DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

CAMILO NO PANTEÃO NACIONAL




No mês de Junho de 1910, irão contar-se 120 anos sobre a morte de Camilo Castelo Branco. Não se poderá falar de comemoração porque os suicídios não se comemoram, mas entendo que a data deverá ser assinalada.
O século XIX permitiu fixar as bases da língua portuguesa actual. Essa obra deve-se a escritores de génio como Garrett, Camilo e Eça de Queirós (que Alexandre Herculano me perdoe...) e a grandes poetas como Antero de Quental .
Neles enraíza tudo o que de melhor se escreveu em Portugal, desde então.
Entre esses grandes vultos, nenhum foi tão genuinamente português como Camilo, tão apegado à fala e aos costumes da nossa gente. Garrett e Eça correram mundo e receberam influências daqui e dali. Camilo raramente terá postos os pés fora do solo pátrio. É nas suas páginas que mais claramente se sente o pulsar dos corações portugueses.
O seu corpo foi depositado no Jazigo de Freitas Fortuna, no Cemitério da Irmandade da Lapa, no Porto.
É tempo de os seus restos mortais serem transladados para o Panteão Nacional, onde já repousa Garrett. Proponho iniciar na Internet um movimento de recolha de assinaturas destinado a pressionar a ministra da Cultura nesse sentido.
António Trabulo

3 comentários:

  1. Como Camilianista, oponho-me terminantemente a tal projecto. O Panteão Nacional, repartido entre bombistas como Aquilino Ribeiro ou simples agentes do poder republicano, nada tem a ver com Camilo. Apesar de nascido em Lisboa, C. Castelo Branco é do Norte, é do Porto e foi sua última vontade aqui ficar sepultado. Aliás, panteão mais belo do que o cemitério da Lapa não existe. Ali se congregam vários escritores e várias liberdades. O Panteão é um lugar demasiado feito para um homem como Camilo.

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  2. Estou habituado a respeitar opiniões com que não concordo. É o caso da sua. Faço, contudo, dois reparos. Aquilino poderá ter sido bombista na juventude, mas construiu uma obra literária que vem resistindo ao tempo. Não sei se o Panteão o merece, mas estou certo de que ele merece o Panteão. Quanto a Camilo, peço perdão, mas a sua última vontade não foi essa. Perto do fim, mudou de ideias. Será curioso referir que Freitas Fortuna organizou o funeral para o mausoléu da sua família, mas cobrou a Ana Plácido todas as despesas e incluiu na conta o custo da carruagem em que acompanhou o funeral.
    A.T.

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  3. Foi com grande surpresa que descobri este blogue. Devorei o seu "Eu, Camilo". Considero-o um grande camilianista, na esteira dos melhores biógrafos do Torturado de Seide, de Alberto Pimentel a João Bigotte Chorão. A sua proposta tem o mérito de chamar a atenção para a efeméride que se avizinha, numa altura em que Camilo se encontra quase absolutamente esquecido, sobretudo em meio escolar — digo-o na qualidade de professor de Português. No entanto, confesso que não veria com bons olhos a transladação para Lisboa. Embora nascido em pleno Bairro Alto, Camilo "é" do Norte. Toda a sua vida apontou para Norte sob um magnetismo de bússola. Sempre que rumo a Norte, acabo por fazer algumas peregrinações camilianas (Seide, Ribeira de Pena, Samardã...)
    Ter como última morada uma jazigo de família alheia diz bem da vida atravessada de dificuldades que Camilo levou, e que justamente é um dos aspectos que tornam tão atractiva a sua lendária biografia. Penso que se poderiam encontrar outras formas de homenagear o Mestre. Por exemplo, reintroduzir as suas obras nos currículos, ou nesse tal Plano Nacional de Leitura. Ou impedir o anunciado desaparecimento da ponte pênsil do Tâmega, de que também tive conhecimento via blogosfera.
    Reitero-lhe toda a minha admiração.

    Saudações camilianas,

    António Lourenço.

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