AMÍLCAR
CABRAL
XLIII
EVOLUÇÃO POLÍTICA INTERNACIONAL
(DÉCADA DE 40)
Em
1941, Franklin Roosevelt e Winston Churchill encontraram-se num navio de guerra, na costa da Terra Nova, e
estabeleceram alguns acordos. Deles fazia parte o compromisso das duas nações
respeitarem os direitos dos povos colonizados a escolherem formas próprias de
governo. Churchill saberia que estava a aceitar o fim do Império Britânico.
O
milenar Império Turco caíra no escaldo da I Grande Guerra. Era a vez de a
Inglaterra abandonar as várias possessões ultramarinas que detinha há séculos.
Havia uma diferença abismal entre os dois processos: a Turquia tinha perdido a
sua guerra, enquanto o Reino Unido alinharia ao lado dos vencedores. No final
do conflito, a Alemanha foi batida, mas a Inglaterra ficou reduzida, de forma
provavelmente definitiva, a um estatuto de potência mediana.
A
queda do Império Britânico levou a uma reação em cadeia. Franceses, holandeses,
e belgas foram sendo forçados a libertar as colónias. Era a embriaguez das
independências. Portugal resistiu mais tempo, mas teve de aceitar o mesmo
destino.
O
espaço deixado vago foi rapidamente preenchido. A Rússia construiu o seu
próprio império, que se iria desmoronar em poucas décadas. Os Estados Unidos da
América prescindiram da questão das soberanias. Dominam atualmente o mundo,
controlando as economias. Veem porém despertar no oriente o gigante chinês, bem
mais tradicional do que a América no que concerne ao exercício de formas de
poder.
A
partir do fim da guerra, multiplicaram-se os congressos e as declarações
oficiais em favor da libertação dos povos colonizados. Os movimentos pan-africanistas
empenharam-se em campanhas internacionais visando a emancipação dos povos de
África. Logo em abril de 1945, a Federação Pan-Africana organizou um grande
congresso em Londres. Dele saiu um “manifesto” dirigido à Conferência da
Sociedade das Nações, então reunida em S. Francisco. Portugal e a Espanha eram
condenados pelos seus regimes autoritários e pela inflexibilidade das suas políticas
africanas.
O
momento revelou-se oportuno. Da Conferência nasceu a Carta das Nações Unidas, a
organização que vinha substituir a ineficaz Sociedade das Nações. A ONU
começou, de imediato, a pressionar os países colonizadores para que
facilitassem a independência das colónias. Uma mudança pontual na Carta acabada
de publicar aconselhava que se desenvolvessem “relações amigáveis baseadas no
princípio da igualdade de direitos dos povos e do direito de disporem de si
próprios”.
No
outono de 1945 reuniu em Manchester a V Conferência Pan-Africana. A independência
das colónias europeias em África foi sonoramente reclamada por representantes
de variados estados africanos. No ano seguinte, a Assembleia-geral das Nações
Unidas apelou às potências colonizadoras no sentido de promoverem a criação de
instituições políticas livres nos territórios que administravam, de forma a
possibilitarem a evolução progressiva para governos autónomos.
Os
convites às independências eram claros. Igualmente clara resulta a ideia de que
partiram essencialmente de fora para dentro. A nova ordem mundial punha de lado
os velhos senhores da África e da Ásia. Os nacionalismos desenvolveram-se ou,
pelo menos, estruturaram-se. As comunicações tinham-se tornado fáceis e a
informação circulava como nunca, na história da humanidade. Enquanto os militares
africanos e asiáticos que se tinham batido na Europa regressavam às suas terras,
crescia o número de estudantes africanos nas universidades europeias.
Os
países mais desenvolvidos dispunham também de elites coloniais mais
esclarecidas. Nasceu um grande número de organizações políticas nacionalistas
nas colónias inglesas e francesas. Ainda em 1945, foi fundado o Secretariado Nacional da África
Ocidental (SNAO), liderado por Kwame Nkrumah. Tinha por missão coordenar os diversos
movimentos nacionalistas da região. No ano seguinte, nasceu em Bamako (Mali)
outra organização pan-africana, apoiada pelo Partido Comunista Francês. Intitulava-se
Rassemblement Démocratique Africaine (RDA), e pretendia enquadrar várias
organizações independentistas francófonas.
A Organização das Nações
Unidas esteve sempre na linha dianteira de combate ao colonialismo. Em 1948,
aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que reconhecia aos povos
colonizados o direito à autodeterminação.
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