A JU DEIXOU-NOS
A Ju faleceu no dia 16, após uma doença prolongada.
O nosso relacionamento com ela começou muito cedo. Foi colega da minha irmã Fernanda em Sá da Bandeira (Lubango) em 1959. Já lá vão 62 anos.
Em Coimbra, eu, o Calucha, com quem casou, e o irmão dele Zé vivemos na mesma república, o Quimbo dos Sobas.
A Ju e o Calucha aproximaram-se mais de nós quando a nossa filha Marisa nasceu. Ela estava grávida do Luís.
Estabeleceu-se uma amizade forte que nunca iria abanar. As nossas famílias estavam longe, em Angola. Fomos família uns dos outros e passámos muitos natais juntos.
A Júlia foi uma excelente profissional. Raramente faltava a uma aula e preparava sempre as lições com muito cuidado. Tinha carinho pelos alunos.
Mulher de cultura, aproximou-me de grandes escritores alemães, como Goethe e Rainier Maria Rilke.
Boa filha, boa esposa e boa mãe, foi também uma excelente amiga. Era madrinha da nossa neta, que não compareceu ao funeral por se encontrar na Croácia. Tinha muito carinho pelo Duarte, pelo Francisco e pelo António. Como o Vasco, o nosso neto mais pequenino, travou grandes batalhas no jogo do galo.
Como a casa dela ficava perto do Ciclo e do Liceu, as minhas filhas e, mais tarde, os meus netos Francisco e António, almoçaram regularmente em casa dela uma vez por semana e foram recebendo umas ensaboadelas de inglês.
Pessoa sensata, equilibrada e equilibradora, viu a vida marcada por duas tragédias, a morte do pai em criança e a do marido, muito cedo. Reagiu ao infortúnio, educou bem os filhos e espalhou tranquilidade e alegria em seu redor.
Perdemos a Ju. Ficámos todos mais pobres.