Fernando Pessoa
ENTRE A MONARQUIA E A REPÚBLICA
Fernando Pessoa vivia em Lisboa desde 1904. Completou 22 anos em Junho de 1910.
Assistiu à revolução republicana, aparentemente sem se envolver nem tomar partido por qualquer dos lados.
Anos mais tarde, viria a zurzir com a mesma severidade a Monarquia Constitucional e a República.
“Quando fizeram uma “revolução” foi para implantar uma coisa igual ao que já estava”.
“Da obra política, o constitucionalismo não deixa senão um abismo maior entre as classes sociais, e uma desnacionalização mais adiantada e mais corrupta.
O que diz do constitucionalismo pode dizer-se, sem perigo de errar, da implantação da República... ... Se o regímen constitucional pouquíssimos pontos de contacto tem com quanto em nós seja português, a república francesa que implantaram em Portugal não tem, então, nenhuns.”
“As novas gerações assistiram e assistem, à posse do poder, mediante reformas ou revoluções, pelos homens que constituíram a mocidade de ontem, pelos democratas, pelos generosos, pelos entusiastas da trindade francesa. E viram que, tanto quanto à inteligência como quanto à moralidade, os homens da democracia em nada divergiam dos reaccionários que os precederam no poder.”
Afonso Costa não era líder político que o encantasse, ainda que o mesmo tenha acontecido com muitos republicanos da época. Em Julho de 1915, Pessoa enviou ao jornal A Capital uma carta assinada por Álvaro de Campos em que, a propósito do acidente ocorrido com Afonso Costa, afirmava que a própria Providência Divina se servira dos carros eléctricos para os seus altos ensinamentos.
Numa segunda carta, não publicada pelo jornal, injuriou Afonso Costa:
“O chefe do Partido Democrático não merece a consideração devida a qualquer membro da humanidade... ... Costa emporcalha e enlameia... ... Só não me regozija, no desastre acontecido a Costa, a circunstância, que infelizmente se parece confirmar, do seu restabelecimento”.
O extenso poema “À memória do Presidente-Rei Sidónio Pais”, publicado em 1928, louva o ungido, o predestinado, sem referenciar regimes políticos.
Ora bem! Alberto Caeiro e Bernardo Soares são personagens do meu romance 1910 que seguiu hoje para a gráfica. Se Soares é representado mais ou menos igual a si próprio, o moço Caeiro que se encontra no livro ainda está a meio caminho da maturidade que lhe viria a fazer merecer bem cedo o título de "mestre".
Desejamos a melhor fortuna para o sucesso literário da obra.
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Os melhores cumprimentos.