AMÍLCAR CABRAL
XLIV
OS CAMINHOS DO MUNDO
Em 1959,
Agostinho Neto estava a terminar, em Lisboa, o curso de Medicina. Mário de Andrade,
Lúcio Lara, Viriato da Cruz, Azancourt de Menezes e outros, tinham abandonado
já o território português para se dedicarem a tempo inteiro às causas das
independências dos seus países, Amílcar Cabral decidiu finalmente deixar a
capital portuguesa. Ainda assim, foi adiando a saída definitiva.
Durante o
ano de 59, Cabral viajou muito. Em abril, encontrou-se em Frankfurt com Lúcio
Lara e Viriato da Cruz. De passagem por Paris, conferenciou com Marcelino dos
Santos e Guilherme do Espírito Santo, sobre a necessidade de avançar com
medidas concretas contra o colonialismo português.
O Movimento
Unitário Anticolonial (MAC), fundado em 1958, procurava alargar o seu raio de
ação. Cedo, porém, nasceram divergências no seu interior. Era tempo de se
criarem, em cada colónia, movimentos de cariz nacional. Ao MAC caberia, quanto
muito, um papel de coordenação.
Em
agosto, Amílcar Cabral deslocou-se a Luanda com o objetivo de comunicar às
organizações clandestinas angolanas a oferta argelina para preparar
militarmente um pequeno grupo de militantes. A PIDE desencadeara uma vaga de
prisões e Cabral ficou sem interlocutores.
No
caminho de regresso, visitou os dois Congos, o Ghana, o Senegal e a República
da Guiné-Conakry. O massacre de Pindjiguiti ocorreu no começo de agosto. Em setembro, Cabral regressou a Bissau e
contactou a o Movimento de Libertação da Guiné (MLG), única organização nacionalista
a funcionar então na colónia. A
integração progressiva de cabo-verdianos nesse movimento possibilitou a sua
evolução para um projeto federalista, com a consequente mudança de nome. Passou
a chamar-se MLGC.
O PAI
(depois PAIGC) nasceria de facto em Bissau, num fim de semana de setembro de
1959. Muitos dos seus elementos militavam, até então, no MLGC.
O PAI começou
por ser um partido de fundadores. Cabral acreditava na necessidade de criar uma
organização clandestina pequena e coesa, imune tanto quanto possível à admissão
de gente mal preparada e de possíveis traidores. O MGL não se extinguiu logo.
Foram militantes seus que facilitaram a instalação de Amílcar Cabral em
Conakry, em maio de 1960. Seguiu-se a criação da Frente de Libertação da Guiné
e Cabo Verde (FLGC), destinada a unificar os movimentos nacionalistas da Guiné.
A Frente constituiu um recurso temporário. Acabaria por ser dissolvida. O
objetivo de Cabral era a união dos revolucionários da Guiné e de Cabo Verde
numa única instituição com um programa claro, capaz de prosseguir melhor os
objetivos comuns.
Em
janeiro de 1960, Amílcar Cabral deixou Lisboa de vez. Encontrou-se em Paris com
Mário de Andrade, Viriato da Cruz e Marcelino dos Santos.
Ainda
nesse mês, participou na II Conferência dos Povos Africanos, em Tunes. Foi como
delegado do MAC, mas aproveitou a reunião com os outros delegados das colónias
portuguesas, entre os quais se contavam Holden Roberto (que nunca teve a
simpatia de Cabral), Lúcio Lara, Hugo Menezes e Viriato da Cruz, para fundar a Frente Revolucionária
Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas (FRAIN), que
substituía o MAC e dava voz, no estrangeiro, à luta dos povos sob o domínio de
Lisboa. Apareceram então, pela primeira vez, documentos com as siglas PAI e
MPLA. O protagonismo dos movimentos de independência nacional ia começar.
A
Conferência permitiu aos líderes nacionalistas de Angola e da Guiné conhecer
outros dirigentes africanos e contactar organizações internacionais associadas à
União Soviética, à China e aos EUA. Tornava-se claro que a libertação das
colónias ia depender essencialmente da diplomacia.
Em
Março do mesmo ano, na qualidade de presidente da FRAIN, Cabral fez a primeira
conferência pública de um dirigente revolucionário das colónias portuguesas.
Conheceu
então o escritor e jornalista inglês Basil Davidson que, juntamente João Carcíolo
Cabral, da Goan League, lhe facilitou a publicação da brochura Facts about
Colonialism. Cabral assumia-se como dirigente de um movimento nacionalista, mas
ainda assinava com um pseudónimo.
Em
abril, Maria Helena e a filha chegam a Paris. A família iria residir durante
vários meses em casa de Mário Pinto de Andrade. No entanto, a fase europeia da
vida de Amílcar Cabral estava a chegar ao fim. Para fazer uma revolução
africana, era preciso estar em África. Em maio, a direção do PAI instalou-se em
Conakry.
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