DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quinta-feira, 26 de julho de 2018




CRÓNICAS DE VIAGEM


SALAMANCA


Eu tinha passado por Salamanca há mais de meio século, “pendurado” na excursão de finalistas de Medicina da minha cunhada Maria Augusta. Devemos ter demorado lá pouco, pois gravei apenas na memória a imagem da Plaza Mayor.

Plaza Mayor

Desta vez, estivemos lá um dia inteiro. Não é muito tempo e ficou muita coisa por ver, mas chegou para formar uma ideia aproximada da cidade que alberga a Universidade mais antiga da Península Ibérica e a quarta da Europa, onde apenas Bolonha, Oxford e Paris a precederam. Nela estudaram Abraão Zacuto, Calderón de la Barca e os portugueses Pedro Nunes e Amato Lusitano. Cristóvão Colombo deu ali aulas sobre as suas descobertas.

                        Ponte romana e catedral
A economia da cidade de 220.000 habitantes gira atualmente em volta da Universidade e do turismo.
    No século XVI, Salamanca viveu a sua idade de ouro. A cidade contava 6.500 estudantes, numa população de cerca de 24.000 almas. Durante esse período, ensinaram ali muitos dos intelectuais mais ilustres da Europa e foram desenvolvidos conceitos revolucionários na Moral e no Direito, incluindo os direitos à vida, à propriedade e à liberdade de pensamento. Em anos mais recentes, Miguel de Unamuno foi reitor da Universidade. 

   Universidade 


A história da povoação é muito antiga. Em 220 a.C., os cartagineses conquistaram a cidade às tribos de origem celta que a habitavam. Após a vitória romana na Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.), a cidade foi anexada à província da Lusitânia. Com a queda do Império Romano, chegaram os invasores alanos e visigodos. Mais tarde, no ano de 712, os mouros tomaram conta da região e governaram-na até ao século XI. Por essa altura, a relação de forças entre cristãos e mouros começou a inverter-se e iniciou-se a reconquista cristã da Península.

                     Universidade - detalhe da fachada
Passados muitos séculos, durante a Guerra Peninsular, em 1809, a cidade foi ocupada pelas tropas do general Soult, que comandou a segunda invasão francesa a Portugal. Três anos mais tarde, as tropas anglo-lusas comandadas por Arthur Wellesley, mais tarde duque de Wellington, reconquistaram Salamanca. A cidade sofreu muito com a guerra e com o encerramento da Universidade, decretada por Fernando VII. Ao ser reaberta não voltou a recuperar o vigor e o prestígio antigos.
Entre 1936 e 37, o Palácio Episcopal de Salamanca foi a residência e o comando operacional do general Francisco Franco.

Catedral nova

Salamanca é uma das cidades espanholas mais ricas em monumentos da Idade Média, do Renascimento e das épocas barroca e neoclássica. A catedral nova é barroca. Os fiéis tiveram o bom senso de não destruir a velha. Ficam paredes meias e passa-se de uma para outra sem sair à rua. 

                         Porta da catedral nova
São impressionantes a quantidade, a diversidade arquitectónica e a beleza dos edifícios históricos acantonados no centro da cidade.  Salamanca tem ainda a fama de ser o lugar onde se fala o melhor castelhano de Espanha.

                         Convento de San Esteban
A vida social de Salamanca centra-se atualmente na Plaza Mayor, construída no final da primeira metade do século XVIII.

                                             Plaza Mayor
Para nós, portugueses, não deixa de ser curiosa a coincidência entre o nome do rio Tormes, que corre a sudoeste da cidade e a quinta de Tormes que encantou Jacinto em “A cidade e as serras”. O rio é atravessado por uma ponte romana em que, ainda hoje, boa parte dos arcos é de origem.

Nota: a fotografia da ponte romana foi retirada da Internet

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