DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sábado, 19 de dezembro de 2009

MOÇÂMEDES ANTIGA



A costa de Moçâmedes foi explorada por Diogo Cão em 1485. O navegador assentou um padrão no Cabo Negro e outro mais a Sul, no Cabo da Serra, em território da actual Namibia. O que resta do padrão do Cabo Negro está exposto no átrio da Sociedade de Geografia, em Lisboa.
A povoação de Moçâmedes foi fundada num oásis situado na Angra do Negro. Começou por ser um presídio para degredados.
O clima era benigno e havia terras férteis. Existiam no Brasil, nessa altura como noutras, portugueses na miséria. Viviam-se tempos de agitação social e a colónia lusitana de Pernambuco era hostilizada. Bernardino Abreu e Costa, miguelista exilado em Pernambuco, dispôs-se a dirigir uma colónia agrícola. O governo de Lisboa precisava de brancos em Angola e proporcionou-lhes meios de transporte. A barca “Tentativa Feliz”, protegida pelo brigue “Douro”, fundeou em Moçâmedes em 1849 trazendo perto de 180 portugueses, entre homens, mulheres e crianças.
A instalação dos colonos processou-se com alguma dificuldade. Mesmo assim, como a crise social em Pernambuco se agudizava, em Novembro de 1850 desembarcaram mais 107 emigrantes. A vila de Moçâmedes foi construída junto à praia, de acordo com um plano simples e geométrico. Quatro ruas paralelas entre si eram cortadas por travessas e formavam quarteirões regulares. No final do século XIX já havia iluminação a petróleo. As casas, de um só piso, tinham quase todas quintal.
Os habitantes de Moçâmedes aproveitaram os terrenos de aluvião das margens dos rios Bero e Giraúl. Giraúl quer dizer “fim do caminho”. Eram terras férteis mas escassas. Caminhando durante uma hora, chegava-se às Hortas, na margem do rio Bero. O Bero era também chamado Rio dos Mortos. Morto era ele. Só corria no tempo das chuvas. No resto do ano era preciso cavar buracos na areia para alcançar água. O sítio tinha muita vegetação. A gente das Hortas vivia da produção de aguardente. Dispunha de plantações de cana-de-açúcar, de máquinas de moagem e de alambiques. A técnica fora trazida do Brasil.
Abundavam as árvores de fruta. Viam-se lindos pomares de laranjeiras e pessegueiros. A pereira e a macieira também se davam bem. As oliveiras desenvolviam-se, e havia algumas vinhas de bacelo.
Para Leste, numa distância de cem milhas, a terra elevava-se progressivamente até alcançar a uma parede sólida com mais de mil metros de altura. Era a serra da Chela. No alto, o terreno fazia-se plano e o ar refrescava.
Na zona entre a serra e o mar vivia uma população dispersa de gentios. Viam-se nas ruas da vila. Vinham comerciar. Vendiam peles, galinhas, ovos e mel. Compravam panos, missangas e vinho.
Não dispondo de mais espaços de cultura, os colonos desenvolveram o comércio e a pesca. O mar era rico em peixe. Não era possível consumi-lo todo. Os pescadores salgavam-no e punham-no a secar em grades, ao sol. Depois acondicionavam-no em fardos que os comerciantes vendiam aos negros do planalto. A vila foi progredindo.
Os de Moçâmedes exportavam gado para longe. Não o criavam, porque não havia pastos na região. Recebiam-no dos negociantes que o compravam no interior.
Ali chamavam funantes aos que andavam pelo mato a comerciar. Aquela gente ia a toda a parte. Deixava as cidades costeiras, subia as margens dos rios secos e, às vezes, fixava-se. Havia povoações espalhadas por uma grande área do interior. Um grupo de pescadores algarvios estabeleceu-se em Porto-Alexandre, mais a Sul, na costa deserta.
Que eu saiba, na História da colonização portuguesa, Moçâmedes foi a única cidade portuguesa desenvolvida por colonos repetentes, por gente de torna-viagem.

Referências:
Moraes, J.A. da Cunha, Álbum photographico e descriptivo, África Occidental. David Corazzi Editor, Lisboa, sem data.
Trabulo, António. Os Colonos, Esfera do Caos, Lisboa, 2007.
Fotografias: Moraes, J.A. da Cunha, Álbum photographico e descriptivo, África Occidental. David Corazzi Editor, Lisboa, sem data.

(Artigo já publicado no Milhafre.)



1 comentário:

  1. estou com muita pressa,mas foi muito refrescan te encontrar esta sua pag-amanhã voltarei -Grata por me deixar ver e ler algo sobre um lugar de fascinio.ema sa

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