DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009






O PASTOR DE ICEBERGS


Muito tempo depois de a neve ter tombado,
o pastor de icebergs
abriu o redil.

Trotou sobre o mar um rebanho de gelo.
Dentes brancos ceifaram a erva da bruma,
os navios rangeram, assustados,
e, dos Corte Real, nenhum voltou.


Aqui nasceu, talvez, Adamastor,
ao sul das catedrais dos deuses cegos,
a oeste de todas as preces conhecidas.
Não se aprende a morrer devagar!


Encenador da Primavera,
afaga ainda as coxas dos fiords!
Que os actores se apresentem!


Faz gemer no roçar dos icebergs
a solidão, o silêncio,
o chicote longo do frio,
o cinzento infindo do mar
e, depois, o vento e a espuma,
a varrer os sonhos simples dos navegantes:


volver à terra morna
de vinho e mulheres doces.

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