DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011



 BILHETES 
 De AGOSTINHO DA SILVA 

                                             Publicado no jornal África em Agosto de 1990.

Desta vez, George Agostinho da Silva homenageia personalidades ligadas a Setúbal e distanciadas no tempo. Junta neste "bilhete" o arquiteto Keil do Amaral, o geógrafo e filósofo Orlando Ribeiro, o poeta e pedagogo Sebastião da Gama, o livreiro e poeta Raposo Nunes e o poeta e eremita Frei Agostinho da Cruz.


A Arrábida espera. Deixemos por agora de considerar e falar do esporão de Palmela, pois dele tem ido tomando conta Santiago, seu Senhor e Dono, e, como tem de ser, seu inspirador de futuro. Partiremos das arribas de Setúbal e veremos, como apoio e empurrão de largada, a um tempo, o Grupo que Raposo Nunes tem congregado em sua Arca do Setubalense, e, como mais perto e excelente incitamento à empresa, o livro de Poemas que publicará em breve sob o título de Bulbul, ou seja, o rouxinol de Oriente, em que, num perfeito domínio da linguagem e de toda a musicalidade exterior do verso, lhe dá equilibrado vertebrar a musicalidade interna de ver todo o passado como projeto de futuro, de se tomar saudade como o valente desejo e a premonição de que virá tempo em que olharemos a Serra como o triângulo para além da terra e à terra vinculado de que são extremos Europa, Ásia e África e em que nos ajoelharemos perante o Brasil, criação máxima dos Portugueses e modelo que se mostrará de todo o mundo a vir, de um mundo novo nem avaro nem triste; não esqueceremos o patrono geral, místico dos céus sem que ao mundo esqueça, Frei Agostinho da Cruz, com sua cela de monte e sua gineta de companhia, nem esquecerei eu o trabalho de Orlando Ribeiro, o primeiro que, com sua implícita metafísica, pôs mais ordem no que se pensaria caos do que jamais fará o moderno progresso dos fractais, em que matemática irá a domínios de que estava esquecida, mas que felizmente nunca avançará bastante para que da vida desapareça o que a faz de interesse, isto é, o inesperado da suprema e verdadeira criatividade; não esqueceu o Autor, sempre na melhor inspiração, olhar em Sebastião da Gama o sentido das viagens que se julgam impossíveis e o sacrifício na batalha que todos têm julgado desastrosa, mas que travou os Turcos, firmou economia do Brasil e amparou em provações gente de um e outro lado do Atlântico; à Senhora do Cabo chegaremos e aí estará a recordação do génio analítico de Keil do Amaral ante o genético génio do Povo. Por agora, ficaremos em Setúbal, para que todos possamos discutir e entender neste Império, de que tem de ser Alferes Raposo Nunes, o canto do bulbul, agora a ave mesmo. O faremos pensando no Castelo que homenageou o rei Filipe e faremos que desta vez perceba ele como é o Entre-Sado-e-Tejo a verdadeira capital do que pelo mundo tenha sido semeadura ibérica. Não nos faltará a nenhum de nós audácia e reflexão; sabemos que a loucura só vale quando não falta o juízo. A tudo vamos, connosco venham.


Sem comentários:

Enviar um comentário