DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011


ÁFRICA A PÉ:
   
CAPELO E IVENS EM MOÇÂMEDES


Viajando a pé desde Porto Pinda, depois de terem sido abandonados pelos carregadores da expedição, receosos dos perigos que espreitavam nas margens do Coroca, e fatigados pelas 54 milhas percorridas, Hermenegildo Capello e Roberto Ivens foram calorosamente recebidos pelo governador de Moçâmedes. Seria daqui que partiriam para a travessia de África. Ouçamos os exploradores falar da cidade:

Em 1840 decidiu-se construir o forte de Ponta Negra, assim como se assentaram os fundamentos de uma vila, estabelecendo-se aí uma feitoria dirigida por dois negociantes, Jacomo Filipe Torres e Joaquim Guimarães, e pouco depois foi esta terra colonizada por gente vinda da Madeira e do Brasil, que a 4 de Agosto do ano de 1845 nela se instalou definitivamente.


Daí para cá, Mossâmedes tem progredido por maneira que é hoje um dos lugares mais pitorescos e importantes da costa do oeste.


O seu clima é suave e temperado; as brisas que a refrigeram, devidas à influência da corrente oceânica que, vinda do cabo da Boa Esperança, paralelamente à costa sob elas passa; as viçosas hortas que a circundam, contrastando com a aspereza das encostas e planícies em redor, atraem ali quantos indivíduos pretendem restabelecer a saúde deteriorada pelos calores do norte, e mostra bem quanto tem podido a vontade desse punhado de homens que, ao entrarem em tal terreno, o encontraram quase deserto e percorrido de quando em quando por salteadores.


Aclimam-se todos os vegetais da Europa, como hoje é sabido, e desde a oliveira até à videira tudo ali progride.


Raras são as febres de grave caráter, apenas as intermitentes, quando inunda o Bero, atacam a um ou a outro, e ainda as cefalalgias e as conjuntivites são frequentes, como as oftalmias, derivadas do reverbero da luz nas areias. 


Referências:
De Angola à Contra-Costa. H. Capello e R. Ivens. Imprensa Nacional, Lisboa, 1886.
Fotos: Cunha Moraes, cerca de 1890.

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