DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sexta-feira, 7 de abril de 2023

 


   

           FECHOS DE ARMAS DE FOGO

 

Não possuo qualquer exemplar de arma de fecho de mecha, ou morrão. Criado na Europa no século XV, esta forma de ignição da pólvora continuou a ser usada até meados do século XVIII. O morrão tinha a vantagem de permanecer aceso durante algum tempo, permitindo uma maior precisão de tiro.


                                           Arcabuz com fecho de mecha

Antes de ser imaginado o sistema de mecha, era preciso chegar uma brasa ou um pavio a um orifício da culatra.

No começo do século XVI, Krepus desenvolveu o fecho de roda. Há quem diga que foi buscar inspiração a uma gravura de Leonardo da Vinci.

Julgo ter reproduções de todos os desenhos de Leonardo, mas não fui capaz de identificar a ideia original.


No fecho de roda e sílex, era dispensado o morrão. Uma pedra de sílex, abraçada pelas mandíbulas da peça que passou a ser designada por “cão”, tocava nos dentes da roda que girava quando se premia o gatilho. A faísca resultante inflamava a escorva. O tiro podia ser disparado em qualquer momento.  

No século XVII deu-se outro avanço. A rocha dura (sílex, também chamado pederneira) continuou a ser usada no “cão”, mas passou a ser impulsionada por uma mola que embatia no “fuzil” provocando a faísca no momento em que o gatilho fazia abrir a caçoleta. Era o fecho de sílex. O sucesso do novo sistema foi tal que ainda hoje há corpos militares designados por “fuzileiros”.

O passar do tempo traz consigo (quase sempre) avanços tecnológicos. No final do século XVIII foram inventadas as pólvoras “fulminantes” e o fecho de percussão. O “cão” foi simplificado, passando a funcionar como um pequeno martelo.  O fuzil e a caçoleta deram lugar à “chaminé”, que se enroscava no “ouvido” da espingarda. O “fulminante” era colocado na parte superior da caçoleta. Percutido pelo “cão”, inflamava a carga explosiva.

É curioso reparar na rapidez com que as novas tecnologias eram adaptadas às armas antigas. Em particular, os fechos de pederneira foram sendo substituídos pela tecnologia de percussão.

A seguir, foram inventados os cartuchos que substituíram as armas de carregar pela boca. Cada cartucho continha numa única unidade o percutor, a carga de pólvora e o projétil.

Os meus genros ofereceram-me recentemente uma espingarda muito antiga, com a madeira roída pelo caruncho e submetida a múltiplas reparações.


Ou a imaginação me está a pregar partidas, ou reconheço na madeira o recorte da antiga “roda”. Quanto ao “fuzil” e ao "cão" adaptados à percussão, estão bem à vista sem ser preciso confabular.


Nota: a imagem do fecho de mecha foi retirada da Wikipedia




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