CRÓNICAS DE VIAGEM
CIUDAD RODRIGO
Ciudad Rodrigo - muralha e catedral
Quando regressei de
Angola, para estudar Medicina em Coimbra, habituei-me a passar as férias
grandes em Almendra, a terra onde nasci. As férias grandes e, quase sempre, as
do Natal e da Páscoa.
Apanhava um comboio que saía
de Coimbra às primeiras horas da madrugada e seguia até Campanhã, onde me mudava
para a Linha do Douro. Depois, era acompanhar as curvas do rio até Almendra, a
última estação antes da Barca d`Alva, onde fica a fronteira com Espanha. Após a
morte de meus pais, a seguir aos meus irmãos, era ali que tinha os parentes
mais chegados.
A bolsa de estudos que
recebia do governo-geral de Angola foi reduzida, ao fim do segundo ano, a dez
prestações. Infelizmente, os anos continuaram a contar doze meses cada. Um automóvel
era coisa com que nem sequer se sonhava. O comboio era a alternativa possível.
Fachada da Capela de Cerralbo (sec. XVII e XVII)
Os meus itinerários eram
necessariamente limitados. Ia, de vez em quando, à Meda, onde o meu primo
Francisco Trabulo, já ancião, me tratava com galhardia. Deslocava-me ocasionalmente
a Figueira do Castelo Rodrigo, que a camioneta alcançava em menos de meia hora.
Figueira desenvolveu-se na vizinhança do castelo medieval que faz parte de uma
linha de fortificações que se distribuem ao longo da fronteira até Monsaraz e
Marvão.
Claustro da catedral
Mesmo anos mais tarde,
quando a entrada no mercado de trabalho me proporcionou outras condições de
vida, não me deu para viajar até Ciudad Rodrigo, a cidade espanhola mais perto
de Almendra.
Sempre me intrigou a
partilha de nomes, para mais em povoações fortificadas e relativamente
próximas. Após a vitória do rei Ramiro II de Leão, na batalha de Simanca (939)
deu-se a progressiva ocupação cristã dos territórios conquistados aos mouros.
Rodrigo Tedoniz, cunhado de Mumadona Dias, viria a ser alcaide dos castelos do
rei. É-lhe atribuída a
reedificação do castelo de Penedono. Ignoro se está ligado a
Castelo Rodrigo e a Ciudad Rodrigo, ou se se trata de coincidência de nomes.
Vista da catedral
Há alguns dias, eu e a
minha mulher, acompanhados pela minha irmã Maria e pelo meu cunhado Sindulfo,
saímos de Almendra com destino a Salamanca. No caminho, visitámos Ciudad
Rodrigo, onde almoçámos.
É uma pequena cidade com a
parte antiga situada no interior das muralhas construídas entre os séculos XII
e XIV. Dista 25 quilómetros de Vilar Formoso. Foi, durante algum tempo sede da
extinta diocese de Calábria.
Ayuntamiento
Tratando-se da única posição fortificada
importante entre Salamanca e Portugal, sofreu dois cercos durante as invasões
francesas.
Em 1810, o marechal francês Ney tomou a cidade.
Os 24 dias que durou o cerco obrigaram Massena a adiar um mês a invasão de Portugal.
Plaza Mayor
Dois anos mais tarde, o general inglês
Wellington tomou a fortificação aos franceses, no começo da campanha que
conduziu à libertação da Península Ibérica. Ciudad Rodrigo foi saqueada tanto
pelos franceses como pelos ingleses.
Catedral. Nesta fotografia é clara a influência românica
A catedral tem uma imponência notável para o
tamanho da povoação. Começada a construir no século XII e XIV, revela uma
arquitetura mista de românico e de gótico.
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