Reflectir sobre a vivência da nossa língua e de quem a fala chega a magoar gente como eu, que aprendeu a escrever em África e conheceu Camões na idade em que se deitou com as primeiras raparigas negras.
Não sou tonto que baste para julgar a História. Poucos, em Angola, terão sido argutos a ponto de antever o seu rumo, a distância eficaz. Cinjo-me à memória e faço o que está ao meu alcance: conto.
As recordações apagam-se com a vida. Urge escrever pois, quando a geração a que pertenço se extinguir, ficarão poucos testemunhos de um passado comum a centenas de milhar de portugueses.
Aqui fica um tributo ao Lubango (Sá da Bandeira), a cidade onde me conheci. Por muito que lhe queiram bem os moradores actuais, dificilmente a estimarão mais do que eu: falta-lhes o tempero da perda que amplifica o amor.
Com este romance, encerro a trilogia a que dei início com "Os Colonos", antes de saltar para "Retornados". Na primeira obra, descrevi a fundação e desenvolvimento da cidade. Na segunda, contei como foi abandonada, como outras terras de Angola, pelas famílias brancas assustadas. Afora, falo de "estar". Ocupo-me da minha família e da minha infância. Relato um modo português, pouco conhecido, de colonizar e de se enraizar no mundo.
Ao mesmo tempo, solto a alma e crio histórias. As personagens que invento soltam-se das ruas do Lubango para se integrarem no mapa do romance. Poucas têm alguma relação com vidas reais.
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