DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013




         CONTOS ANGOLANOS


A literatura tradicional angolana assenta na transmissão oral de contos, provérbios, lendas e canções. Foi recolhida e registada em linguagem escrita por etnólogos amadores que residiram durante muitos anos na vizinhança das populações. Será justo destacar entre eles Héli Chatelain, Carlos Estermann, Alfredo Hauenstein e, mais recentemente, Óscar Ribas. Os três primeiros foram missionários de confissões cristãs diversas.
Os etnólogos registam as palavras com a preocupação de objetividade indispensável ao rigor científico mas estranha ao processo de contar. A maior parte das recolhas foi efetuada antes da divulgação das máquinas de fixar imagens e sons. Não foi possível reproduzir as vozes nem os gestos e a mímica.
Os contos tradicionais africanos, tal como os nossos, foram feitos para serem escutados. Ao passarem à forma escrita garantem a perenidade, mas transformam-se. Perdem-se a prosódia do narrador e as reações da assistência. Ainda assim, encantam. Há situações claramente preparadas para espantar o ouvinte (e, neste caso, o leitor). Resulta curiosa a mistura entre os ensinamentos morais e a falta deles e a proximidade da lógica ao absurdo.
Decidi apresentar on line, com alterações e acrescentos, um conjunto de histórias em parte publicadas em papel oito anos atrás pela editora Europress, sob o título No Tempo do Caparandanda. Chamam-se agora CONTOS ANGOLANOS. Trata-se de quarenta narrativas que incluem fábulas, contos e mitos. Algumas são protagonizadas por animais, enquanto outras tratam de gente comum ou se ocupam de papões.
Ao reescrever, procurei respeitar o fio das histórias, adaptando-as. Usei, aqui e além, da liberdade permitida aos contadores. Afinal, o ato de narrar foi sempre criativo.

                                                                                         António Trabulo

Nota: a capa baseia-se numa pintura de Toia Neuparth


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