DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sexta-feira, 10 de maio de 2013


                                       
                          AMÍLCAR CABRAL

                                  XXIX

                   OS PRIMÓRDIOS DO 25 DE ABRIL




Foi na Guiné que os oficiais portugueses começaram a questionar a continuação da guerra.  Aos poucos, foi-se impondo o pensamento de Spínola, que defendia que a solução para o conflito era política e não militar.
No verão de 1972, alguns oficiais ligados ao general António de Spínola estabeleceram contactos com a chamada Ala Liberal da Assembleia Nacional. O objetivo era afastar Américo Tomás da Presidência da República e fazer eleger Spínola para o cargo.
Marcello Caetano avaliou os equilíbrios do poder dentro da situação e optou por apoiar a recandidatura de Tomás. Terá sido a última oportunidade para o regime encerrar a questão colonial em continuidade e não em rotura.
Em 1973 começou a agonia do Estado Novo.
O Dia Mundial da Paz foi celebrado por um grupo de católicos progressistas que organizaram uma vigília na Capela do Rato, Em Lisboa. Foi ali aprovada uma moção que reconhecia o direito dos povos colonizados à independência e condenava a política de guerra do governo. Esses católicos portugueses não fazia mais do que alinhar com a política oficial da Santa Sé.
No mesmo ano, foi anunciado para o começo de junho, no Porto, o Congresso dos Combatentes do Ultramar. Destinava-se essencialmente a apoiar a política colonial do governo. Desencadeou um movimento de contestação da parte de muitos oficiais do Quadro Permanente. Os protestos nasceram no grupo ligado a António de Spínola mas depressa contagiaram outros setores.
A situação piorou para a Ditadura com a publicação, no mês seguinte, do decreto-lei nº 353/73. Visava a continuação do esforço de guerra e permitia a entrada de oficiais milicianos nos quadros permanentes das armas de infantaria, artilharia e cavalaria, depois de frequentarem um curso intensivo na Academia Militar. Os oficiais de carreira sentiram-se prejudicados. Poderiam, em determinadas situações, ser ultrapassados em antiguidade pelos milicianos. Houve protestos que conduziram a um recuo parcial do governo.
No final de agosto, dezenas de oficiais em comissão de serviço na Guiné assinaram uma exposição contestatária dirigida às entidades superiores do governo. Seguiram-se documentos semelhantes com origem em Angola e em Moçambique.
 Estavam criadas as bases para o Movimento dos Capitães, que começou essencialmente por razões corporativas. Em geral, os oficiais portugueses eram pouco politizados e estavam habituados à disciplina. A politização desenvolveu-se rapidamente e os spinolistas foram marginalizados pela dinâmica do processo. A questão da guerra e o problema colonial tornaram-se o centro das discussões. O regime acabaria por cair por não ter sabido negociar a questão colonial.

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