DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

domingo, 6 de dezembro de 2009

O FUNERAL DE VIRIATO








O que melhor conhecemos dos Lusitanos são relatos de combates. Os guerreiros agitavam as longas cabeleiras para atemorizar os inimigos e avançavam para a luta em saltos rítmicos, entoando cânticos bélicos. Eram-lhes reconhecidos tanto o valor como a inocência. Incapazes, em geral, de ultrapassar as divisões tribais para se apresentarem como uma nação em armas, deixavam-se seduzir facilmente pelas boas palavras do inimigo. “A política de luvas brancas de Aníbal, ou a dos romanos Cipião, Tibério Graco ou Sertório, valeu-lhes mais do que as vitórias militares que tinham obtido”.
As representações que chegaram até hoje ilustram a paixão dos povos ibéricos pela caça e pela guerra. Testemunham também a alegria de viver, com cenas em que se aliam frequentemente a música e a dança. São igualmente bem conhecidos os rituais que envolviam a morte.
Entre os Lusitanos, a cremação efectuava-se em piras. As cinzas eram encerradas numa urna que se colocava na sepultura.
No decorrer do século II A.C., tanto as armas que acompanhavam o cadáver como as ofertas eram queimadas. O que restava era depositado dentro das urnas, ou à sua volta. As falcatas (armas encimadas por uma espécie de foice, capazes de mutilar um inimigo, ou de o degolar) mostram-se dobradas nas escavações arqueológicas. As lanças aparecem torcidas e os elmos amolgados. As armas eram inutilizadas, para não voltarem a ser usadas pelos violadores de sepulturas.
O respeito pelos restos mortais inumados devia ser quebrado com frequência, já que se repetem inscrições em caracteres ibéricos que deverão corresponder a fórmulas mágicas destinadas a preservar o defunto de todos os males e a amaldiçoar os violadores de tumbas.
De um modo geral, as cerimónias funerárias eram simples. Revestiam-se de outra grandeza quando estavam em causa homens ilustres. Existe, pelo menos, um relato das honras fúnebres prestadas a Viriato.
“Quando da morte do caudilho Viriato o corpo deste chefe, adornado com as suas melhores vestes e armas, foi queimado numa alta pira; logo que o fogo se ateou, os guerreiros iniciaram uma dança frenética em redor da fogueira, enquanto esquadrões de cavaleiros evolucionavam em marchas fúnebres. Entretanto, os bardos cantavam as glórias do herói; depois, quando o fogo se consumiu, as honras continuaram com lutas sobre a sepultura, que envolveram duzentos pares”.

Referências:
António Arribas. Os Iberos. Editorial Verbo, Cacém, 1971.
Gravuras: idem.
Fotografia de guerreiro trasmontano: Religiões da Lusitânia, Museu Nacional de Arqueologia, 2002.


Já publicado em O BAR DO OSSIAN.

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