DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

 


  FALECEU MACHADO LUCIANO

 


Luís Machado Luciano faleceu ontem. Contava 85 anos, lúcidos e interventivos.

Conheci-o no Hospital dos Capuchos, em Lisboa, quando voltei ao Internato Geral, depois de cumprir o serviço militar, na Reserva Naval. Por essa altura (1972), Machado Luciano era já um Cirurgião Geral respeitado pelo saber, pela verticalidade e pela destreza manual.

Luís Machado Luciano nasceu em Malange (Angola) em 1935. Veio para Lisboa no começo da adolescência. Licenciou-se pela Faculdade de Medicina de Lisboa em 1962 e, dois anos mais tarde, foi aprovado no difícil concurso para Interno dos Hospitais Civis de Lisboa.

A dada altura do seu percurso profissional, deixou os Capuchos e mudou-se para Setúbal. Em boa hora o fez. Ao tempo, os hospitais distritais não detinham ainda o prestígio técnico e científico que lhes é reconhecido hoje.

No Hospital de S. Bernardo, foi encontrar um grupo de jovens profissionais ambiciosos e competentes.

No período de instabilidade política que decorreu entre 1974 e 1976, Luís Machado Luciano integrou sucessivas comissões instaladoras no seu estabelecimento hospitalar.

Progrediu na carreira e chegou a diretor do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital de S. Bernardo.

Em 1981, juntamente com o Professor Fonseca Ferreira (regressado da Faculdade de Medicina de Lourenço Marques) e outros colegas ilustres, ajudou a fundar a Sociedade Médica dos Hospitais da Zona Sul, que viria a ter uma atividade científica prestigiante, prolongada ao longo de três dezenas de anos.

Em 1985, Machado Luciano fez parte do grupo de cirurgiões que elaborou os estatutos da Sociedade Portuguesa de Cirurgia, tendo integrado a sua primeira direção.

Foi presidente da Assembleia Geral do Distrito Médico de Setúbal da Ordem dos Médicos em dois mandatos sucessivos (1999-2003).

Aposentou-se em 2004. Após a reforma, colaborou ativamente com diversas instituições de Setúbal.

Foi presidente do Conselho Consultivo da Liga dos Amigos do Hospital de S. Bernardo e do Concelho Fiscal da Liga de Apoio Comunitário para o Estudo das Doenças Infeciosas. Foi durante seis anos presidente da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão (LASA).

Em 2018, a Câmara Municipal de Setúbal atribuiu-lhe a Medalha da Cidade, na categoria de Ciência e Tecnologia.

Foi na qualidade de Presidente da LASA que tive a oportunidade de contactar de perto com Luís Machado Luciano. Na altura, eu era membro da direção da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos (SOPEAM). Acedeu prontamente à minha proposta de criação das Jornadas Culturais Conjuntas LASA/SOPEAM. Para a LASA, o projeto constituía uma oportunidade de diversificar a sua atividade cultural. Para a SOPEAM, representava a possibilidade de abertura à sociedade não médica. A iniciativa teve êxito e, de outubro 2015 a 2017, a LASA E A SOPEAM promoveram, em conjunto, cerca de 40 conferências e apresentações nacionais de alguns livros.

A Câmara Municipal de Setúbal deu-nos um apoio fundamental, com a cedência gratuita das excelentes instalações da Casa da Baía.

Os temas abordados variaram muito. Foram da História à Arqueologia, à Arquitetura, à Azulejaria e à Pintura, passando pelas relações com África e por questões médicos de interesse geral. Ouvimos tratar de forma brilhante temas inéditos. Como seria natural, Setúbal e a sua envolvência estiveram bastantes vezes presentes. Julgamos poder afirmar que muitas palestras atingiram um nível apreciável. A assistência raramente foi numerosa, mas foi quase sempre interventiva.

Foi com muito agrado que recebemos a colaboração interessada e eficaz da Universidade Sénior de Setúbal.

Ao longo desse período, tornámo-nos amigos. Aprendi a admirar em Machado Luciano a inteligência, afabilidade e o espírito construtivo e facilitador, avesso a burocracias e sempre disposto a ajudar a remover obstáculos pontuais.

Deixou-nos um homem bom. A SOPEAM perdeu um amigo.

Apresento à família enlutada as minhas condolências.

 

                              António Trabulo

                        (Presidente da SOPEAM)

 

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