AMÍLCAR CABRAL
XXIX
OS PRIMÓRDIOS DO 25 DE ABRIL
Foi
na Guiné que os oficiais portugueses começaram a questionar a continuação da guerra. Aos
poucos, foi-se impondo o pensamento de Spínola, que defendia que a solução para
o conflito era política e não militar.
No
verão de 1972, alguns oficiais ligados ao general António de Spínola
estabeleceram contactos com a chamada Ala Liberal da Assembleia Nacional. O
objetivo era afastar Américo Tomás da Presidência da República e fazer eleger
Spínola para o cargo.
Marcello
Caetano avaliou os equilíbrios do poder dentro da situação e optou por apoiar a
recandidatura de Tomás. Terá sido a última oportunidade para o regime encerrar
a questão colonial em continuidade e não em rotura.
Em
1973 começou a agonia do Estado Novo.
O
Dia Mundial da Paz foi celebrado por um grupo de católicos progressistas que
organizaram uma vigília na Capela do Rato, Em Lisboa. Foi ali aprovada uma
moção que reconhecia o direito dos povos colonizados à independência e
condenava a política de guerra do governo. Esses católicos portugueses
não fazia mais do que alinhar com a política oficial da Santa Sé.
No mesmo ano, foi
anunciado para o começo de junho, no Porto, o Congresso dos Combatentes do
Ultramar. Destinava-se essencialmente a apoiar a política colonial do governo.
Desencadeou um movimento de contestação da parte de muitos oficiais do Quadro
Permanente. Os protestos nasceram no grupo ligado a António de Spínola mas
depressa contagiaram outros setores.
A
situação piorou para a Ditadura com a publicação, no mês seguinte, do
decreto-lei nº 353/73. Visava a continuação do esforço de guerra e permitia a
entrada de oficiais milicianos nos quadros permanentes das armas de infantaria,
artilharia e cavalaria, depois de frequentarem um curso intensivo na Academia
Militar. Os oficiais de carreira sentiram-se prejudicados. Poderiam, em
determinadas situações, ser ultrapassados em antiguidade pelos milicianos.
Houve protestos que conduziram a um recuo parcial do governo.
No
final de agosto, dezenas de oficiais em comissão de serviço na Guiné assinaram
uma exposição contestatária dirigida às entidades superiores do governo.
Seguiram-se documentos semelhantes com origem em Angola e em Moçambique.
Estavam criadas as bases para o Movimento dos
Capitães, que começou essencialmente por razões corporativas. Em geral, os
oficiais portugueses eram pouco politizados e estavam habituados à disciplina.
A politização desenvolveu-se rapidamente e os spinolistas foram marginalizados
pela dinâmica do processo. A questão da guerra e o problema colonial tornaram-se o centro das discussões. O regime acabaria por cair por não ter
sabido negociar a questão colonial.
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