AMÍLCAR CABRAL
XXXI
AS ORIGENS. JUVENTUDE EM CABO VERDE
O pai de Amílcar Cabral reassumiu, em maio
de 1932, as funções de professor, tendo sido colocado em Mansoa. A situação
profissional instável e as pressões da madrinha puxavam-no para Cabo Verde.
Quando foi punido, por razões que se desconhecem, com uma pena de suspensão de
quinze dias de vencimento, Juvenal pediu a aposentação por invalidez e, em
Novembro desse ano, instalou-se com a família nova e os três filhos trazidos da
Guiné (Amílcar, Armanda e Arminda) em Achada Falcão, no município de Santa
Catarina, ilha de Santiago. Assumiu as funções de administrador das
propriedades de Simoa, com a herança à vista.
Amílcar
Cabral acompanhou o pai.
A
mãe ficou mais um ano na Guiné. No regresso, depois de algumas disputas, conseguiu
a custódia dos filhos.
Em data que não ficou registada, Juvenal
herdou os bens da madrinha. A crise que assolou as ilhas e as questões com a
hipoteca depressa o devolveram à pobreza.
Não se sabe onde fez Amílcar Cabral a
instrução primária. Poderá ter começado a estudar em Bissau. É possível que o
pai lhe tenha dados explicações. O miúdo passou cerca de um ano em Achada
Falcão. Tanto ali como na vizinha Santa Catarina existiam, à data, escolas
primárias. Terá estudado na cidade da Praia em 1933 e 34, não se sabe se no
ensino oficial, doméstico ou particular. Terá concluído o ensino primário em
1936/37. Entrou para o liceu no ano seguinte (1937/1938), com os 13 anos
exigidos por lei. A partir dessa altura, as informações registadas permitem
seguir regularmente o seu percurso escolar.
O Liceu Gil Eannes era o único existente em Cabo Verde. Quem ia das outras ilhas
estudar para S. Vicente, alojava-se em casa de familiares ou em pensões mais ou
menos improvisadas. Iva não tinha lá família que pudesse albergar o filho, nem
dinheiro para pagar o alojamento. Mudou-se para o Mindelo, com as crianças.
Curiosamente, dias depois do começo
das aulas, o liceu foi extinto por Decreto-Lei e chegou a estar fechado durante
algum tempo. A intenção do governo da Metrópole era transformá-lo numa escola
prática de agricultura, pesca, artes e ofícios. A pressão dos pais dos alunos
fez recuar as autoridades coloniais.
O currículo escolar da altura girava
em redor da Portugalidade. O objectivo era levar os miúdos cabo-verdianos a
acreditarem que eram tão portugueses quanto os da Metrópole.
Alguns anos mais tarde, Amílcar Cabral
iria escrever: Nunca fui português. Gosto muito de Portugal e do povo
português. Houve um tempo na minha vida em que eu estava convencido que era
português, porque assim é que me ensinaram, eu era menino. Mas depois aprendi
que não.
A influência do pai e da mãe na formação
intelectual do futuro líder do PAIGC terá sido limitada. Amílcar era mais
chegado à mãe. “Marcou a sua maneira de estar no mundo e a sua conduta social”.
Do pai terá herdado a tendência para as letras e o hábito de pensar pela
própria cabeça.
Foi sempre bom aluno e começou cedo a escrever poesia. Em 1942, um poema seu intitulado “1º de
dezembro” foi classificado em primeiro lugar num concurso liceal. As suas
qualidades de liderança deram cedo nas vistas. Amílcar foi sempre chefe de
turma. Em 1940 – 41 foi presidente da Associação Desportiva do Liceu do
Mindelo. Ajudou ainda a organizar o teatro do liceu.
O pai foi-se distanciando. Mudou-se
para a Praia, por volta de 1943. Em Abril de 1954, regressou à Guiné, na
companhia do filho Ermelindo.
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