DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quarta-feira, 25 de julho de 2018



CRÓNICAS DE VIAGEM


CIUDAD RODRIGO


Ciudad Rodrigo - muralha e catedral

Quando regressei de Angola, para estudar Medicina em Coimbra, habituei-me a passar as férias grandes em Almendra, a terra onde nasci. As férias grandes e, quase sempre, as do Natal e da Páscoa.
Apanhava um comboio que saía de Coimbra às primeiras horas da madrugada e seguia até Campanhã, onde me mudava para a Linha do Douro. Depois, era acompanhar as curvas do rio até Almendra, a última estação antes da Barca d`Alva, onde fica a fronteira com Espanha. Após a morte de meus pais, a seguir aos meus irmãos, era ali que tinha os parentes mais chegados.

  


A bolsa de estudos que recebia do governo-geral de Angola foi reduzida, ao fim do segundo ano, a dez prestações. Infelizmente, os anos continuaram a contar doze meses cada. Um automóvel era coisa com que nem sequer se sonhava. O comboio era a alternativa possível.

                          Fachada da Capela de Cerralbo (sec. XVII e XVII)
Os meus itinerários eram necessariamente limitados. Ia, de vez em quando, à Meda, onde o meu primo Francisco Trabulo, já ancião, me tratava com galhardia. Deslocava-me ocasionalmente a Figueira do Castelo Rodrigo, que a camioneta alcançava em menos de meia hora. Figueira desenvolveu-se na vizinhança do castelo medieval que faz parte de uma linha de fortificações que se distribuem ao longo da fronteira até Monsaraz e Marvão.

                                         Claustro da catedral
Mesmo anos mais tarde, quando a entrada no mercado de trabalho me proporcionou outras condições de vida, não me deu para viajar até Ciudad Rodrigo, a cidade espanhola mais perto de Almendra.
Sempre me intrigou a partilha de nomes, para mais em povoações fortificadas e relativamente próximas. Após a vitória do rei Ramiro II de Leão, na batalha de Simanca (939) deu-se a progressiva ocupação cristã dos territórios conquistados aos mouros. Rodrigo Tedoniz, cunhado de Mumadona Dias, viria a ser alcaide dos castelos do rei. É-lhe atribuída a reedificação do castelo de Penedono. Ignoro se está ligado a Castelo Rodrigo e a Ciudad Rodrigo, ou se se trata de coincidência de nomes.

                        Vista da catedral
Há alguns dias, eu e a minha mulher, acompanhados pela minha irmã Maria e pelo meu cunhado Sindulfo, saímos de Almendra com destino a Salamanca. No caminho, visitámos Ciudad Rodrigo, onde almoçámos.
É uma pequena cidade com a parte antiga situada no interior das muralhas construídas entre os séculos XII e XIV. Dista 25 quilómetros de Vilar Formoso. Foi, durante algum tempo sede da extinta diocese de Calábria.

                          Ayuntamiento
Tratando-se da única posição fortificada importante entre Salamanca e Portugal, sofreu dois cercos durante as invasões francesas.
Em 1810, o marechal francês Ney tomou a cidade. Os 24 dias que durou o cerco obrigaram Massena a adiar um mês a invasão de Portugal.

                         Plaza Mayor
Dois anos mais tarde, o general inglês Wellington tomou a fortificação aos franceses, no começo da campanha que conduziu à libertação da Península Ibérica. Ciudad Rodrigo foi saqueada tanto pelos franceses como pelos ingleses.

           Catedral. Nesta fotografia é clara a influência românica
A catedral tem uma imponência notável para o tamanho da povoação. Começada a construir no século XII e XIV, revela uma arquitetura mista de românico e de gótico.

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