DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

                        LEON TRÓTSKI


Decidi publicar no decaedela as minhas reflexões sobre sete mortes violentas incluídas no romance O ASSASSINATO DE TRÓTSKI, que estou a ultimar. Uma parte delas foi esclarecida. Os contornos de outros permanecem mal definidos. Começo pela figura que deu o nome ao livro.
 Como este primeiro artigo é extenso, vou dividi-lo em duas partes. 

                                    I

       DA INFÂNCIA AO TRIUNFO 

   DA REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE

Lev Davidovich Bronshtein, que passou à História como Leon Trótski, foi assassinado em Coyacán, no México, a 21 de agosto de 1940. Ia nos sessenta anos e estava a escrever um livro sobre Joseph Stalin.
Trótski nasceu em novembro de 1979 na pequena povoação de Yanovka, situada atualmente em território ucraniano. Os pais tinham aproveitado o projeto de colonização da Crimeia para saírem da área de residência fixada aos judeus russos. Tornaram-se fazendeiros prósperos. Não eram religiosos. Em casa, falava-se russo e ucraniano e não iídiche.


Quando o miúdo fez nove anos, o pai mandou-o estudar para a cidade portuária de Odessa. Trotsky chegou a inscrever-se em Matemática na Universidade Nacional de Odessa, mas interessou-se cedo pela política. Envolveu-se na actividade revolucionária e aproximou-se do marxismo. Aos 17 anos ajudou a organizar em Nikolayev a União dos Trabalhadores do Sul da Rússia. Conheceu a prisão antes de completar 18 anos. Foi detido, juntamente com 200 membros da União, e esperou dois anos pelo julgamento. Aproveitou o tempo de cativeiro para estudar filosofia e, enquanto estava preso, casou com Alexandra Sokolovskaya, sua companheira das lutas políticas.


Foi condenado a quatro anos de exílio na região do Lago Baikal, na Sibéria. A esposa acompanhou-o. Foi na Sibéria que nasceram as duas filhas do casal, Zinaida e Nina.
Durante o degredo de Trótski, a divisão entre os sociais-democratas aprofundou-se. O jornal Iskra (faísca ou centelha em português), sediado em Londres, defendia a formação de um partido revolucionário bem organizado para derrubar o czarismo.
No verão de 1902, Trótski fugiu da Sibéria escondido numa carroça de feno e chegou a Irkutsk, onde os amigos lhe arranjaram um passaporte falso.
Até então, usara o seu nome verdadeiro. Adoptou nessa altura o pseudónimo de Trótski, curiosamente o apelido de um dos seus antigos carcereiros. Logo que pôde, mudou-se para Londres, onde conheceu Plekhanov, Martov e Lenine e se tornou colaborador do jornal Iskra. Por essa altura, eram já profundas as divergências entre Plekhanov e Lenine.
Foi em Londres que Lev Bronshtein encontrou Natalia Ivanovna Sedova, que viria a ser a sua segunda esposa. Divorciou-se de Alexandra, que escapara também da Sibéria com as filhas, mas manteve com ela, ao longo do tempo, um relacionamento cordial. Em 1935, durante as «grandes purgas» de Staline, Alexandra Sokolovskaya foi novamente presa e desterrada. Terá sido avistada pela última vez em 1938, num campo de trabalhos forçados, na Sibéria.
De Natália, Leon Trotsky teve dois filhos, Lev e Sergei. Deu-lhes o apelido de Sedov para tentar protegê-los da polícia czarista.
Os emigrados russos em Londres desenvolviam uma atividade política intensa e frequentemente conflituosa. Deu-se por essa altura a famosa cisão entre bolcheviques e mencheviques.


Trótski nem sempre esteve ao lado de Lenine. Entre 1904 e 1917 gostava de se considerar um «social-democrata sem facção». Esforçou-se, durante anos, por reconciliar as diversas tendência que divergiam no Partido. Ao mesmo tempo, desenvolveu a sua teoria da revolução permanente. Os choques com Lenine e com outros dirigentes russos foram inevitáveis. Vladimir Ilitch chegou a chamar-lhe «judas» e «canalha».



