DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quarta-feira, 1 de maio de 2013


                    AMÍLCAR CABRAL                          
                                    XX

                A ZONA NORTE


                              
 Em 1966, como a guerrilha na zona norte, na área de Morés, era menos intensa e eficaz do que nas zonas sul e leste, Amílcar Cabral decidiu ampliar aquela frente de combate. Deslocou mais combatentes para a região e pediu à República do Senegal que incrementasse o seu apoio. Luís Cabral foi nomeado responsável pelas ligações com os homens de Senghor.
 Morés, situada nas florestas do Oio, no Centro-Norte, é habitada pelos Oincas, um subgrupo de mandingas com reputação de coragem e tradição de resistência às tropas coloniais. Já Teixeira Pinto, na segunda década do século XX, encontrara dificuldades em os dominar. A vegetação e o relevo ajudavam os guerrilheiros. 
 Morés tornou-se a base mais importante do PAIGC na zona norte. Foi um dos pontos em que se tornaram evidentes algumas das insuficiências de preparação dos guerrilheiros, nomeadamente no relacionamento com as populações locais. Osvaldo Vieira era o chefe do setor e Inocêncio Kani o responsável pela base. O excesso de disciplina imposto aos combatentes e às populações foi reprovado pelo secretário-geral e pelo seu meio-irmão Luís Cabral.
 Para realçar a importância da frente norte na estratégia do PAIGC, Amílcar Cabral deslocou-se à tabanca de Djagali, na margem esquerda do rio Farim, a 4 de Junho de 1966 e fez ali um comício. As tropas coloniais dispunham de informadores. Erraram por um punhado de horas. Às seis da manhã do dia seguinte, a aviação portuguesa arrasou Djagali, matando alguns civis. O líder do PAIGC já não se encontrava no local.
 Convinha ao partido publicitar no estrangeiro a sua luta. O jornalista italiano Piero Nelli teve oportunidade de filmar uma emboscada ao inimigo, encomendada de propósito. O combate foi filmado na estrada Mansoa-Mansabá, onde se efetuavam trabalhos de alcatroamento, protegidos pelo exército português.
 As armas e munições que chegavam à Região Norte tinham de passar pelo Senegal, que ia criando algumas dificuldades burocráticas à guerrilha guineense. Assim, enquanto parte do material era levado de forma legal e acompanhado por escoltas militares senegalesas, outra parte era contrabandeada como se se tratasse de mercadoria. A partir da fronteira, as armas e munições eram transportadas por colunas de militares que escolhiam trilhos escondidos para não serem detetados pela aviação portuguesa. Ainda assim, as munições faltavam pontualmente.
 A zona norte serviria de palco para um acontecimento que sobressaiu de entre os múltiplos dramas da Guerra da Guiné. A partir do final de 1988, os serviços secretos de Spínola tentaram aproveitar o descontentamento e o desânimo de alguns líderes locais do PAIGC para os convencer a trocar de fardamento. Seriam integrados nas forças armadas coloniais. Entre meias verdades e meias mentiras, informação e desinformação, armou-se a teia em seriam apanhados alguns oficiais superiores do Exército Português. 




      
      
      
       

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