DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sábado, 21 de dezembro de 2013

            CARRERO BLANCO



Completaram-se ontem quarenta anos sobre a morte de Luís Carrero Blanco. 
No dia 20 de dezembro de 1973, Carrero Blanco, chefe do governo espanhol, foi vítima de um atentado bombista. Regressava da igreja de S. Francisco de Borja, onde assistira à missa, como era seu hábito, e voltava para casa, pela Calle Claudio Coello, quando a sua vida foi interrompida. A bomba estava colocada num túnel escavado sob a rua e tinha sido acionada a distância, no momento da passagem do automóvel. Com o almirante, morreram o inspetor da Polícia Bueno Fernandez e o motorista Pérez Mogena.


Carrero Blanco foi avisado da possibilidade de ocorrência de um atentado, mas não o levou suficientemente a sério e não se precaveu. Manteve os horários e os percursos habituais e recusou deslocar-se num veículo blindado.

                                 «Wilson»
A ETA designou este assassinato por «Operação Ogro». Um grupo de militantes, entre os quais se contavam Pedro Ignacio Pérez Beotegui, conhecido pelos pseudónimos de «Wilson» e «Txikia», alugou uma cave na rua e escavou um túnel onde foram colocados perto de 100 quilos do explosivo Goma-2. 


O rebentamento foi tão forte que fez subir a viatura subiu à altura dos telhados dos prédios vizinhos. 


Ocorreu um quarto de hora antes do início do julgamento de dez membros das Comissiones Obreras, um sindicato proibido na altura.


Vamos à história pessoal. Luís Carrero Blanco nasceu em 1904 em Santoña (Cantábria). Entrou cedo para a Escola Naval e participou na campanha de Marrocos, que teve lugar entre 1924 e 1926.
Quando a guerra civil rebentou, era Diretor da Escola Naval de Guerra, em Madrid. Refugiou-se, primeiro na embaixada mexicana e depois na francesa. Em junho de 1937, conseguiu passar para uma zona controlada pelos nacionalistas.
Findo o conflito, comandou navios de guerra e foi Chefe de Operações do Estado-Maior da Marinha. Alinhou pelos que defendiam a neutralidade de Espanha na II Grande Guerra.


Aproximou-se gradualmente de Francisco Franco. Foi Subsecretário da Presidência, Ministro da Presidência, Vice-presidente e Presidente do governo. Era um franquista com alguma abertura para o futuro. Opôs-se à Falange e promoveu a modernização do Estado espanhol. Apoiou o regresso do país à monarquia, abrindo o caminho de Juan Carlos para o trono.


 Era o delfim do caudilho, o homem de quem se esperava a continuação da Direita espanhola no Poder. Seria também um fiel da Opus Dei.


Até aqui, nada parece haver que justifique polémica. Fará parte da lógica do sistema uma organização separatista atentar contra os símbolos do Poder. Acontece porém que a Embaixada dos Estados Unidos da América do Norte em Madrid dista pouco mais de uma centena de metros da cave onde se abriu o túnel até ao meio da rua. Os etarras tiveram de fazer barulho para escavar. Terão procurado máscara sonora nos trabalhos de um escultor que trabalhava na vizinhança. Depois, houve que passar cabos elétricos pelo exterior dos prédios. Ainda não era o tempo das explosões telecomandadas. Nasceu um boato: as viaturas da embaixada americana habitualmente estacionadas na rua Claudio Coello não se encontravam lá naquele dia.
Pessoalmente, acho que os americanos não são suficientemente parvos para resolverem poupar meia dúzia de automóveis, correndo o risco de se verem envolvidos num magnicídio em terra alheia. A teoria conspirativa enriqueceu, porém, quando, em 1978, o único indivíduo que avistara o «homem da gabardina branca» que supostamente entregara aos etarras os horários e os percursos habituais do almirante Carrero Blanco no Hotel Mindanao, em Madrid, foi abatido por uma organização paramilitar.
Vêm, a seguir, as coincidências. O Secretário de Estado americano Henry Kissinger esteve reunido durante várias horas em Madrid com Carrero Blanco na véspera do atentado. Repito que os americanos não são estúpidos e não envolveriam a segunda figura política do país num assassinato.
Passados anos, porém, há sempre quem relacione outras coincidências. Por dever de ofício, Kissinger esteve em Roma pouco antes do rapto de Aldo Moro. Gianni Agnelli, o patrão da FIAT cognominado «rei de Itália» chegou a afirmar que os brigadistas eram os executores, mas que os mandantes viviam na Itália e nos Estados Unidos.
As ligações da extrema-direita à extrema-esquerda são reais, se não rotineiras, nos fabulários europeu e latino-americano. Segundo alguns, a Gladio e a CIA infiltraram muitas organizações revolucionárias europeias no pós-guerra. Depois, há sempre quem divulgue informações que, verdadeiras ou não, alimentam a confusão na mente do cidadão comum. Algum tempo antes da morte do almirante Carrero Blanco, foram entregues na base militar de Torrejon, em Madrid, dez minas antitanque provenientes de Fort Bliss, nos EUA, do tipo das usadas no Vietname. De que serviriam em Espanha? É fácil especular. Ninguém conhece o seu paradeiro. Teria alguma sido colocadas no túnel aberto pelos etarras na Calle Claudio Coello?

Fotos: Internet

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