DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sábado, 9 de outubro de 2010

ESCREVER PORTUGUÊS


Reflectir sobre a vivência da nossa língua e de quem a fala chega a magoar gente como eu, que aprendeu a escrever em África e conheceu Camões na idade em que se deitou com as primeiras raparigas negras.

Não sou tonto que baste para julgar a História. Poucos, em Angola, terão sido argutos a ponto de antever o seu rumo, a distância eficaz. Cinjo-me à memória e faço o que está ao meu alcance: conto.

As recordações apagam-se com a vida. Urge escrever pois, quando a geração a que pertenço se extinguir, ficarão poucos testemunhos de um passado comum a centenas de milhar de portugueses.

Aqui fica um tributo ao Lubango (Sá da Bandeira), a cidade onde me conheci. Por muito que lhe queiram bem os moradores actuais, dificilmente a estimarão mais do que eu: falta-lhes o tempero da perda que amplifica o amor.

Com este romance, encerro a trilogia a que dei início com "Os Colonos", antes de saltar para "Retornados". Na primeira obra, descrevi a fundação e desenvolvimento da cidade. Na segunda, contei como foi abandonada, como outras terras de Angola, pelas famílias brancas assustadas. Afora, falo de "estar". Ocupo-me da minha família e da minha infância. Relato um modo português, pouco conhecido, de colonizar e de se enraizar no mundo.

Ao mesmo tempo, solto a alma e crio histórias. As personagens que invento soltam-se das ruas do Lubango para se integrarem no mapa do romance. Poucas têm alguma relação com vidas reais.

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