DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sexta-feira, 25 de julho de 2025

                                             "ISTUPIDEZ"ARTIFICIAL

        É possível que a introdução de novas tecnologias implique quase sempre a travessia de períodos difíceis de adaptação.

            Escrever neste blogue tornou-se mais difícil desde o advento da chamada Inteligência Artificial. A correção automática conduz a erros frequentes e sucessivos e é necessária intenção redobrada para não deixar passar asneiras grossas. 

            Tinha escrito "atenção" e o robot mudou logo a palavra para "intenção". Não lhe agradeço e não corrijo, pois o exemplo fica bem à vista e serve para ilustrar o texto. 

              Há instantes, dei uma vista de olhos por postagens antigas. Intitulei um artigo de 2010 "Escrever português". A "Inteligência" mudou-lhe o título para "Escreva Inglês"!

              Espero que os robots aprendam depressa. Muitos autores de blogue estarão a passar por dificuldades semelhantes às minhas.


segunda-feira, 21 de julho de 2025

 

       

      OS POETAS E OS DEUSES


Os deuses não parecem gostar dos poetas.

Não será bem assim. Talvez se virem mais para a Poesia aqueles que se sentem frias as miradas vindas do Olimpo.

Olhamos brevemente para três dos nossos vates maiores.


Camões dedicou versos lindíssimos a muitas mulheres. Morreu solteiro e sem filhos. Era fidalgo, mas pobre. Pouco sabemos do seu temperamento. A “Natércia” ignorou-o. Outras a terão imitado.

No Oriente, para onde navegou em busca da Fortuna, as mulheres portuguesas eram enfeitadas com a mais-valia da escassez. Nenhuma delas baixaria o olhar para um soldado zarolho. Poucas saberiam ler e raras seriam as dotadas de paciência suficiente para ouvir uma sucessão longa de versos.

O talento de Luís de Camões transformou a desdita em benção. “Alma minha gentil que te partiste” contém a cacofonia mais bonita da língua portuguesa e “Endechas a Bárbara Escrava” é um dos poemas mais belos que algum europeu, em todos os tempos, dedicou a mulheres de raças então consideradas inferiores.



Houve muitos poetas que não alcançaram em vida o reconhecimento que mereciam. Foi o que aconteceu com Bocage.

Ao regressar a Portugal, após uma ausência de quatro anos no Oriente, Elmano deu com a sua “Gertrúria” casada com o seu irmão Gil. Gil, o mais velho, beneficiara do estatuto de “morgado”. Pôde fazer-se bacharel em Coimbra e herdou a fatia mais grossa do património familiar. O segundo filho estaria destinado a seguir a carreira das armas e o terceiro, a existir, seria empurrado para os braços da igreja.

Fernando Pessoa também teve uma vida triste.



O poeta cabalista seria bissexual, com a tendência “gay” mais desenvolvida. Terá namorado com Ofélia Queirós, a quem escreveu 48 cartas, mas quem leu o “Antinous” ficará com poucas dúvidas sobre a sua orientação sexual dominante.

Julgo que, ainda hoje, boa parte dos homossexuais será (pelo menos estatisticamente) mais infeliz que os de sexualidade convencional. Os preconceitos levam dezenas ou centenas de anos a esbater-se. Estou, no entanto, em crer que a homossexualidade é uma criação da Natureza, projetada para diluir a tensão em lugares ou situações em que se acumulam num espaço limitado demasiados seres do mesmo sexo. Diz-se que tal acontece também com animais, incluindo os leões.

Na história de Portugal, as aglomerações demoradas de indivíduos do mesmo sexo ocorreram principalmente em conventos e navios.


Estamos habituados a glorificar a Expansão Ultramarina, que dispersou a língua portuguesa pelas sete partidas do mundo. Quantos dos nossos bravos marinheiros seriam “gays”?