DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

domingo, 16 de maio de 2021

                                                       
                                                 
                             OS MEUS LIVROS
                


           O segundo livro que publiquei não é da minha autoria. 

           Limitei-me a selecionar e a adaptar contos tradicionais 

           angolanos. Intitulei-o "No tempo do Caparandanda".  

           Usava-se o termo,  em  Sá da Bandeira,  para  referir

           acontecimentos  passados  há  muito  tempo. Tanto

           esta  obra  como  a  a precedente obtiveram o patrocínio 

           do Instituto Português do Livro. A edição é de 2004.




Graças ao esforço de um punhado de etnólogos, entre os quais será justo destacar Héli Chatelain, Carlos Estermann, e Alfredo Hauenstein, dispomos de uma recolha apreciável de histórias, provérbios, lendas e canções, que constituem o tesouro literário dos povos de Angola.

Esta literatura, muito rica, é pouco conhecida entre nós. A maior parte dos textos está apenas ao alcance de especialistas. Iniciativas com as de Pires de Lima, que orientou a edição portuguesa da obra de Héli Chatelain, ou de Viale Moutinho, que apadrinhou a publicação de parte destes contos “traduzidos” para português moderno, não tiveram continuidade suficiente. 

Mitos e fábulas podem ser agrupados de forma diversa. São numerosas as histórias protagonizadas por animais. Muitas narrativas falam de monstros ou papões comedores de gente, enquanto que outras descrevem episódios da vida diária. Os contos que contêm elementos mitológicos são menos frequentes. É comum, em todos os géneros, a presença de ensinamentos morais.

Os investigadores registaram as palavras dos narradores. Nota-se, nesses escritos, a preocupação da objectividade e do rigor, estranhos afinal ao processo de contar histórias. As recolhas foram levadas a cabo antes da divulgação das máquinas de filmar. Não foi possível fixar os gestos nem a mímica. Menos se poderiam guardar as inflexões e as mudanças do enredo proporcionadas pela reacção da assistência ou moduladas pela disposição do contador. O acto de contar é criativo…

As vozes guardadas arrefecem. Os contos, para reviverem, devem ser recontados.

Foi o que procurei fazer. O objectivo do presente trabalho é divulgar uma escolha de contos angolanos tradicionais, narrando-os de forma adaptada ao jeito europeu. Tentei não modificar o essencial das histórias e respeitei as linhas gerais do texto. Fiz uso, aqui e ali, da liberdade permitida aos contadores.

A divulgação do património cultural específico de cada povo ou região poderá contribuir para desenvolver um sentimento de pertença mútua entre as populações dos países de língua oficial portuguesa.

Quem olhou por dentro dois mundos goza de um estranho privilégio: por mais desfocada que a visão tenha sido, apreciada do fundo da memória aparecerá sempre como a soma de dois faróis.




         

         

        Anos mais tarde (2018), o livro foi também 

publicado on line com o título “Contos Tradicionais 

angolanos”.

        A capa baseia-se na lindíssima pintura 

 "Mucancala” da Maria Antónia Neuparth.





Referências:


Europress 2004


Kindle (Amazon) 2018


 


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