AMÍLCAR CABRAL
XXXIX
CLIVAGEM COM O PCP
Agostinho Neto
Durante a campanha presidencial de 1949, houve
muita gente que teve de se expor e deu nas vistas da PIDE. A repressão não
tardou e atingiu duramente o PCP e os estudantes ligados ao MUD/ juvenil. A
oposição à ditadura foi abalada e a luta antifascista amainou durante algum
tempo. O MND foi a única organização progressista que se conseguiu manter alguma
atividade.
Os estudantes africanos ficaram
desiludidos com a fragilidade da Esquerda portuguesa e procuraram outros
caminhos. Contou Mário Pinto de Andrade: “era perigoso e não conduzia a grande
coisa”. Aos poucos, os intelectuais negros foram-se desinteressando do combate
comum contra o fascismo e optaram pela luta anticolonial.
A
tendência centralista do PCP impedira-o de encorajar a criação de organismos
africanos independentes. Em seu lugar, fora semeando células clandestinas nas
colónias portuguesas. Ao mesmo tempo, procurara enquadrar os estudantes negros
nas suas estruturas.
Quando,
no final da década de 50, os jovens negros se começaram a afastar do PCP e do
MUD/juvenil foram mal entendidos. Escreveu Lúcio Lara que nem sempre foi fácil
fazer compreender aos amigos portugueses a necessidade de não se confundirem as
respetivas lutas que, de resto, se complementavam.
Amigos, amigos, estratégias à parte… Um
grupo clandestino que integrava, entre outros, Amílcar Cabral, Marcelino dos
Santos, Mário de Andrade, Agostinho Neto, Noémia de Sousa e Alda Espírito Santo
fundou em Lisboa, em 1951, o Centro de Estudos Africanos (CEA). Era a primeira
instituição destinada unicamente a debater os problemas dos negros das colónias
portuguesas. A iniciativa foi mal recebida pelos dirigentes comunistas. Houve
quem a considerasse racista.
O
divórcio entre o PCP e os jovens coloniais tornou-se público em Bucareste, no
ano de 1953, durante o III Congresso da União Internacional de Estudantes. Agostinho
Neto, Vasco Cabral e Marcelino dos Santos recusaram-se a desfilar ao lado dos estudantes
portugueses e fizeram-no em representação dos respectivos países.
Não
foi o CEA o único organismo de luta política dos estudantes africanos em
Lisboa. O Clube Marítimo Africano foi fundado em Alcântara nos anos 40 e
desempenhou um papel de certo relevo na alfabetização e na consciencialização
política dos marinheiros que faziam carreiras regulares entre Angola e Lisboa. Escreveu
mais tarde Amílcar Cabral: eu morei em Alcântara; ensinei alguns trabalhadores a
ler e a escrever.
Quando
muitos intelectuais negros trocaram Lisboa por Paris, o CEA esvaziou-se. A sua atividade
cessou totalmente em 1954. Começava uma nova etapa da luta revolucionária. Foram
fundados o Movimento de Libertação Nacional das Colónias Portuguesas (MLNCP) e,
no ano seguinte, o Movimento Anticolonialista (MAC). Os jovens intelectuais de Angola,
Moçambique e Guiné-Bissau seguiam o exemplo dos seus colegas francófonos
que tinham criado estruturas independentes do PCF.
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