DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

segunda-feira, 9 de abril de 2018


    NO CENTENÁRIO  

DA BATALHA DO RIO LYS



Às 4 e um quarto da madrugada do dia 9 de Abril de 1918, a artilharia germânica iniciou um bombardeamento de intensidade nunca vista pelas nossas tropas. Durou 4 horas e destruiu as defesas da primeira linha. Depois, os boches lançaram oito divisões de infantaria contra as extenuadas forças portuguesas.
As explosões abalaram os doze quilómetros de frente guarnecidos pelos portugueses e fustigaram as bordas dos setores vizinhos. Os obuses caíam sem cessar e eram cada vez melhor apontados. A segunda linha de trincheiras foi atingida em pleno. Os boches pareciam saber exatamente onde se encontravam os ninhos de metralhadoras. A maioria foi silenciada antes de estar à vista alguém em quem atirar.
Os clarões das explosões iluminavam a noite mais do que a aurora nascente. A terra estremecia. Houve extensões de trincheira que foram soterradas, com os ocupantes dentro. Deixou de ser possível circular sem exposição a céu aberto e a cadeia de comando perdeu-se. Viam-se pedaços de corpos destroçados e ouviam-se gritos de agonia por todos os lados.
O terror tomou conta de muitos dos nossos combatentes. Quando a infantaria alemã avançou, a debandada em direção à terceira linha de trincheiras foi geral.
A morte iguala valentes e cobardes. Os monumentos à memória dos soldados caídos em combate não os discriminam. Convém à tranquilidade de espírito da Pátria considerar que todos foram heróis, mas não é assim em guerra nenhuma. No dia 9 de Abril de 1918, muitos portugueses viram a morte de frente, mas foram também numerosos os atingidos pelas costas. Era a “batalha do rio Lys”. No espaço de poucas horas, foram abatidos 7.000 soldados e mais de 300 oficiais portugueses. Foi o maior desaire militar lusitano desde Alcácer Quibir.
Os destroços do C.E.P. foram transferidos para a retaguarda e concentrados na região de Samer. A desmoralização das forças portuguesas era notória. A guerra, para nós, terminara. Os ingleses ainda integraram algumas unidades nas suas forças e usaram outras como cavadoras de trincheiras. O que restava do nosso Corpo Expedicionário manteve-se em França até final de 1918.



Modificado de "República, Luz e Sombra", de António Trabulo

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