Em S. Petersburgo (então capital da Rússia), em janeiro de 1905, começou uma greve numa fábrica. As condições de vida dos operários russos eram muito más e o protesto alargou-se até englobar 140.000 trabalhadores. Uma marcha pacífica em direção ao Palácio de Inverno foi reprimida a tiro pela guarda do czar. Morreram mais de 1.000 manifestantes. A data ficou conhecida como Domingo Sangrento.
Trótski voltou secretamente à Rússia para apoiar os protestos contra o czar. Empenhou-se na ação política directa, agitando e organizando, mas pouco tempo depois viu-se obrigado a fugir para a Finlândia, onde prosseguiu a preparação da sua obra sobre a revolução permanente.
A agitação social continuava na Rússia. Em outubro, Trótski regressou a S. Petersburgo e empenhou-se no jornalismo revolucionário, sendo eleito pouco tempo depois para a direção do Soviete dos Trabalhadores da cidade. Após a prisão do primeiro presidente do Soviete, Leon Trótski foi escolhido para o substituir.


O Soviete foi cercado pelas tropas czaristas e os seus dirigentes foram presos. Em outubro de 1906, Trótski foi deportado para a Sibéria pela segunda vez na sua vida. Ia nos 27 anos. 
Evadiu-se durante o transporte e regressou a Londres. Fixou depois residência em Viena de Áustria, onde colaborou com o Partido Social Democrata Austríaco durante perto de sete anos. Foi em Viena que fundou o Pravda, um jornal escrito em russo e destinado aos trabalhadores do seu país.
Bolcheviques e mencheviques continuavam a não se entender. Trótski questionou várias vezes a atuação política de Lenine.
Em 1914, a I Grande Guerra pôs em confronto direto a Rússia e o Império Austro-Húngaro. Leon Trótski teve de fugir para a Suíça, para não ser detido como emigrante russo.
Lenine, Trótski e Martov assumiram posições pacifistas face ao conflito armado, enquanto Plekhanov e outros sociais-democratas apoiavam, de certo modo, o esforço de guerra do governo russo. Lenine achava conveniente a derrota russa na guerra. Por outro lado, advogava a rotura com a Segunda Internacional.


Trótski participou na conferência pacifista de Zimmerwald e propôs um compromisso entre os, que como Martov, queriam permanecer na Segunda Internacional e os que, como Lenine, pretendiam a formação de uma Terceira Internacional. A conferência adotou a proposta de Trótski.
O governo francês não apreciou a militância pacifista de Leon Trótski e deportou-o para Espanha. Os espanhóis também o não quiseram e despacharam-no para os Estados Unidos da América. Trótski viveu em Nova Yorque até rebentar a revolução de fevereiro de 1915 contra o czar Nicolau II. Ganhava a vida escrevendo artigos para jornais, em russo e em iídiche.
Tentou seguir para a Rússia, mas o navio em que viajava foi retido pelos britânicos em Halifax. Pôde continuar a viagem após intervenção do ministro russo dos negócios estrangeiros.
Na Pátria, aproximou-se das posições bolcheviques. Destacando-se de novo pela sua capacidade de organização e pelo seu talento para a agitação, foi eleito presidente do Soviete de Petrogrado. Em outubro de 1917, chefiou o Comité Militar Revolucionário que assaltou o Palácio de Inverno, assegurando o triunfo da revolução russa.
Com os bolcheviques no Poder, tornou-se um dos membros iniciais do Politburo. Foi nomeado Comissário do Povo para os Negócios Estrangeiros, com a missão de negociar o armistício como a Alemanha. As negociações não correram bem. O Exército russo, já de si frágil, encontrava-se abalado pela Revolução. Um ataque alemão bem-sucedido obrigou o governo soviético a aceitar o tratado de Brest-Litovski, em março de 1918.
Trótski demitiu-se do cargo, depois de ter sido obrigado a assinar aquele acordo, que prejudicava gravemente os interesses russos.
Viviam-se tempos duros. O recém-formado Exército Vermelho era pequeno, indisciplinado e mal comandado. Alguns líderes bolcheviques sonhavam com um exército constituído por voluntários que elegeriam os próprios oficiais. Trótski considerava que o exército devia ser suficientemente numeroso e que, se os voluntários não chegassem, se teria de recorrer ao recrutamento compulsivo. Sabia também que os oficiais não se improvisavam e que os únicos disponíveis na Rússia haviam servido o czar.



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