AMÍLCAR CABRAL
XX
XX
A ZONA NORTE
Em 1966, como a guerrilha na zona norte,
na área de Morés, era menos intensa e eficaz do que nas zonas sul e leste,
Amílcar Cabral decidiu ampliar aquela frente de combate. Deslocou mais
combatentes para a região e pediu à República do Senegal que incrementasse o
seu apoio. Luís Cabral foi nomeado responsável pelas ligações com os homens de
Senghor.
Morés, situada nas florestas do Oio, no
Centro-Norte, é habitada pelos Oincas, um subgrupo de mandingas com reputação de coragem e
tradição de resistência às tropas coloniais. Já Teixeira Pinto, na segunda década do século XX,
encontrara dificuldades em os dominar. A vegetação e o relevo ajudavam os
guerrilheiros.
Morés tornou-se a base mais importante do
PAIGC na zona norte. Foi um dos pontos em que se tornaram evidentes algumas das
insuficiências de preparação dos guerrilheiros, nomeadamente no relacionamento com
as populações locais. Osvaldo Vieira era o chefe do setor e Inocêncio Kani o
responsável pela base. O excesso de disciplina imposto aos combatentes e às
populações foi reprovado pelo secretário-geral e pelo seu meio-irmão Luís
Cabral.
Para realçar a importância da frente
norte na estratégia do PAIGC, Amílcar Cabral deslocou-se à tabanca de Djagali,
na margem esquerda do rio Farim, a 4 de Junho de 1966 e fez ali um comício. As
tropas coloniais dispunham de informadores. Erraram por um punhado de horas. Às
seis da manhã do dia seguinte, a aviação portuguesa arrasou Djagali, matando
alguns civis. O líder do PAIGC já não se encontrava no local.
Convinha ao partido publicitar no
estrangeiro a sua luta. O jornalista italiano Piero Nelli teve oportunidade de
filmar uma emboscada ao inimigo, encomendada de propósito. O combate foi
filmado na estrada Mansoa-Mansabá, onde se efetuavam trabalhos de
alcatroamento, protegidos pelo exército português.
As armas
e munições que chegavam à Região Norte tinham de passar pelo Senegal, que ia
criando algumas dificuldades burocráticas à guerrilha guineense. Assim,
enquanto parte do material era levado de forma legal e acompanhado por
escoltas militares senegalesas, outra parte era contrabandeada como se se
tratasse de mercadoria. A partir da fronteira, as armas e munições eram
transportadas por colunas de militares que escolhiam trilhos
escondidos para não serem detetados pela aviação portuguesa. Ainda assim, as
munições faltavam pontualmente.
A zona norte serviria de palco para um acontecimento
que sobressaiu de entre os múltiplos dramas da Guerra da Guiné. A partir do final de 1988, os serviços secretos
de Spínola tentaram aproveitar o descontentamento e o desânimo de alguns líderes
locais do PAIGC para os convencer a trocar de fardamento. Seriam integrados nas
forças armadas coloniais. Entre meias verdades e meias mentiras, informação e desinformação,
armou-se a teia em seriam apanhados alguns oficiais superiores do Exército Português.
Sem comentários:
Enviar um comentário