DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quarta-feira, 22 de maio de 2013


                  AMÍLCAR CABRAL

                                                                                              XXXIX                                  

             CLIVAGEM COM O PCP


                                                 Agostinho Neto

     Durante a campanha presidencial de 1949, houve muita gente que teve de se expor e deu nas vistas da PIDE. A repressão não tardou e atingiu duramente o PCP e os estudantes ligados ao MUD/ juvenil. A oposição à ditadura foi abalada e a luta antifascista amainou durante algum tempo. O MND foi a única organização progressista que se conseguiu manter alguma atividade.
    Os estudantes africanos ficaram desiludidos com a fragilidade da Esquerda portuguesa e procuraram outros caminhos. Contou Mário Pinto de Andrade: “era perigoso e não conduzia a grande coisa”. Aos poucos, os intelectuais negros foram-se desinteressando do combate comum contra o fascismo e optaram pela luta anticolonial.
A tendência centralista do PCP impedira-o de encorajar a criação de organismos africanos independentes. Em seu lugar, fora semeando células clandestinas nas colónias portuguesas. Ao mesmo tempo, procurara enquadrar os estudantes negros nas suas estruturas.
Quando, no final da década de 50, os jovens negros se começaram a afastar do PCP e do MUD/juvenil foram mal entendidos. Escreveu Lúcio Lara que nem sempre foi fácil fazer compreender aos amigos portugueses a necessidade de não se confundirem as respetivas lutas que, de resto, se complementavam.
    Amigos, amigos, estratégias à parte… Um grupo clandestino que integrava, entre outros, Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos, Mário de Andrade, Agostinho Neto, Noémia de Sousa e Alda Espírito Santo fundou em Lisboa, em 1951, o Centro de Estudos Africanos (CEA). Era a primeira instituição destinada unicamente a debater os problemas dos negros das colónias portuguesas. A iniciativa foi mal recebida pelos dirigentes comunistas. Houve quem a considerasse racista.
O divórcio entre o PCP e os jovens coloniais tornou-se público em Bucareste, no ano de 1953, durante o III Congresso da União Internacional de Estudantes. Agostinho Neto, Vasco Cabral e Marcelino dos Santos recusaram-se a desfilar ao lado dos estudantes portugueses e fizeram-no em representação dos respectivos países.
Não foi o CEA o único organismo de luta política dos estudantes africanos em Lisboa. O Clube Marítimo Africano foi fundado em Alcântara nos anos 40 e desempenhou um papel de certo relevo na alfabetização e na consciencialização política dos marinheiros que faziam carreiras regulares entre Angola e Lisboa. Escreveu mais tarde Amílcar Cabral: eu morei em Alcântara; ensinei alguns trabalhadores a ler e a escrever.
Quando muitos intelectuais negros trocaram Lisboa por Paris, o CEA esvaziou-se. A sua atividade cessou totalmente em 1954. Começava uma nova etapa da luta revolucionária. Foram fundados o Movimento de Libertação Nacional das Colónias Portuguesas (MLNCP) e, no ano seguinte, o Movimento Anticolonialista (MAC). Os jovens intelectuais de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau seguiam o exemplo dos seus colegas francófonos que tinham criado estruturas independentes do PCF.  

Sem comentários:

Enviar um comentário