A “ORA
MARÍTIMA” DE AVIENO
Rufus Avienus Festus,
poeta romano interessado em Geografia, escreveu no século IV a Ora Marítima
(Orla Marítima), um poema épico inspirado em viagens por mar. Apoiou-se em
textos anteriores e recorreu a termos geográficos já em desuso. Embora tenham
surgido dúvidas quanto aos nomes, parece designar por Oestreminis o território
português, enquanto usa o termo Albion para referir a Inglaterra.
Terá estudado um número
considerável de escritos anteriores. Na dedicatória a Probo, faz referência a
Hecateo de Mileto, Helânico de Lesbos, Fileo de Atenas, Esxilax de Carianda,
Pausímaco de Samos, Damasto de Sige, Bacoris de Rodas, Cleón da Sicília,
Heródoto de Turios e Tucídides de Atena. Como vemos, foi cuidadoso com a
bibliografia.
Este poema descreve parte
da costa marítima da Europa Ocidental, incluindo Portugal, Galiza e França.
Poderá referir-se também às Ilhas Britânicas.
Avieno chama Ofiússa (Terra
das Serpentes) a uma parte da Península Ibérica. A Ofiússa teria sido habitada pelos
Estrimnios (Oestrimnides, habitantes do extremo oeste), provavelmente um povo
integrante da cultura megalítica europeia. Teriam sido expulsos das suas terras
por uma invasão de serpentes. Há quem sugira que as serpentes simbolizavam os
sefes, povo celta que emigrou para a Península. A palavra sefes derivará do
termo grego serpe (serpente). Serpa, no Alentejo, terá herdado o nome por
inteiro.
Os
povos da Ofiússia seriam os cempsos, instalados no Alto Alentejo, os sefes, que
ocupariam os vales do Douro e do Tejo e os draganos que viveriam mais a norte.
Os ligus, ou Lycis, poderiam corresponder aos lusitanos. Mais a sul habitariam
os cinetes. Sigamos Avieno:
Os
cempsos e os sefes dominam as colinas escarpadas das terras de Ofiusa; perto
deles, o ágil lúcio e a raça dos draganos instalaram os seus lares sob o
setentrião rigorosamente nevado. Depois, junto aos cempsos, encontram-se os
povos dos cinetes. Os cónios ou cinetes habitavam as atuais regiões do Algarve
e Baixo Alentejo.
Escreve
Avieno um pouco adiante:
Na continuação encontra-se o imponente
rochedo Sagrado, eriçado de penhascos e consagrado a Saturno. Ferve o mar
agitado e a costa desprega uma frente rochosa.
Julgo que o rochedo sagrado é a Ponta de
Sagres.
Na Ofiússa, Avieno situa
no atual território português diversas ilhas e cabos. O arquipélago das
Berlengas seria uma ilha dedicada a Saturno, mas tal não é certo. O cabo de
Ofiússa é provavelmente o cabo da Roca. O Cabo Ceprésico seria o Espichel e a
ilha de Ácala corresponderia à Península de Troia, antigamente despegada do
continente. Na sua proximidade é referido um largo porto, que deve ser o de
Setúbal.
Avieno chama Cabo Cinético
ao Cabo de São Vicente e situa ali a entrada no Oceano.
O poeta não poupa louvores aos habitantes
da antiga Estrimnis, embora lhes aponte a fragilidade das embarcações:
Aqui
se encontra uma raça de grande vigor,de espírito altaneiro e de uma habilidade
eficiente, imbuída de uma inquietação constante pelo comércio. Sulcam com os
seus patachos um mar agitado e o abismo do oceano, aventurando-se a grandes
distâncias. De facto, não sabem fazer as quilhas com madeira de pinho nem guarnecem
as embarcações com madeira de abeto mas, o que é algo realmente surpreendente,
preparam as embarcações com peles entrelaçadas e amiúde atravessam o extenso
mar salgado nesses couros.
Há quem considere o poema “Ora marítima” um
roteiro de navegação. Trata-se de uma das fontes mais antigas de informações
sobre os povos que habitaram o nosso território.
BIBLIOGRAFIA
Ora Marítima em
castellano. Cultura en Andalucía, Internet.
Ora Maritima. Wikipedia.
Imagens: Internet
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