DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

terça-feira, 29 de outubro de 2013


           O PRÉMIO NOBEL DA PAZ 

       PARA EDWARD SNOWDEN?


Num mundo em que centenas de milhões de pessoas partilham as mesmas notícias, há milhares que pensam de modo aproximado. Cada vez resta menos espaço para a originalidade.
Há menos de 12 horas, comuniquei a uma das minhas filhas que ia escrever e publicar no meu blogue alguns artigos sobre as ameaças à privacidade nos dias que correm. O título genérico iria ser “O Prémio Nobel da Paz para Eduard Snowden?”
Hoje, consultei a Wikipedia e verifiquei que alguém se antecipara. O professor sueco de Sociologia Stefan Svallfors, em carta dirigida ao Comité Nobel norueguês, apresentou este ano a candidatura de Snowden, afirmando que os seus feitos eram heroicos e tinham implicado grandes sacrifícios pessoais. O seu exemplo poderia incentivar outras pessoas a denunciarem atos contrários aos direitos humanos. 


A minha falta de originalidade não termina aqui. Julian Assange, fundador da WikiLeaks, e Bradley Manning, soldado dos EUA que divulgou documentos secretos do exército, haviam sido propostos para o mesmo Prémio em 2011 e 2012.


Edward Joseph Snowden é um norte-americano de 30 anos que trabalhou como administrador de sistemas informáticos para uma empresa subcontratada pela Agência de Segurança Nacional do seu país. Ganhava 122 mil dólares por ano, o que parece suficiente para assegurar uma vida confortável. Não seria o dinheiro que o motivaria.
Em maio de 2013 revelou aos jornais "The Guardian" e "The Washington Post" informações altamente confidenciais sobre o programa PRISM de vigilância eletrónica de comunicações, utilizado pelos governos dos Estados Unidos da América e do Reino Unido. O programa monitoriza conversas telefónicas e mensagens de e-mail de cidadãos dos EUA de outros países, um pouco por todo o mundo. Logo a seguir, Snowden fugiu do Havai, onde trabalhava, para Hong Kong. Pediu asilo político a uma vintena de países. Teve resposta positiva da Venezuela e da Bolívia, mas permanece em território russo, depois de ter passado mais de um mês na área de trânsito do aeroporto de Moscovo. O governo americano acusa-o de espionagem e de roubo e divulgação de segredos de estado.
As suas inconfidências desencadearam nos aliados dos EUA uma série de reações de desconforto e irritação. François Hollande, Dilma Rousseff e Angela Merkel exprimiram publicamente as suas preocupações e pediram explicações ao governo norte-americano.


Snowden não terá grande vontade de deixar Moscovo. Em agosto de 2013, Bradley Edward Manning, agora Chelsea Elizabeth Manning, foi condenado a 35 anos de prisão por ter confiado à WikiLeaks informações referentes à atuação das tropas americanas no Iraque. Os guardiões do puritanismo ianque acusam-no(?a) de violar a sagrada confiança que merecem os assuntos nacionais.


Não conheço as motivações de Snowden nem de Manning. Poderão ter sido diferentes. Há muitas razões capazes de virar um homem contra a instituição onde trabalha. Poderão estar em causa a necessidade moral de publicitar procedimentos que se consideram injustos, o desejo de vingança contra um chefe ou contra a suposta injustiça na apreciação do trabalho feito, o ciúme, a vontade de obter compensações materiais, ou até perturbações de comportamento induzidas por afeções psiquiátricas.
Julgo que os protestos dos dirigentes políticos se destinam essencialmente a apaziguar os eleitores. Angela Merckel e Dilma Roussef não são donzelas púdicas que tenham sentido agora, pela primeira vez, a mão insidiosa do amigo americano debaixo das suas saias. Os seus países dispõem, como quase todos os do mundo, de serviços de informações sofisticados. Quem com ferros mata…

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