QUE
NOS DIZEM AS MÁSCARAS?
A maior parte das minhas
máscaras dorme no vão da escada. Outras estão por aí, em paredes ou armários.
Imagino que conversem,
durante a noite.
Mesmo de dia, caladas,
contam-nos coisas.
Tanto quanto se sabe, as
máscaras existiram em todas as culturas. Persistem entre nós, no nordeste do
país, mas assumem ainda hoje uma vitalidade impressionante entre certos povos
africanos e sul-americanos.
São geralmente feitas de
materiais perecíveis, como o couro, a madeira ou a porcelana. Há exceções notáveis,
executadas em metais preciosos e representando reis. É o caso da máscara
funerária de Agamenon, o lendário rei de Micenas que terá liderado os gregos no
cerco a Troia.
E da famosa máscara do egípcio
Tutankamon
A madeira foi sempre o
material mais usado pelos artífices. O caruncho e os seus parentes xilófagos
devoram também cultura. São raras as peças esculpidas em troncos de árvore que
resistem ao correr dos séculos.
Aprendemos a fazer
máscaras mais ou mesmo ao mesmo tempo em que aprendemos a mentir, isto é, logo
depois de proferirmos as primeiras palavras. Fingir, representar, é próprio do homem.
Julgo, que mesmo antes de
criar instrumentes cortantes eficazes, o homem aprendeu a esconder-se atrás de
ramos de árvores, de cascas de plantas, ou de crânios e de peles de animais.
As máscaras dizem-nos coisas sobre as civilizações que as produziram e sobre o modo de pensar dos seus escultores. Transmitem-nos sentimentos.
Expectativa? Aceitação? Perplexidade?
O silêncio de quem guarda os mistérios
que não devem ser revelados?
A serenidade da beleza que se sabe fugaz
O
vazio da expressão do homem-pássaro que sabe que não voltará a voar
Assiste-se à dualidade de Janus, que não
se compromete com qualquer dos
mundos
Ao anseio pelo som dos tambores
para que comece a dança
Há quem se espante com a diversidade do mundo.
Quem pretenda afrontar o demónio
E
quem seja o próprio demónio.
As máscaras dizem-nos quase tudo o que
queiramos ouvir, ou ler.
queiramos ouvir, ou ler.
Umas confrontam-nos com a certeza da morte
E outras mostram os diabos tristes
dos nossos carnavais
dos nossos carnavais
Há as que revelam a besta que
se esconde dentro de nós.
se esconde dentro de nós.
E as que nos ligam, de forma mágica,
ao mundo animal.
Algumas denunciam a angústia de não terem
por trás um rosto humano, pois as máscaras dão feições aos espíritos
e aos medos que assombram as noites dos homens.
Ponho esta máscara
E esta
e depois esta.
Retiro-as.
Mudei?
Fiquei o mesmo?
Se as máscaras tentarem mesmo conversar, nas horas do meu sono, hão de ter dificuldade em entender-se umas às outras. Provém de locais diferentes do globo e, que eu saiba, não se encontra um intérprete entre elas.
Mudei?
Fiquei o mesmo?
Se as máscaras tentarem mesmo conversar, nas horas do meu sono, hão de ter dificuldade em entender-se umas às outras. Provém de locais diferentes do globo e, que eu saiba, não se encontra um intérprete entre elas.
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