DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sábado, 3 de outubro de 2015

                

                 MORREU O PASCOAL



Morreu José Vilhena.
Acabou-se o Pascoal!
A minha geração aguardava alegremente as edições sucessivas dos magníficos desenhos de Vilhena. Volta e meia, os livros eram apreendidos.
Ao tempo, a proibição era uma forma de publicidade. A polícia política (PIDE) era muito menos eficiente do que se imagina hoje. Os volumes ilustrados acabavam por chegar a quem os queria ver. O autor acabou (quase) por se familiarizar com os calabouços da ditadura.
Mais tarde, José Vilhena caricaturizou de forma notável as figuras políticas do regime democrático. Desconheço os números, mas atrevo-me a supor que as edições da “Gaiola Aberta” terão alcançado as tiragens mais elevadas de todas as publicações impressas em Portugal.
Passou o tempo e todos envelhecemos. Hoje, em véspera de eleições, até a Democracia mostra um ou outro sinal de senescência.
Tenho saudades do Pascoal. Era um homem de olhar libidinoso que apreciava a generosa anatomia feminina com a triste certeza de não ser capaz de a alcançar. A Bíblia bem dizia: não cobiceis a mulher do próximo! Falava em vão. Atrevo-me a pensar que há um pouco do Pascoal no fundo de cada um de nós.
Morreu José Vilhena. Um pouco da graça que pairava por aí abandonou o mundo.

Apresento à família, e em especial ao meu amigo Professor Fonseca Ferreira, as minhas condolências.

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