FALECEU MACHADO
LUCIANO
Luís
Machado Luciano faleceu ontem. Contava 85 anos, lúcidos e interventivos.
Conheci-o
no Hospital dos Capuchos, em Lisboa, quando voltei ao Internato Geral, depois
de cumprir o serviço militar, na Reserva Naval. Por essa altura (1972), Machado
Luciano era já um Cirurgião Geral respeitado pelo saber, pela verticalidade e
pela destreza manual.
Luís
Machado Luciano nasceu em Malange (Angola) em 1935. Veio para Lisboa no começo
da adolescência. Licenciou-se pela Faculdade de Medicina de Lisboa em 1962 e,
dois anos mais tarde, foi aprovado no difícil concurso para Interno dos
Hospitais Civis de Lisboa.
A
dada altura do seu percurso profissional, deixou os Capuchos e mudou-se para
Setúbal. Em boa hora o fez. Ao tempo, os hospitais distritais não detinham
ainda o prestígio técnico e científico que lhes é reconhecido hoje.
No
Hospital de S. Bernardo, foi encontrar um grupo de jovens profissionais
ambiciosos e competentes.
No
período de instabilidade política que decorreu entre 1974 e 1976, Luís Machado
Luciano integrou sucessivas comissões instaladoras no seu estabelecimento
hospitalar.
Progrediu
na carreira e chegou a diretor do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital de S.
Bernardo.
Em
1981, juntamente com o Professor Fonseca Ferreira (regressado da Faculdade de
Medicina de Lourenço Marques) e outros colegas ilustres, ajudou a fundar a Sociedade
Médica dos Hospitais da Zona Sul, que viria a ter uma atividade científica
prestigiante, prolongada ao longo de três dezenas de anos.
Em
1985, Machado Luciano fez parte do grupo de cirurgiões que elaborou os
estatutos da Sociedade Portuguesa de Cirurgia, tendo integrado a sua primeira
direção.
Foi
presidente da Assembleia Geral do Distrito Médico de Setúbal da Ordem dos
Médicos em dois mandatos sucessivos (1999-2003).
Aposentou-se
em 2004. Após a reforma, colaborou ativamente com diversas instituições de
Setúbal.
Foi
presidente do Conselho Consultivo da Liga dos Amigos do Hospital de S. Bernardo
e do Concelho Fiscal da Liga de Apoio Comunitário para o Estudo das Doenças
Infeciosas. Foi durante seis anos presidente da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão
(LASA).
Em
2018, a Câmara Municipal de Setúbal atribuiu-lhe a Medalha da Cidade, na
categoria de Ciência e Tecnologia.
Foi
na qualidade de Presidente da LASA que tive a oportunidade de contactar de
perto com Luís Machado Luciano. Na altura, eu era membro da direção da
Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos (SOPEAM). Acedeu
prontamente à minha proposta de criação das Jornadas Culturais Conjuntas
LASA/SOPEAM. Para a LASA, o projeto constituía uma oportunidade de diversificar
a sua atividade cultural. Para a SOPEAM, representava a possibilidade de
abertura à sociedade não médica. A iniciativa teve êxito e, de outubro 2015 a
2017, a LASA E A SOPEAM promoveram, em conjunto, cerca de 40 conferências e apresentações
nacionais de alguns livros.
A
Câmara Municipal de Setúbal deu-nos um apoio fundamental, com a cedência
gratuita das excelentes instalações da Casa da
Baía.
Os
temas abordados variaram muito. Foram da História à Arqueologia, à Arquitetura,
à Azulejaria e à Pintura, passando pelas relações com África e por questões
médicos de interesse geral. Ouvimos tratar de forma brilhante temas inéditos.
Como seria natural, Setúbal e a sua envolvência estiveram bastantes vezes
presentes. Julgamos poder afirmar que muitas palestras atingiram um nível
apreciável. A assistência raramente foi numerosa, mas foi quase sempre interventiva.
Foi
com muito agrado que recebemos a colaboração interessada e eficaz da
Universidade Sénior de Setúbal.
Ao
longo desse período, tornámo-nos amigos. Aprendi a admirar em Machado Luciano a
inteligência, afabilidade e o espírito construtivo e facilitador, avesso a
burocracias e sempre disposto a ajudar a remover obstáculos pontuais.
Deixou-nos
um homem bom. A SOPEAM perdeu um amigo.
Apresento
à família enlutada as minhas condolências.
António Trabulo
(Presidente da SOPEAM)
Sem comentários:
Enviar um comentário