com Machado Santos, para integrar a comissão encarregada de preparar a revolução republicana.
A caricatura de Bernardino Machado não exigia muito do desenhador. O crânio redondo e meio despovoado, as sobrancelhas negras e espessas, e o queixo pequeno, tudo enquadrado por uma bonita barba branca e por um bigode descomunal, eram fáceis de esboçar.
As feições do psiquiatra apresentavam menos traços distintivos. Sem ser gordo, tinha o rosto redondo. O nariz era comprido, ligeiramente convexo na cana e boleado na ponta. Os olhos eram doces e tranquilos. As sobrancelhas escuras contrastavam com o grisalho do cabelo e do bigode.
Os destinos de ambos são conhecidos. Bombarda foi atingido a tiro por um doente, no dia 3 de Outubro de 1910, e faleceu por volta das 18 horas. A revolução, de que era o chefe civil, rebentaria sete horas depois. Teve o funeral conjunto com o almirante Reis, no dia seis. Machado foi Presidente da República por duas vezes, mas não terminou qualquer mandato. Foi derrubado por Sidónio Pais, em 1917, e por Gomes da Costa, no movimento de 28 de Maio de 1926. Viria a morrer em 1944, com 93 anos. Até ao fim da sua longa vida, conspirou sempre contra a ditadura de Salazar.
(Publicado anteriormente em Nova Águia)
Felicito-o pelo seu blogue e desejo que continue
ResponderEliminaro seu primoroso trabalho.
Poderá consultar o meu blogue:
manuel-bernardinomachado.blogsop.com
Meu mail: manuelsamarques@sapo.pt
Saudações cordiais de
Manuel Machado Sá Marques
Tal como me havia pedido, aqui estou eu a espreitar o seu blog!
ResponderEliminarGostei especialmente deste artigo. Interessante descrição de dois percursos de vida tão directamente ligados ao delinear da implantação da República em Portugal.
Até breve!