FECHOS DE ARMAS DE FOGO
Não possuo qualquer exemplar de arma de fecho de mecha,
ou morrão. Criado na Europa no século XV, esta forma de ignição da pólvora continuou
a ser usada até meados do século XVIII. O morrão tinha a vantagem de permanecer aceso
durante algum tempo, permitindo uma maior precisão de tiro.
Arcabuz com fecho de mecha
Antes de ser imaginado o sistema de mecha, era
preciso chegar uma brasa ou um pavio a um orifício da culatra.
No começo do século XVI, Krepus desenvolveu o
fecho de roda. Há quem diga que foi
buscar inspiração a uma gravura de Leonardo da Vinci.
Julgo ter reproduções de todos os desenhos de
Leonardo, mas não fui capaz de identificar a ideia original.
No fecho de roda e sílex, era dispensado o morrão. Uma
pedra de sílex, abraçada pelas mandíbulas da peça que passou a ser designada
por “cão”, tocava nos dentes da roda que girava quando se premia o gatilho. A
faísca resultante inflamava a escorva. O tiro podia ser disparado em qualquer
momento.
No século XVII deu-se outro avanço. A rocha
dura (sílex, também chamado pederneira) continuou a ser usada no “cão”, mas
passou a ser impulsionada por uma mola que embatia no “fuzil” provocando a
faísca no momento em que o gatilho fazia abrir a caçoleta. Era o fecho de sílex. O sucesso do novo
sistema foi tal que ainda hoje há corpos militares designados por “fuzileiros”.
O passar do tempo traz consigo (quase sempre)
avanços tecnológicos. No final do século XVIII foram inventadas as pólvoras
“fulminantes” e o fecho de percussão. O “cão” foi simplificado, passando a
funcionar como um pequeno martelo. O
fuzil e a caçoleta deram lugar à “chaminé”, que se enroscava no “ouvido” da
espingarda. O “fulminante” era colocado na parte superior da caçoleta. Percutido
pelo “cão”, inflamava a carga explosiva.
É curioso reparar na rapidez com que as novas
tecnologias eram adaptadas às armas antigas. Em particular, os fechos de
pederneira foram sendo substituídos pela tecnologia de percussão.
A seguir, foram inventados os cartuchos que
substituíram as armas de carregar pela boca. Cada cartucho continha numa única
unidade o percutor, a carga de pólvora e o projétil.
Os meus genros ofereceram-me recentemente uma
espingarda muito antiga, com a madeira roída pelo caruncho e submetida a
múltiplas reparações.
Ou a imaginação me está a pregar partidas, ou
reconheço na madeira o recorte da antiga “roda”. Quanto ao “fuzil” e ao "cão" adaptados à percussão, estão bem à vista sem ser preciso confabular.
Nota: a imagem do fecho de mecha foi retirada da Wikipedia